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sábado, 31 de maio de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
31/05/2014

FREIO NA ALTA DA SELIC
Pela primeira vez, desde abril de 2013, quando iniciou o novo processo de alta no juro básico (Selic), o Copom decidiu manter a taxa. Isso ocorreu em sua reunião deste final de maio/14 e a referida taxa ficou em 11% ao ano. Já é do conhecimento geral que, após tentar baixar os juros “no grito”, em 2012, sem os ajustes necessários na economia para que tal procedimento desse resultado palpável, o governo acabou causando um estímulo adicional ao consumo sem uma capacidade produtiva e de infraestrutura que pudesse responder ao mesmo. O resultado foi o recrudescimento da inflação. A mesma, desde então, não pára de subir na média, estando hoje projetada, pelo mercado, em 6,4% para o final deste ano. Ou seja, praticamente no teto da meta. Não podemos esquecer que o objetivo oficial era chegar ao centro da meta, isto é, 4,5% ao ano. Para os padrões atuais da economia mundial e brasileira, a derrapada de preços é considerável. Sem ter as condições, a capacidade e mesmo o desejo de realizar, no imediato, reformas estruturais que pudessem colaborar para estancar o processo inflacionário atual, o governo se viu obrigado a retroceder de sua política desenvolvimentista, com alto grau de intervencionismo na economia, e engrenar na prática monetarista.

FREIO NA ALTA DA SELIC (II)
Esse movimento se cristalizou com a retomada no aumento do juro básico, fato que fez a Selic sair de 7,25% em abril de 2013 para os atuais 11% desde abril de 2014. Com ela, os demais juros subiram rapidamente e até em proporção maior. Resultado: a economia, que já vinha com um crescimento pífio, viu piorar o seu quadro. Com o agravante que a geração de empregos se reduziu consideravelmente, assim como o próprio desemprego real se pôs a aumentar. Em época de eleições presidenciais, obviamente uma realidade indesejável para quem busca se reeleger. Na lógica monetária, o mais indicado seria aumentar novamente a Selic, provavelmente em mais 0,25 ponto percentual nesta reunião de maio. Afinal, a inflação de médio e longo prazo não dá sinais de redução. Especialmente se considerarmos os reajustes da energia elétrica e os futuros aumentos nos preços dos combustíveis. Todavia, como continuar aumentando os juros diante de uma projeção de crescimento do PIB de apenas 1,6% para 2014? Particularmente, após o Brasil assistir a um crescimento médio nestas dimensões desde 2009 (a exceção foi 2010, por motivos pontuais). Nesse contexto, o governo ficou em uma encruzilhada: manter o foco no combate à inflação, freando a economia via aumento do juro, por não ter feito antes os ajustes estruturais, ou dar um pequeno fôlego ao sistema produtivo, esperando não penalizar tanto o crescimento econômico e, com isso, impedir um desemprego maior às vésperas da eleição.

FREIO NA ALTA DA SELIC (III)

No curto prazo, a decisão foi pelo segundo caminho, embora a mesma não seja suficiente para reverter o quadro de baixo crescimento, pois tal quadro é de natureza estrutural e exige medidas duras de correção. Ao mesmo tempo, a própria declaração do Copom, ao anunciar a manutenção da taxa básica, ao final de sua reunião, informa que a decisão é “de momento”. Ou seja, não estamos diante de uma reversão de tendência dos juros nacionais e sim uma parada momentânea que não deverá durar muito tempo. Sobretudo porque, na vida das pessoas, a inflação elevada continua sendo pior do que um crescimento econômico baixo. Pelo sim ou pelo não, entretanto, uma coisa é certa: sem ajustes estruturais na economia e no funcionamento do Estado brasileiro, via reformas profundas, não conseguiremos crescer de forma sustentável sem gerarmos um processo inflacionário considerável.  

