Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
16/07/2015
Não
é de hoje que se sabia que a economia chinesa, em alguns aspectos, igualmente
era sustentada por bolhas econômico-financeiras. Assim como ocorreu com a
Bovespa brasileira, que em 2007 chegou a apresentar um rendimento ao redor de
100% em boa parte das ações ali negociadas, quando o crescimento da produção
real brasileira (PIB) foi de 6,1% naquele ano, a Bolsa de Xangai, na China,
registrou um ganho de 150% nos 12 meses encerrados em 12 de junho de 2015,
diante de um PIB anual de 7%. Assim como no Brasil (e em outras partes do mundo
no transcorrer da história), onde a bolha especulativa bursátil estourou em
2008 e, desde então, o Ibovespa jamais alcançou a sua pontuação recorde de
maio/08, estando hoje 27,7% abaixo do mesmo, também na China a bolha bursátil
acaba de estourar (o índice local perdeu 32% entre meados de junho e meados de
julho), provocando tremores na economia real mundial. Afinal, trata-se da
segunda maior economia do mundo na atualidade. Já em 2010, ao alertarmos para
novas bolhas especulativas que surgiam, citávamos justamente a China através de
um exemplo prosaico, porém, de sérias conseqüências. Grande parte dos criadores
de suínos daquele país, naquela oportunidade, estava comprando contratos
futuros de cobre, pois consideravam mais rentável utilizar os empréstimos
generosos dados pelos bancos para comprar contratos futuros de metais na Bolsa
de Xangai, ao invés de modernizarem suas pocilgas e investirem na produção.
Movimentos como esse caracterizam um forte aumento do valor de um ativo, sem
relação com o jogo normal de oferta e demanda. Eles são causados por
investidores que antecipam uma alta e compram massiçamente contratos dos
produtos em Bolsa com a esperança de revendê-los mais caros. Sob esse empuxe, o
enriquecimento se realiza e atrai novos especuladores, e assim por diante. Esta
espiral sempre termina mal. Aconteceu em 1929 nos EUA, no Brasil em 2007/08, no
setor imobiliário estadunidense nesta mesma época, e agora na China, para
citarmos alguns casos. Apesar da reação do governo chinês, existem grandes
dúvidas sobre o tamanho do problema que os chineses têm em mãos. Na economia real, o
efeito foi imediato, com os produtos importados pela China perdendo valor. No
espaço de uma semana o minério de ferro viu sua tonelada perder 12% de seu
valor no mercado mundial. A soja, outra commodity que o Brasil exporta muito
para a China, ainda está sendo poupada do impacto. Até quando? Mas o ponto mais
relevante a considerar é que o estouro da bolha só irá acelerar a freada
econômica junto a um dos principais motores do crescimento mundial. Estamos
diante, portanto, de mais um elemento externo que, para além da importante
crise interna, nos indica que o cenário econômico global entrou definitivamente
em outra fase, onde a racionalidade financeira ocupa o espaço da gastança
irresponsável.