Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
17/05/2014
ECONOMIA: DO SONHO AO PESADELO
Enquanto o governo, na pessoa do Ministro da Fazenda e mesmo da
presidente da República, se esforça para tentar passar uma mensagem de otimismo
sobre a economia brasileira, as notícias que nos chegam semanalmente são
preocupantes. Pelo lado do crescimento econômico nada indica um resultado
melhor do que o pífio 1,5% a 2% que o mercado já espera. A inflação, mesmo
arrefecendo em abril, bate em 6,28% em 12 meses, pelo índice oficial, se
aproximando do indesejável teto da meta (6,5% ao ano). Entretanto, a inflação
real continua muito superior a esse percentual. Na maior parte dos casos, bem
acima dos 10%. O desemprego cresce, mesmo com o governo tentando maquiar dados
ou impedir que os mesmos sejam divulgados. Segundo o DIEESE a taxa atual,
apenas em seis regiões metropolitanas do país, batia em 11% em abril passado.
Pior, segundo a última pesquisa ampliada do IBGE, antes de ser “proibida”, 6
milhões de brasileiros não encontram emprego e outros 62 milhões (39% das
pessoas em idade de trabalhar) nem procuram emprego. Ora, segundo a metodologia
oficial, quem não procura emprego não é considerado desempregado no Brasil.
Quantos desses não o procuram porque já cansaram de não encontrá-lo ou estão
despreparados profissionalmente? Ou seja, nunca tivemos pleno emprego, como
cansamos de alertar, como também nem perto chegamos disso. Por outro lado,
enquanto o governo, alarmado pela queda no PIB nos últimos quatro anos, se
esforça para construir mais um pacote de apoio à indústria automobilística,
usando o consumidor como instrumento, o endividamento das famílias brasileiras aumenta,
com cerca de 63% das mesmas acusando estarem em tal situação neste início de maio
de 2014. Pior, 21% se declaram inadimplentes!
ECONOMIA: DO SONHO AO PESADELO
(II)
Tal realidade explica muito o porquê de a poupança acusar perdas em abril. A captação líquida
deste instrumento popular fechou negativa em R$ 412,5 milhões no mês passado,
algo que não acontecia desde fevereiro de 2012. No acumulado de 12 meses o
saldo negativo está em R$ 1,3 bilhão. E mais, nos primeiros quatro meses deste
ano a captação líquida alcançou R$ 4,1 bilhões, contra R$ 13,1 bilhões em igual
período de 2013. Um recuo de quase 70%! Ou seja, a população brasileira está
ficando sem renda, não tendo muito que poupar, e mesmo consumindo o que já
poupou, diante do endividamento e das altas dos preços. Paralelamente, as
contas públicas apresentam um rombo cada vez maior. Enquanto a dívida interna
bruta atinge a R$ 2,2 trilhões ou cerca de 60% do PIB, o país apresentou mais
um déficit em sua balança de transações correntes no primeiro trimestre deste
ano (US$ 25,2 bilhões), com o mesmo se constituindo no maior desde 1970. No
acumulado dos últimos 12 meses, até março/14, o saldo é negativo em US$ 81,6
bilhões ou 3,6% do PIB. Um recorde histórico e assustador. Enquanto isso o
governo continua gastando mais do que arrecada, ampliando gastos com a máquina
pública e benesses sociais pontuais. Ao mesmo tempo tentando justificar os
gravíssimos erros de gestão, como a compra da refinaria de petróleo nos EUA e
outras ações injustificáveis.
ECONOMIA: DO SONHO AO PESADELO
(III)
Para compensar, procura arrecadar cada vez mais, seja por maior controle
seja pelo aumento dos impostos (a bola da vez, agora adiada para setembro, é o
setor de bebidas). Mas igualmente arrecada pela não correção da tabela do
Imposto de Renda, ao anunciar um ajuste de apenas 4,5% na mesma, contra uma
inflação oficial de 5,91% no ano passado. A defasagem, desde 1995, já supera os
60%. Aqui no Rio Grande do Sul, após a populista retirada dos pedágios nas
estradas estaduais e federais, o governo gaúcho implantou o pedágio público nas
estradas estaduais. A ineficiência pública de tal medida é notória, a ponto de
a empresa estatal EGR ter arrecadado no ano passado R$ 89,5 milhões, porém,
somente de impostos e contribuições pagou 24,5% desse total (R$ 21,9 milhões) enquanto
em investimentos nas melhorias das rodovias pedagiadas aplicou apenas R$ 10,5
milhões. Pior, o balanço de 2013 mostra que a EGR depositou R$ 41,8 milhões no
caixa único do Estado, conta que serve em grande parte para pagar a folha do
funcionalismo público estadual, além de outras despesas diversas, itens sem
nenhuma relação com a conservação das estradas, sua finalidade. Uma violação à
lei de criação da própria EGR. E poderíamos enumerar outras tantas pirotecnias
econômicas oficiais se houvesse espaço nesta coluna. E tudo isso apenas nesses
últimos 30 dias! É preciso urgentemente que os brasileiros acordem, pois a
pirotecnia econômica suicida dos últimos anos já transformou o sonho em um
terrível pesadelo.