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Análise Semanal de Mercados da Soja, Milho e Trigo

(23/05/2014 a 29/05/2014)

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terça-feira, 27 de maio de 2014

O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO MUNDO (I)

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
29/05/2014

Quando o atual processo de globalização acelerou sua influência sobre a sociedade mundial, por volta de meados dos anos de 1980, muitos julgaram que o mesmo era uma conseqüência do capitalismo em sua forma neoliberal e precisava ser combatido. Especialmente porque gerava um potencial desemprego entre as nações e, portanto, um custo social importante. O primeiro engano deste raciocínio foi considerar que a globalização é dependente do capitalismo pura e simplesmente. Na verdade, o ser humano se globaliza pelo Planeta desde que nele passou a habitá-lo. O que muda é a velocidade desta globalização a partir da assimilação que a sociedade é capaz de fazer dos avanços tecnológicos que ela gera. Ou seja, a globalização avança em função dos ganhos tecnológicos que permitem ao ser humano, não somente se deslocar fisicamente, mas, em particular, realizar trocas comerciais, culturais e assim por diante. Em segundo lugar, e nesse contexto, segmentos do capitalismo e, em especial a economia de mercado e o setor financeiro, foram os que mais rapidamente perceberam as mudanças globais que atingem a humanidade nestas últimas décadas. E, por assim o fazerem, são os que melhor se prepararam para delas tirarem vantagens, muitas delas pouco favoráveis ao bem-estar social em geral, é verdade. Em terceiro lugar, por não entenderem que o processo mundial de globalização é histórico e irreversível, muitas nações não se organizaram para com ele conviver. Isso assinou seu atraso no cenário internacional, particularmente da economia. Obviamente se tornou mais fácil culpar o ambiente externo do que reconhecer o erro estratégico interno de percepção do mundo. Nessas condições, muito do desemprego existente foi debitado à globalização da economia, quando na verdade o deveria ser na falta de percepção dos governos e suas sociedades em torno das mudanças do mundo. E, devido a isso, não investiram o suficiente na educação e formação de seus cidadãos. E sem mão de obra qualificada, cai a produtividade do trabalho, cai a rentabilidade e a competitividade de uma nação. Daí para um crescente custo social que se cristaliza em eterno subdesenvolvimento é um passo. Desta forma, a evolução tecnológica, inerente à evolução da humanidade em seu ritmo globalizante, elimina postos de trabalho, é verdade, porém, cria outros tantos. Na próxima coluna veremos como isso ocorre e suas relações com a realidade brasileira.



sexta-feira, 23 de maio de 2014

PLANO SAFRA 2014: ALGUMAS CONSTATAÇÕES

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
CEEMA/DACEC/UNIJUI
27/05/2014


O governo brasileiro acaba de anunciar o chamado Plano Safra 2014/15. O mesmo destina R$ 156,1 bilhões ao setor primário em geral, sendo R$ 112 bilhões para custeio e R$ 44,1 bilhões para investimentos. No total, o aumento no volume de recursos, sobre o ano passado, é de 14,7%. Algumas constatações em torno do tema: 1) o setor primário brasileiro, desde que a modernização da agricultura se instalou no país, nos anos de 1950/60, sempre foi privilegiado pelos governos em relação aos demais setores da economia; 2) esse privilégio, que não é pecado, se deve ao reconhecimento de que o agronegócio é fundamental para o avanço econômico do Brasil, mesmo que certos discursos ideológicos confundam as coisas, por vezes propositalmente; 3) nos últimos 10 anos, o volume de recursos ao setor primário nacional, via Planos Safras, cresceu 295,7% (em 2004/05 ele era de R$ 39,45 bilhões). Não há setor na economia brasileira, salvo engano, que tenha ganhado tamanho apoio no mesmo período; 4) mesmo que a média de juros anual tenha passado para 6,5% (aumento de um ponto percentual sobre o ano anterior), o custo do dinheiro ao setor continua muito baixo, sendo constantemente subsidiado. Afinal, o juro de mercado às pessoas físicas no Brasil ultrapassa hoje 95% ao ano e para as empresas urbanas chega ao redor de 50% anuais; 5) este procedimento existe em diferentes países, porém, fragiliza a posição internacional brasileira no sentido de exigir retirada integral de subsídios agrícolas junto aos países desenvolvidos; 6) aliás, por ser um setor sensível às intempéries e ataque de doenças de toda ordem, é justo que o mesmo acabe tendo maior proteção, fato que ajuda explicar porque o mundo não retira os subsídios ao mesmo e jamais o retirará; 7) os produtores rurais naturalmente se preocupam com o aumento do juro agrícola anunciado, porém, o mesmo está dentro da nova lógica oficial que deve passar a comandar o país: torna-se urgente e improrrogável o ajuste das contas públicas. Enquanto o mesmo não é feito junto aos gastos de custeio do Estado, o governo trata de encontrar caminhos nos investimentos, penalizando o setor produtivo. Esta tendência de ajustes deverá continuar, qualquer que seja o governo eleito em outubro; 8) enfim, se houve um período recente de “vacas gordas” no setor primário nacional, o mesmo está terminando, assim como já acabou há algum tempo para o restante do país.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
24/05/2014

