Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
04/12/2014
Confirmando
as projeções feitas, o segundo mandato da presidente Dilma deverá ser de aperto
de cinto na economia em geral e nos gastos públicos em particular. Pressionada
pelo resultado das eleições e, particularmente, pelos péssimos números da
economia neste final de 2014,
a presidente opta pelo lógico. Assim, a troika econômica
que se apresentou ao Brasil no final de novembro (Ministro da Fazenda, Ministro
do Planejamento e Presidente do Banco Central) já deu o tom do que virá. Em
primeiro lugar, se cristalizou o fracasso da política desenvolvimentista posta
em prática nos últimos cinco anos. Em segundo lugar, o que está sendo anunciado
é praticamente o programa do candidato derrotado nas últimas eleições
presidenciais, desdizendo o discurso eleitoral de quem acabou se elegendo. Em
terceiro lugar, volta-se à velha política monetarista para colocar a economia
nos trilhos e dar ao Brasil um horizonte de real crescimento econômico. Em
quarto lugar, o centro das ações será recuperar o tripé de sustentação da
estabilidade. Para tanto, anuncia-se um superávit primário de 1,2% do PIB para
2015, após o déficit primário que se desenha em 2014. Portanto, haverá cortes
nos gastos públicos, inclusive em rubricas como o abono salarial, seguro
desemprego e previdência. Ao mesmo tempo, se aumentará impostos para buscar
mais arrecadação pública (o retorno da CIDE, conhecida como imposto do
combustível, entra nesse contexto), enquanto não se terá mais apoio ao consumo
via redução de IPI e outros artifícios. Ao mesmo tempo, o governo irá trabalhar
para trazer a inflação para o centro da meta (4,5% ao ano, pelo IPCA), fato que
somente será possível, no curto prazo, com novos aumentos dos juros. Assim, não
deve ser surpresa se a Selic terminar o corrente ano entre 11,5% e 11,75%. Para
o final de 2015 a
mesma deverá chegar entre 12,5% e 13,5%, podendo alçar vôo para 14% nos dois
anos seguintes. Enfim, o câmbio deverá flutuar mais, com menor ação do Banco
Central brasileiro neste mercado. Espera-se que o encaminhamento das medidas
acima segure a moeda nacional entre R$ 2,50 e R$ 2,60 até o final de 2015. Por
outro lado, não deverá mais haver maquiagem dos dados oficiais, fato que
permite esperar que o mercado internacional não baixe mais a nota de crédito
brasileira no próximo ano, o que seria o complemento do desastre da política
econômica levada à cabo nos últimos anos. Como resultado disso tudo, a economia
ainda crescerá muito pouco em 2015 (1% na projeção otimista), o emprego ficará
mais comprometido, porém, o país poderá iniciar um novo processo de recuperação
econômica sem hipotecar as principais políticas sociais. Espera-se, agora, que
não haja retrocessos neste encaminhamento, mesmo sabendo-se que, no imediato,
como sempre ocorre nesses casos, caberá à sociedade brasileira pagar a conta. O
remédio será amargo, porém, tem boas chances de ser eficaz.