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quinta-feira, 30 de abril de 2015

MARCHANDO AO PASSO CHINÊS



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
30/04/2015

A partir da crise econômico-financeira de 2007/08 verificou-se uma evolução no poder mundial. O G7 (Grupo das Sete maiores economias do mundo) deu, momentaneamente, espaço para o G20 (o G7 incorporou os principais países emergentes, dentre eles o Brasil, a China e outros), porém, as relações econômicas acabaram se consolidando em um resumido G2 (EUA e China). Hoje, passados quase oito anos do início da crise mundial, nota-se que a China (país que possui uma enorme poupança) avança em uma estratégia capitalista ainda mais ousada: está desenhando um novo sistema financeiro mundial. É nesse contexto que entra a ideia de um Banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e, mais recentemente, a constituição de um Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII). Obviamente, ambos sob comando chinês. À diferença do primeiro, o BAII seria composto, a convite chinês, pelos mais diversos países do mundo, exceção feita aos EUA e ao Japão (esse último país detém a presidência do Banco Asiático de Desenvolvimento-BAD, braço para a Ásia do Banco Mundial, com apoio direto dos EUA, grande rival chinês pelo poder econômico mundial pós-crise de 2007/08). Assim, se o novo equilíbrio mundial não passa por uma maior participação dos países emergentes, o mesmo necessariamente se concentra em um emergente específico, a China, diante do poder dos EUA. Ao mesmo tempo, em agindo desta maneira, os chineses procuram colocar em xeque as tradicionais instituições criadas em Bretton Woods em 1944, particularmente o Banco Mundial e o FMI, as quais eles consideram insuficientes. Hoje, a China é um parceiro econômico essencial no cenário internacional. A tal ponto que países como o Reino-Unido, França, Alemanha e Itália, além dos emergentes como o Brasil, aceitaram o convite chinês, contrariando os interesses dos EUA sobre a questão. Pelo sim ou pelo não, o fato é que estamos diante de uma evolução da diplomacia econômica chinesa, pois por longo tempo o país oriental privilegiou os acordos bilaterais. Com isso, a China alarga sua influência política e econômica mundo afora. Mas há outra questão no jogo: os chineses, por estarem enfrentando problemas com seus investimentos junto a países em crise, correm o risco de não receberem de volta o dinheiro emprestado. Ora, através do BAII “oferece uma oportunidade” aos países que se engajarem no projeto de “dividir os riscos financeiros”, capitalizando para si os ganhos políticos do processo (cf. Le Monde, Paris, 01/04/2015). Ou seja, estamos cada vez mais marchando ao passo da China e não apenas dos EUA. O G2 definitivamente se consolidou no cenário internacional.

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

(24/04/2015 a 30/04/2015)




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quinta-feira, 23 de abril de 2015

ENERGIA ELÉTRICA: DESASTRE ANUNCIADO



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
23/04/2015

Não deveria estar causando surpresa à sociedade brasileira os atuais aumentos na conta de energia elétrica, tanto residencial quanto empresarial. Os brasileiros deveriam se recordar dos alertas dados ainda em janeiro de 2013, quando intempestivamente e dentro de uma lógica populista desastrosa, mirando a reeleição em 2014, a presidente Dilma se dirigiu aos brasileiros para anunciar uma redução de 18% na conta residencial e de 32% na conta empresarial. A redução foi maior do que o previsto inicialmente, além de ter sido antecipada em 20 dias em relação ao cronograma então estabelecido. Na época, analistas do setor chegaram a batizar o fato de “populismo elétrico”. Mas a ideia oficial, além de garantir a reeleição obviamente, era reduzir o custo deste insumo básico para tentar ativar uma economia que já vinha parando desde 2011. Afinal, o governo estimulou o consumo de eletrodomésticos em geral sem fornecer infraestrutura (oferta) adequada. Os preços da energia tendiam a subir rapidamente, o que bloquearia o consumo de aparelhos. Assim, mesmo diante do risco iminente de apagões (que vieram), o governo se manteve no erro. Afinal, as concessionárias, com a redução da receita, ameaçaram não investir no setor, fato que levou o governo a optar por subsidiá-las com recursos do Tesouro Nacional, ou seja, nosso dinheiro. Para frear o estrago de um erro, cometeu-se um segundo erro. Os alertas dados não foram ouvidos, embora destacassem, com razão, que o custo de tal incompetência seria alto para toda a sociedade. Assim, se o resultado foi positivo para o governo em termos eleitorais, o desastre anunciado caiu no colo dos brasileiros, a começar pelos mais pobres. Com o estouro das contas públicas, os subsídios se esgotaram no setor elétrico, além do risco constante de faltar o insumo devido ao crescimento da demanda. O inevitável se tornou realidade. O governo deu meia-volta e retornou para onde jamais deveria ter saído: colocou os preços da energia elétrica em sua lógica natural. O problema é que houve, nesse período, um represamento que precisa ser compensado. É o que está acontecendo! Assim, os aumentos na conta de luz vêm em ritmo de hiperinflação e ainda deverão se acelerar neste ano de 2015. Aliás, os mesmos deverão continuar, pelo menos, até 2018, para que a relação custo/receita se normalize junto ao sistema elétrico nacional tamanho é o rombo causado. E tudo isso esperando que novas secas não venham piorar ainda mais o quadro de abastecimento de água, que move as turbinas, junto às barragens das hidrelétricas nacionais. Diante da impossibilidade de se gerar mais energia rapidamente, já que os projetos nesta área são de maturação lenta e nossos investimentos são poucos e mal feitos nos últimos anos, só nos resta economizar energia elétrica, pois a conta, que já duplicou para muitos, ainda irá triplicar até o final do ano.