O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO MUNDO
Quando o atual processo de globalização acelerou sua influência sobre a sociedade mundial, por volta de meados dos anos de 1980, muitos julgaram que o mesmo era uma conseqüência do capitalismo em sua forma neoliberal e precisava ser combatido. Especialmente porque gerava um potencial desemprego entre as nações e, portanto, um custo social importante. O primeiro engano deste raciocínio foi considerar que a globalização é dependente do capitalismo pura e simplesmente. Na verdade, o ser humano se globaliza pelo Planeta desde que nele passou a habitá-lo. O que muda é a velocidade desta globalização a partir da assimilação que a sociedade é capaz de fazer dos avanços tecnológicos que ela gera. Ou seja, a globalização avança em função dos ganhos tecnológicos que permitem ao ser humano, não somente se deslocar fisicamente, mas, em particular, realizar trocas comerciais, culturais e assim por diante. Em segundo lugar, e nesse contexto, segmentos do capitalismo e, em especial a economia de mercado e o setor financeiro, foram os que mais rapidamente perceberam as mudanças globais que atingem a humanidade nestas últimas décadas. E, por assim o fazerem, são os que melhor se prepararam para delas tirarem vantagens, muitas delas pouco favoráveis ao bem-estar social em geral, é verdade. Em terceiro lugar, por não entenderem que o processo mundial de globalização é histórico e irreversível, muitas nações não se organizaram para com ele conviver. Isso assinou seu atraso no cenário internacional, particularmente da economia. Obviamente se tornou mais fácil culpar o ambiente externo do que reconhecer o erro estratégico interno de percepção do mundo.

O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO MUNDO (II)
Nessas condições, muito do desemprego existente foi debitado à globalização da economia, quando na verdade o deveria ser na falta de percepção dos governos e suas sociedades em torno das mudanças do mundo. E, devido a isso, não investiram o suficiente na educação e formação de seus cidadãos. E sem mão de obra qualificada, cai a produtividade do trabalho, cai a rentabilidade e a competitividade de uma nação. Daí para um crescente custo social que se cristaliza em eterno subdesenvolvimento é um passo. Desta forma, a evolução tecnológica, inerente à evolução da humanidade em seu ritmo globalizante, elimina postos de trabalho, é verdade, porém, cria outros tantos. Recente estudo divulgado por pesquisadores israelenses (cf. Nahum Sirotsky, ZH 12/05/2014, p.23) mostra que a eliminação e falta de postos de trabalho se dá pela velocidade das transformações tecnológicas que ocorrem no mundo (hoje, ter diploma de datilógrafo não serve mais para nada, por exemplo). Assim, mão de obra sem especialização está condenada a tentar sobreviver com salários insuficientes ou por meio de programas sociais dos governos, até o ponto em que os governos agüentem o custo de tal ação. Paradoxalmente, na medida em que cresce o desemprego nesta lógica, aumentam as ofertas de oportunidades de trabalho relacionadas às novas tecnologias. Isso exige que as pessoas estejam sempre estudando, atualizando seus conhecimentos.

O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO MUNDO (III)

Portanto, o desemprego existente hoje em grande parte dos países é de natureza estrutural, principalmente junto àqueles que pouco fazem pela educação de seus cidadãos, a não ser contar estatísticas. Quem não entender isso pouco dará de si para alterar o quadro, esperando que “caia do céu” a solução. Ora, as ofertas de trabalho que estão surgindo jamais serão semelhantes às que desapareceram. Desta forma, os empregos não estão no fim. O que está no fim são as sociedades que não compreendem as mudanças irreversíveis que o mundo vive e não se preparam para delas participarem. Torna-se urgente “conjugarmos no Brasil, por exemplo, a educação e formação do cidadão com as inovações e desenvolvimentos tecnológicos”. As portas para o desenvolvimento continuam existindo, porém, as nações somente passarão por elas se entenderem que “a fila anda”. Ou seja, o preço é alto para aqueles que ficam parados em um mundo dinâmico. O mesmo se chama exclusão do processo produtivo em termos individuais e marginalização nas relações socioeconômicas entre países. Nesse contexto, em que direção caminha o Brasil?

