Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
31/07/2014
Um dos graves problemas
da economia brasileira na atualidade, dentre tantos, se encontra no elevado
déficit da chamada balança de transações correntes. Esta balança é o somatório,
em particular, do resultado da balança comercial (exportações – importações),
da balança de serviços (juros da dívida externa, fretes internacionais, viagens
internacionais, seguro etc...), e das transferências unilaterais (doações
enviadas e recebidas do exterior). Em 2013 o saldo da balança de transações
correntes foi negativo em US$ 81,37 bilhões, batendo o recorde histórico. Nos
primeiros quatro meses de 2014 o mesmo já era negativo em US$ 33,48 bilhões,
indicando um novo recorde no final do corrente ano. No contexto dos resultados
negativos da balança de transações correntes encontram-se os gastos, cada vez
mais elevados, dos brasileiros no exterior, com viagens de turismo em particular. Nem
mesmo a Copa do Mundo conseguiu trazer um saldo positivo nesta rubrica. Ou
seja, todos os estrangeiros que aqui vieram para o evento esportivo ainda
gastaram menos do que os gastos dos brasileiros no exterior em junho. Tanto é
verdade que os estrangeiros, em junho, gastaram no Brasil tão somente US$ 797
milhões, elevando para US$ 3,6 bilhões o acumulado de gastos no primeiro
semestre do corrente ano. Enquanto isso, os brasileiros no exterior gastaram,
em junho, US$ 2,0 bilhões, acumulando no semestre a enorme quantia de US$ 12,49
bilhões. Assim, mesmo que esta rubrica tenha ficado com um déficit 17% menor do
que o registrado em junho de 2013, no acumulado do semestre o déficit chega a
US$ 8,89 bilhões, contra US$ 8,85 bilhões no mesmo período do ano passado. Ou
seja, no máximo, neste quesito, a Copa do Mundo evitou que o resultado fosse
ainda pior. O interessante é que os brasileiros aumentaram o acumulado de
gastos no exterior no momento em que a economia nacional entrou em forte crise
(em 2011, início mais sensível da mesma, o saldo das viagens internacionais foi
negativo em US$ 14,7 bilhões, contra um resultado negativo de apenas US$ 3,26
bilhões em 2007, ano em que a crise apenas iniciava no mundo, e no Brasil o
governo acreditava que seus efeitos no país seriam tipo uma “marolinha”) e,
particularmente, mesmo com a desvalorização cambial que tornou as despesas
nominais no exterior mais caras em 22% entre maio e agosto de 2013 para, dali
em diante, conservar uma desvalorização ao redor de 10% em relação aos R$ 2,00
de meados de maio de 2013 (o déficit na conta “viagens internacionais” somou
US$ 18,6 bilhões no ano passado, o maior da história). Tal realidade estaria
nos indicando duas coisas: 1) parte dos brasileiros ainda não percebeu que a
crise é séria e de difícil solução, e continuam a gastar em demasia; 2) o Real
ainda está sobrevalorizado em relação às principais moedas do mundo, em
especial o dólar.