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

(17/04/2015 a 23/04/2015)




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quinta-feira, 16 de abril de 2015

REAL MUITO DEPRECIADO



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
16/04/2015

Atropelado pela forte especulação que se instalou no país a partir das fragilidades político-econômicas do atual governo, somadas a decisão do Banco Central brasileiro em não aumentar os mecanismos de sustentação do valor da moeda nacional (swaps cambiais, via comprometimento das reservas) e às dificuldades políticas do governo em tornar lei os ajustes fiscais e reformas estruturais necessárias, a moeda brasileira assistiu a uma forte depreciação nos últimos meses. De setembro/14 até fevereiro/15 a mesma atingiu a 21%, com a média do câmbio comercial passando, no período, de R$ 2,33 para R$ 2,82. O auge do processo, até o momento, foi atingido em março/15 quando se chegou a quase R$ 3,30 por dólar em alguns momentos, sendo que a média do mês ficou em R$ 3,14. Assim, relacionando as médias mensais, somente no mês de março a depreciação foi de 11,3%. Desta forma, nos últimos sete meses (setembro/14 a março/15) a moeda brasileira depreciou 34,8%. Agora, em meados de abril, o Real se apreciou um pouco fechando a primeira quinzena em R$ 3,06. Ora, o câmbio é um componente poderoso junto à economia de um país, pois a depreciação da moeda leva a um estímulo ao setor exportador e tende a frear as importações, favorecendo o alcance de superávit comercial. Todavia, importações mais caras, devido a depreciação, aumentam a pressão inflacionária interna, podendo exigir medidas monetárias duras, tipo aumento de juros, para conter a alta dos preços. Nesse contexto, diante de períodos de alta volatilidade cambial, o mercado sempre procura detectar o ponto de equilíbrio “normal” da moeda. Diversas metodologias existem para isso, sendo a paridade de poder de compra uma delas. Ora, por esta metodologia, tomando-se o período dos últimos 15 anos nota-se que a inflação dos EUA chegou a 85% (IPC) enquanto a inflação brasileira atingiu a 172% (IPCA). Esta defasagem inflacionária deve ser compensada pela depreciação da moeda brasileira a fim de que a mesma mantenha seu poder de compra de 15 anos atrás. Pelo cálculo da paridade de poder de compra, portanto, atualmente o Real deveria estar valendo algo ao redor de R$ 2,65. Ou seja, nossa moeda já se depreciou demais, havendo espaço para um ajuste que corresponderia a uma apreciação de 13,5% aproximadamente. Obviamente, tal comportamento não é automático e muitos elementos interferem no processo. Entretanto, não será surpresa se isso ocorrer caso o governo brasileiro consiga encaminhar os ajustes fiscais e algumas reformas estruturais nos próximos meses. Dito isso, vale destacar que grande parte do mercado considera adequado um câmbio entre R$ 2,90 e R$ 3,00.

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

(10/04/2015 a 16/04/2015)




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sexta-feira, 10 de abril de 2015