Análise Semanal de Mercados da Soja, Milho e Trigo

(16/05/2014 a 22/05/2014)

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quarta-feira, 21 de maio de 2014

A GLOBALIZAÇÃO NÃO É UMA OPÇÃO

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
22/05/2014

Em 2001 escrevi um livro em que destacava que o processo de globalização da economia mundial gerava transformações irreversíveis. Agora, uma interessante obra, escrita pelo ex-ministro Hubert Védrine, do ex-governo socialista francês François Miterrand, chama a atenção para o mesmo fato (cf. Le Monde, 12/04/2014). Analisando a França ao mesmo tempo analisa intrinsecamente a maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil. Países que possuem déficit comercial constante, finanças públicas em déficit crônico, dívida pública elevada em relação ao PIB, despesas públicas igualmente muito elevadas em relação ao mesmo PIB, impostos em demasia e crescendo, taxa de desemprego real importante, e custo do trabalho superior à sua produtividade perdem competitividade no cenário mundial. A intervenção do Estado na distribuição da renda, via programas sociais, embora importante e necessária, quando feita sem cuidados, transforma o país em uma região de baixa competitividade. E mais, em assim fazendo, o país não conseguirá, por muito tempo, financiar tais transferências de renda, retrocedendo socialmente. Para manter o Estado do Bem-Estar Social ou algo semelhante é necessário que as empresas e o Estado se tornem competitivos. Para tanto, reformas profundas na economia e na ação estatal se fazem prioritárias. Os países que entenderam que a globalização é irreversível já fizeram tais reformas e avançam, mesmo em meio às crises cíclicas da economia. Esses países se prepararam para a concorrência aguda que se tornou a economia globalizada. Por que outros países assim não o fizeram? Geralmente porque parte de suas lideranças se nega a entender que o mundo mudou nas últimas décadas. Muitos se limitam a julgar que reformar o Estado (inclusive o do Bem-Estar Social), para diminuir o custo do trabalho, é se submeter ao modelo econômico capitalista. Ao assim fazerem se deixam cegar pela ideologia, não percebendo que tantos outros buscaram, em primeiro lugar, adaptar suas economias às condições de criação de riqueza no mundo do século XXI. Eles o fizeram por realismo, não por sujeição a esse ou aquele modelo econômico. O fizeram para poder participar de um ambiente que hoje chamamos de globalização da economia. Acreditar que resistindo à mesma teremos sucesso é a maior das utopias. Ora, a globalização é o ambiente em que se vive e não uma opção. E ela está em constante mutação, levada pelos avanços tecnológicos e pela dinâmica da própria economia. Imaginar que esse mundo econômico vai desaparecer é quimera, é pensamento mágico que não leva a nada. O destino de países como o Brasil, nesse contexto, é a economia global, de mercado competitivo. Nos últimos 20 anos fizemos a primeira parte do desafio, que foi estabilizar a economia. Todavia, continua a nos faltar a realização da segunda parte, que compreende as reformas estruturais do Estado e do funcionamento desta economia, para que se garantam os avanços sociais de forma sustentável sem perdermos a competitividade produtiva.

sábado, 17 de maio de 2014

Análise Semanal de Mercados da Soja, Milho e Trigo

(09/05/2014 a 15/05/2014)

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TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
17/05/2014

