Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
23/07/2015
Para
não atingirmos o estágio de crise em que a Grécia chegou, o Brasil precisa
aprofundar e acelerar o ajuste fiscal e as reformas estruturais. Se falharmos,
a crise só irá piorar. Afinal, como honestamente um aposentado grego afirmou:
“... os servidores públicos (na Grécia) costumam receber acima da média da
população. Muitos receberam cedo a aposentadoria e trabalharam pouco. Eu, por
exemplo, estou aposentado há 29 anos, porém, trabalhei apenas cinco anos, se
tanto. Ou seja, não fizemos as reformas necessárias.” (cf. George Moratis, ZH
08/07/2015, p.12). No Brasil a realidade não é muito diferente no setor
público. Altos salários e privilégios, a partir de direitos adquiridos
inconseqüentes, colocam a economia do país de joelhos, diante de um Estado perdulário
e ineficiente em suas atribuições. Hoje, enquanto a economia brasileira caminha
para fechar o ano com um PIB negativo entre 1,5% a 2%, o Estado arrecada, por
esse motivo, cada vez menos (junho resultou na pior arrecadação para esse mês
desde 2010), enquanto os diferentes poderes relutam em cortar suas despesas. A
conta continua não fechando! Devido a isso, a confiança do empresariado
nacional e estrangeiro, que gera empregos, atinge o pior nível em 16 anos no
país, justamente porque não se observa grandes avanços no ajuste fiscal e nas
reformas estruturais necessárias. E o pessimismo do empresariado aumenta no
horizonte dos próximos seis a 12 meses, indicando que 2016 possa ser pior que
2015. Isso, diante de um mercado onde a inadimplência do consumidor cresce
assustadoramente (40% da população brasileira entre 18 e 95 anos está
inadimplente neste momento, segundo o SPC Brasil), derruba as vendas
radicalmente. Nesse contexto, e com exportações limitadas pela falta de
competitividade, o desemprego se tornou uma triste realidade. O mês de junho
foi o pior desde 1992 (início da série histórica), com 111.200 vagas
eliminadas. E não há nenhum sinal de melhoria no médio prazo.
Contraditoriamente, a chamada ala política do governo federal passou a defender
uma redução imediata da meta fiscal, hoje em 1,1% do PIB para 2015. A proposta é
reduzi-la para algo entre 0,4% e 0,6% do PIB. Ora, o Brasil afundou na atual
crise, dentre outras coisas, justamente por não realizar o ajuste fiscal
necessário, maquiando dados contábeis numa demonstração atroz de amadorismo na
gestão pública. É a velha receita de atacar a febre e não a doença que a está
gerando e consumindo o paciente. Diante disso, o ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, que resiste a esta ala irresponsável (a mesma defende menor meta fiscal
visando gastar mais), está com toda a razão ao afirmar que a fraqueza da
economia se situa hoje nas incertezas e indefinições apresentadas pelo governo
quanto a fazer um ajuste completo e profundo em suas contas. Ora, foi justamente
porque gastamos muito e mal, alimentando promessas populistas sem base
econômica, é que chegamos ao atual estado de coisas. Reduzir a meta fiscal é
avançarmos nessa direção, afundando ainda mais o país.