Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
14/12/2017
A equipe econômica do governo, através
do Copom, fecha 2017 com mais um corte no juro básico (Selic), trazendo o mesmo
para 7% aa, o nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Entre
outubro de 2016, quando os atuais cortes iniciaram, até este mês de dezembro de
2017, a Selic recuou de 14,25% para 7%, ou seja, um corte de 50,9% em pouco
mais de 12 meses. Entretanto, o efeito desta redução na economia real
brasileira está sendo muito tímido, contrariando expectativas. Isso porque os
juros normais, que atingem o bolso do brasileiro e de suas empresas, foram
reduzidos muito pouco no período. O juro médio do empréstimo pessoal recuou
apenas 12,3%, passando de 73% para 64% aa. O juro médio anual do comércio saiu
de 98% para 90%, ou seja, recuou tão somente 8,2%. Já o juro para empréstimos
em financeiras recuou 13%, ficando agora em 142,47% aa, enquanto o juro do cartão
de crédito caiu 29%, se estabelecendo agora em ainda estratosféricos 324,34%
aa. Por sua vez, o juro do cheque especial, o qual é usado por um grande número
de brasileiros como um complemento salarial no final do mês, recuou somente
5,1% no período, para ficar em 295,48% aa. Enfim, o financiamento de automóvel,
na média, passou de 31,68% para 27,27% aa, com recuo de 13,9%. Paralelamente,
as aplicações financeiras realizadas pelos brasileiros acompanharam o tombo da
Selic. Com a nova fórmula, o rendimento da poupança está abaixo de 5% ao ano no
momento. Paralelamente, o CDB recuou de 10,52% para 5,18%; os rendimentos da
LCA e LCI passaram de 12% para 5,92%; os Fundos de Renda Fixa de 10,51% para
4,53%; e os Títulos do Tesouro de 11,27% para 5,95%. Portanto, o cidadão perde
duplamente! Diante de tal quadro, não é de se admirar que o sistema financeiro
brasileiro continue obtendo lucros enormes, mesmo durante a grande recessão
nacional (2014 a 2016). E boa parte do alto custo do dinheiro no Brasil vem da própria
ação do governo, na medida em que sua dívida interna continua crescendo (hoje
na casa dos R$ 3,4 trilhões), pois o mesmo não consegue realizar reformas
estruturais adequadas, que venham a encaminhar solução para o crescente rombo
das contas públicas. Com isso, o governo se vê obrigado a buscar no mercado,
via Títulos Públicos, recursos que poderiam ser canalizados para o crescimento
da economia. Esta constante e forte demanda encarece o dinheiro disponível. E
para 2018 o quadro será ainda mais apertado, pois a estratégia da Selic já está
no limite do seu fôlego, podendo mesmo o juro voltar a subir um pouco para o
final do próximo ano, e as reformas não saem. Não basta uma ou duas medidas de
impacto! É preciso um conjunto de medidas, todas bem pensadas, executadas e
inter-relacionadas, as quais exigirão sacrifício de todos. Como convencer a
sociedade a tal sacrifício diante do descalabro político que temos?