ECONOMIA: DO SONHO AO PESADELO
Enquanto o governo, na pessoa do Ministro da Fazenda e mesmo da presidente da República, se esforça para tentar passar uma mensagem de otimismo sobre a economia brasileira, as notícias que nos chegam semanalmente são preocupantes. Pelo lado do crescimento econômico nada indica um resultado melhor do que o pífio 1,5% a 2% que o mercado já espera. A inflação, mesmo arrefecendo em abril, bate em 6,28% em 12 meses, pelo índice oficial, se aproximando do indesejável teto da meta (6,5% ao ano). Entretanto, a inflação real continua muito superior a esse percentual. Na maior parte dos casos, bem acima dos 10%. O desemprego cresce, mesmo com o governo tentando maquiar dados ou impedir que os mesmos sejam divulgados. Segundo o DIEESE a taxa atual, apenas em seis regiões metropolitanas do país, batia em 11% em abril passado. Pior, segundo a última pesquisa ampliada do IBGE, antes de ser “proibida”, 6 milhões de brasileiros não encontram emprego e outros 62 milhões (39% das pessoas em idade de trabalhar) nem procuram emprego. Ora, segundo a metodologia oficial, quem não procura emprego não é considerado desempregado no Brasil. Quantos desses não o procuram porque já cansaram de não encontrá-lo ou estão despreparados profissionalmente? Ou seja, nunca tivemos pleno emprego, como cansamos de alertar, como também nem perto chegamos disso. Por outro lado, enquanto o governo, alarmado pela queda no PIB nos últimos quatro anos, se esforça para construir mais um pacote de apoio à indústria automobilística, usando o consumidor como instrumento, o endividamento das famílias brasileiras aumenta, com cerca de 63% das mesmas acusando estarem em tal situação neste início de maio de 2014. Pior, 21% se declaram inadimplentes!

ECONOMIA: DO SONHO AO PESADELO (II)
Tal realidade explica muito o porquê de a poupança acusar perdas em abril. A captação líquida deste instrumento popular fechou negativa em R$ 412,5 milhões no mês passado, algo que não acontecia desde fevereiro de 2012. No acumulado de 12 meses o saldo negativo está em R$ 1,3 bilhão. E mais, nos primeiros quatro meses deste ano a captação líquida alcançou R$ 4,1 bilhões, contra R$ 13,1 bilhões em igual período de 2013. Um recuo de quase 70%! Ou seja, a população brasileira está ficando sem renda, não tendo muito que poupar, e mesmo consumindo o que já poupou, diante do endividamento e das altas dos preços. Paralelamente, as contas públicas apresentam um rombo cada vez maior. Enquanto a dívida interna bruta atinge a R$ 2,2 trilhões ou cerca de 60% do PIB, o país apresentou mais um déficit em sua balança de transações correntes no primeiro trimestre deste ano (US$ 25,2 bilhões), com o mesmo se constituindo no maior desde 1970. No acumulado dos últimos 12 meses, até março/14, o saldo é negativo em US$ 81,6 bilhões ou 3,6% do PIB. Um recorde histórico e assustador. Enquanto isso o governo continua gastando mais do que arrecada, ampliando gastos com a máquina pública e benesses sociais pontuais. Ao mesmo tempo tentando justificar os gravíssimos erros de gestão, como a compra da refinaria de petróleo nos EUA e outras ações injustificáveis.

ECONOMIA: DO SONHO AO PESADELO (III)
Para compensar, procura arrecadar cada vez mais, seja por maior controle seja pelo aumento dos impostos (a bola da vez, agora adiada para setembro, é o setor de bebidas). Mas igualmente arrecada pela não correção da tabela do Imposto de Renda, ao anunciar um ajuste de apenas 4,5% na mesma, contra uma inflação oficial de 5,91% no ano passado. A defasagem, desde 1995, já supera os 60%. Aqui no Rio Grande do Sul, após a populista retirada dos pedágios nas estradas estaduais e federais, o governo gaúcho implantou o pedágio público nas estradas estaduais. A ineficiência pública de tal medida é notória, a ponto de a empresa estatal EGR ter arrecadado no ano passado R$ 89,5 milhões, porém, somente de impostos e contribuições pagou 24,5% desse total (R$ 21,9 milhões) enquanto em investimentos nas melhorias das rodovias pedagiadas aplicou apenas R$ 10,5 milhões. Pior, o balanço de 2013 mostra que a EGR depositou R$ 41,8 milhões no caixa único do Estado, conta que serve em grande parte para pagar a folha do funcionalismo público estadual, além de outras despesas diversas, itens sem nenhuma relação com a conservação das estradas, sua finalidade. Uma violação à lei de criação da própria EGR. E poderíamos enumerar outras tantas pirotecnias econômicas oficiais se houvesse espaço nesta coluna. E tudo isso apenas nesses últimos 30 dias! É preciso urgentemente que os brasileiros acordem, pois a pirotecnia econômica suicida dos últimos anos já transformou o sonho em um terrível pesadelo.


terça-feira, 13 de maio de 2014

O PROBLEMA CENTRAL: A POLÍTICA FISCAL (Final)

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
15/05/2014


Dentre os motivos que levam a um urgente ajuste fiscal encontram-se as desonerações que o governo deu a alguns setores produtivos nacionais, visando manter a economia aquecida. Tais desonerações superam a R$ 80 bilhões e foram mal feitas, pois não tiveram, como contrapartida, a redução do gasto público. O grande erro oficial foi diagnosticar que a desaceleração econômica era fruto basicamente da crise externa, quando fundamentalmente a mesma é de fundo estrutural da própria economia brasileira. A crise externa apenas potencializou o problema interno! Com isso, a renúncia fiscal, feita no atual governo, só piorou a situação do país, porque piorou a política fiscal, desorganizou a política macroeconômica, aumentou o risco-país, sem ter um impacto sobre o crescimento econômico. Assim, a renúncia fiscal deixa uma conta bilionária para 2015, com muito poucos benefícios. O resultado de tudo isso será um ajuste fiscal imenso e dolorido socialmente, onde a elevação dos juros será a tônica, com uma redução da renda real. Na esteira disso haverá piora no desemprego. O tamanho do choque vai depender de como o ajuste será feito em 2015. O que é uma certeza se encontra no fato de que “sem mudanças na base da política fiscal, o país não vai alcançar um crescimento sustentável”. O modelo a ser adotado, então, passa pela redução nos custos do Estado, chegando às políticas tidas como direitos incontestáveis pelos brasileiros. Esse é o tamanho do estrago que se fez na economia brasileira nos últimos tempos. A questão vai além dos prejuízos causados pela corrupção e a má gestão pública. Ela atinge inclusive os programas de transferência de renda, como bolsa família e minha casa minha vida, e também a previdência. Por sua vez, há muitos programas sociais (abono salarial, seguro-desemprego....) que pouco impacto causam na redução da pobreza nacional, porém, provocam um enorme gasto público. Nesse sentido, o Brasil terá que construir uma política salarial que leve em conta a produtividade do trabalho, pois não há como continuar a aumentar a despesa com uma economia que cresce metade do que crescia nos 10 anos anteriores ao atual governo. Enfim, não é possível continuar a gastar 1/3 da elevada carga tributária (36% do PIB) para pagar aposentadorias e pensões, sendo que boa parte nem está sendo pago para pessoas de fato idosas. Portanto, torna-se urgente que o país faça poupança nos próximos 10 anos, através de reformas estruturais profundas. Afinal, não há setor na economia que agüenta sustentar poupança baixa para que as pessoas se aposentem mais cedo e se pratique todos os benefícios sociais criados. Se os brasileiros optarem por assim continuar, somente sobreviverá o setor que tiver altíssima vantagem comparativa, o que não é o caso da maioria, a começar pela nossa indústria. (cf. Conjuntura Econômica, FGV, abril/2014) 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

ANÁLISE DO DÓLAR

O DÓLAR NO MÊS DE ABRIL
O câmbio iniciou o mês de abril cotado a R$ 2,26, apresentando uma leve desvalorização do Real no terceiro dia do mês quando alcançou R$ 2,28. A partir de então se iniciou um período de revalorização da moeda brasileira, o qual se estendeu até o dia 08/04, quando nosso câmbio ficou em R$ 2,19 por dólar. Esse comportamento foi parcialmente revertido na semana seguinte, com a moeda brasileira voltando a R$ 2,24 por dólar no dia 17/04. A partir daí o mercado se estabilizou, com o mês de abril fechando em R$ 2,23 por dólar. Mesmo com a decisão do FED (EUA) de reduzir para US$ 45 bilhões mensais os estímulos à economia (ocorrida no final do mês), pesou mais sobre o mercado a maior entrada de dólares no país puxada pela alta do juro básico (a Selic foi elevada para 11% ao ano em abril). Diante disso, o Banco Central brasileiro acabou realizando menos intervenção no mercado cambial através dos contratos de swap. Por outro lado, a maior entrada de dólares no Brasil em certos momentos de Brasil se deu na esteira do anúncio de perda de popularidade por parte da presidente Dilma nas pesquisas de opinião. Um claro sinal de que o mercado financeiro se posiciona contra a reeleição da atual presidente. Ou seja, o mercado não aprova o intervencionismo estatal na economia, o qual ficou bem mais evidente no governo Dilma. A maior entrada de dólares no país igualmente se refletiu em aumento do índice Bovespa durante o mês de abril. Nesse contexto, não chegou a influenciar muito o mercado o desaquecimento da economia chinesa, tendo como uma das consequências a devolução de cargas de soja para o Brasil e os EUA por parte do país asiático. Colaborou um pouco com a estabilização cambial o pequeno superávit comercial (US$ 506 milhões) obtido em abril, embora o déficit acumulado nos primeiros quatro meses do ano ainda some US$ 5,57 bilhões. Em síntese, o mês de abril foi de poucas oscilações no mercado cambial brasileiro, com o mesmo ficando na observação, para usar um jargão conhecido no meio, na expectativa da entrada de mais dólares com a proximidade da Copa do Mundo e com a evolução das pesquisas de opinião em relação às eleições presidenciais de outubro no Brasil. Entretanto, vale destacar que os fundamentos da economia nacional continuam muito ruins e sem perspectiva de melhora nos próximos meses.


Guilherme Gadonski de Lima - Graduando em Ciências Econômicas pela Unijuí, bolsista PET-Economia 
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(PET/CEEMA/DACEC/UNIJUI)

Análise Semanal de Mercados da Soja, Milho e Trigo

(02/05/2014 a 08/05/2014)

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quarta-feira, 7 de maio de 2014

O PROBLEMA CENTRAL: A POLÍTICA FISCAL (I)

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
08/05/2014


O problema central da economia brasileira, que impede de a mesma gerar um crescimento adequado, está na política fiscal. E esse é um problema estrutural, que leva alguns anos para ser resolvido. Porém, se o país iniciar as correções já em 2015, de forma profunda e transparente, há condições de colocar novamente a economia nacional no caminho certo. Entretanto, como se sabe, tais ajustes passam também pela redução dos gastos sociais. Uma questão sensível que esbarra no campo político. Isso porque o governo, a cada ano, aumenta seus gastos, demonstrando que apenas a contenção de despesas públicas já não é mais a solução para o grave problema que temos. O mercado sabe disso há tempos e, preocupado com os rumos tomados pela condução da política fiscal nacional, já deu diversos recados. O último em data foi o rebaixamento da nota de crédito pela agência de risco Standard & Poor’s. Outro sinal vem dos títulos do Tesouro, os quais nos últimos dois anos tiveram praticamente dobrada a taxa de juros reais para poderem ser comercializados pelo país, visando a rolagem da dívida pública (hoje eles pagam IPCA + 6,9). Enquanto isso, embora a dívida líquida esteja em 33,8% (2013) do PIB, a dívida bruta cresce constantemente, batendo ao redor de 60% do PIB neste momento. Além disso, 25% dos títulos que compõem tal dívida vencem neste ano de 2014, num total de R$ 494 bilhões (cerca de dois terços indexados na Selic que, ao subir, torna seu resgate ainda mais caro). Por sua vez, o governo, ao adotar a contabilidade criativa (maquiagem) sobre os dados econômicos, apenas gerou mais desconfiança junto ao mercado, pois comprovou que não está conseguindo gerar o superávit primário necessário para o pagamento de tal dívida. O ajuste, portanto, passa igualmente pela maior geração de superávit primário (para 2014 espera-se 1,9% do PIB, o que é insuficiente). Isso exige redução da participação do BNDES no fomento da economia (hoje está emprestando cerca de 8% do PIB, aumentando a dívida bruta), além de cortes nos subsídios dados aos bancos públicos (algo que o governo anunciou já praticar em 2014). Uma correção que deverá durar anos até oferecer resultados palpáveis. Enfim, as desonerações tributárias dadas pelo governo, para aumentar o consumo, devem ser eliminadas, a começar pela conta da energia elétrica. Mesmo porque foram mal feitas e pouco resultado trouxeram já que não foram acompanhadas pela redução dos gastos públicos. Isso gerou uma perda de receita que pesou no déficit fiscal, como veremos no próximo comentário. (cf. Conjuntura Econômica, FGV, abril/2014) 

sábado, 3 de maio de 2014

Análise Semanal de Mercados da Soja, Milho e Trigo

(25/04/2014 a 01/05/2014)

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sexta-feira, 2 de maio de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
03/05/2014

ENERGIA: MÁ GESTÃO PÚBLICA CUSTA CARO
No início de 2013, pressionado pela situação da Petrobrás, que acusava constantes déficits financeiros em função de estar sendo usada para subsidiar os preços dos combustíveis na esteira da crise mundial de 2007/08 (para evitar uma pressão inflacionária maior, o governo, particularmente a partir de 2010 – ano de eleições presidenciais -, forçou a Petrobrás a vender gasolina e diesel abaixo do preço equivalente ao custo de suas compras externas de petróleo e derivados), o governo se viu obrigado a adequar parcialmente a defasagem entre os preços internos e os custos de importação dos combustíveis. Tal adequação se deu pelo aumento no preço interno da gasolina e do diesel. Mesmo sendo insuficiente, a mesma resultaria em pressão inflacionária indesejável. Para compensar tal situação, o governo decidiu reduzir o custo da energia elétrica para os consumidores. Para tanto, criou um novo problema, desta vez com as distribuidoras de energia que, impossibilitadas de aumentar os preços do insumo, ameaçaram reduzir os investimentos no setor, indicando mesmo um colapso na oferta de energia. Isso levou o governo a usar o Tesouro Nacional para compensar as distribuidoras, aumentando o déficit público. Na prática, o governo Dilma passou a realizar a mesma temerária e incompetente gestão no setor da energia elétrica que vinha sendo executada no setor dos combustíveis. Ou seja, não aumentar os preços do insumo, empurrando “de barriga” o problema para mais adiante. Na economia é sabido que a protelação de ajustes de preços somente piora o problema no futuro. No caso da energia elétrica, a realidade ficou ainda mais complexa com a necessidade de colocar em funcionamento as termelétricas (muito mais caras e poluentes) diante da redução do regime de chuvas junto aos principais reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Nordeste do país a partir do verão 2013/14.

ENERGIA: MÁ GESTÃO PÚBLICA CUSTA CARO (II)
Assim, em pouco tempo o artificialismo na redução dos preços da energia elétrica dá lugar a uma dura realidade. Ou seja, as distribuidoras de energia continuam precisando de financiamento público para reduzirem seu prejuízo pela falta de reajuste no preço da energia elétrica, enquanto a geração desta energia se torna escassa, com risco de apagões, além de mais cara. O resultado disso tudo é que a Aneel (agência reguladora nacional do setor energético brasileiro) se viu obrigada, neste primeiro semestre de 2014, a autorizar aumentos estratosféricos às distribuidoras de energia. Os mesmos são da ordem de 30% a 35% anuais. Até o final do ano todas as distribuidoras acabarão sendo contempladas com reajustes semelhantes. Ou seja, o represamento político dos preços da energia elétrica, feito no início de 2013, ajudou no curtíssimo prazo a sociedade, porém, além de causar um aumento no consumo da mesma, apenas protelou os ajustes necessários para que o setor funcione minimamente já que faltam investimentos em infraestrutura para que se possa dar conta da crescente demanda nacional. E o pior é que novos aumentos deverão ocorrer em 2015. O próprio governo já acena com a necessidade de reajustar a energia elétrica em pelo menos 19%, em média, no próximo ano, mesmo que as chuvas retornem e a geração da mesma se normalize. Estamos, portanto, diante de um evidente recrudescimento anunciado da inflação nos meses futuros (trata-se aqui da inflação real, aquela que bate no bolso dos brasileiros diariamente).

ENERGIA: MÁ GESTÃO PÚBLICA CUSTA CARO (III)
Para completar o quadro da incompetência gerencial do governo nestes últimos anos, os combustíveis igualmente terão que seguir na mesma linha sob pena de a Petrobrás se “inviabilizar” definitivamente. Técnicos da área dão conta de uma defasagem ao redor de 23% nos preços atuais dos combustíveis. Ou seja, teremos aí mais um enorme fator de pressão sobre os preços em 2015 (antes das eleições, em função do casuísmo político de praxe, dificilmente algo será feito). O que chama a atenção é que tal situação era óbvia e o governo, mesmo assim, preferiu seguir adiante. Agora, feito o estrago, os brasileiros são convidados a pagar a conta. E, nestes casos, assim como na iniciativa privada, quanto mais tempo durarem as ações incompetentes de gestão, maior será o custo social para sua correção. Como já alertamos no ano passado, 2014 está sendo pior do que 2013, porém, ainda será melhor do que 2015. É o custo de um intervencionismo estatal na economia que, infelizmente, o atual governo privilegiou, sem ter as condições estruturais produtivas e muito menos a competência administrativa para tanto.    


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