COMÉRCIO EXTERIOR DESAFIADOR



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
09/04/2015

Encerrado o primeiro trimestre do ano, a balança comercial brasileira acusa um déficit de US$ 5,56 bilhões no acumulado do período. Abrindo esse número trimestral, nota-se que o mesmo é melhor do que o primeiro trimestre de 2014, quando o saldo foi negativo em US$ 6,08 bilhões, porém, a diferença é muito pequena. Além disso, o resultado de agora tem muito a ver com a forte redução das importações e não devido ao crescimento das exportações. Entre janeiro e março do corrente ano o Brasil importou menos 13,2% sobre igual período do ano passado, enquanto as exportações caíram 13,7% no mesmo período. Ou seja, o câmbio pode ter inibido as importações, porém, ainda não estimulou as vendas externas do país. Deve-se considerar que o freio nas importações está muito ligado, também, ao crescimento nulo da economia brasileira em 2014 e a tendência negativa do mesmo para este 2015. Para complicar o quadro, nossos principais itens de exportação, ligados ao setor primário, apresentam preços médios menores no cenário mundial para 2015 em praticamente sua totalidade. Reflexo de um comércio mundial que está crescendo mais lentamente do que a economia global, segundo a OMC. E isso vem desde 2012, quando se detectou que o PIB mundial havia sido de 3,4% e o crescimento do comércio de 2,9%. Em 2013 o PIB mundial ficou em 3,3% enquanto o comércio cresceu 3%. Em 2014 tal comércio teria crescido em 3,1%. Ora, entre 1987 e 2007 (20 anos), enquanto o PIB mundial cresceu na média de 3,8%, o comércio mundial registrou um aumento médio de 7,1%. Em tal contexto, muitos economistas julgam que a “idade de ouro” do comércio mundial teria chegado ao fim. E isso em função de mudanças estruturais, especialmente na China. Dito de outra forma, a crise econômico-financeira de 2007/08, que freou o comércio e o PIB mundial, acelerou uma reestruturação econômica junto aos principais países do mundo, a qual leva a um comércio mundial menos intenso. A China, por exemplo, viu sua parte das importações de peças de montagem e componentes, na totalidade das suas exportações, recuar de 60% no meio dos anos de 1990 para 35% atualmente. Os chineses mudaram sua estratégia e começam a dar mais atenção aos produtos locais em relação aos importados, aumentando seu valor agregado. Isso reflete a mudança no modelo da produção internacional, fato que deve perdurar nos próximos anos. Em tal cenário internacional, para o Brasil recuperar um superávit comercial sustentável, não basta apenas que o Real se desvalorize. Mais do que nunca os ganhos de produtividade e competitividade do setor produtivo em geral será fundamental. Para tanto, fazer bem as reformas e os ajustes estruturais na economia, hoje em discussão no país, é o primeiro passo. 

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

(03/04/2015 a 09/04/2015)




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quinta-feira, 2 de abril de 2015

O PIB DA RECESSÃO



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
02/04/2015

Graças à mudança na metodologia do cálculo do PIB o resultado de 2014 não ficou negativo. Porém, o 0,1% anunciado em nada muda o cenário. O mesmo é o mais baixo desde 2009, quando nosso PIB ficou em -0,2% no auge da grande crise econômico-financeira mundial. Nos últimos 14 anos o PIB do ano passado é o segundo mais baixo. E o tombo, comparado com o espetacular resultado obtido em 2010 (7,6%) é enorme nos últimos quatro anos. Além disso, o PIB de 2014, ao ser aberto, mostra um quadro ainda mais preocupante. Em primeiro lugar, os investimentos ficaram 4,4% negativos. Isso significa que para 2015, com os ajustes e apertos que estamos sendo obrigados a fazer, para corrigir as contas públicas, tais investimentos não irão melhorar. Pelo contrário, a tendência é de piora. Em segundo lugar, o crescimento industrial igualmente registrou um comportamento negativo, nesse caso de 1,2%. Sem a indústria puxando, e com o enfraquecimento dos PIBs agrícola (0,4%) e de serviços (0,7%), será um milagre a economia reagir em 2015. Especialmente diante de um crédito menos farto e mais caro. Além disso, não se pode esquecer a forte freada no consumo interno, motivada pelo custo do crédito junto a uma grande maioria de famílias endividadas e inadimplentes. O crescimento no consumo das famílias foi de apenas 0,9% no ano passado. Resta esperar que o mercado externo, graças a um Real hoje muito desvalorizado, puxe um pouco o setor industrial. Todavia, a economia mundial ainda cresce devagar nesta saída de crise internacional. Tanto é verdade que no primeiro trimestre de 2015 a balança comercial brasileira fechou no vermelho. Em terceiro lugar, um dos pontos positivos do último PIB foram os gastos do governo (1,3%). Ora, o governo está, agora, cortando despesas para ajustar a economia do Estado. Ou seja, tais gastos estão diminuindo em 2015. E não se pode contar com aumento no consumo das famílias, o que significa freio no mercado interno. Enfim, o PIB do ano passado nos mostra que estamos em um quadro de estagflação, com a economia parada, caminhando para uma real recessão em 2015 (as projeções indicam um PIB negativo entre 0,5% e 1%, por enquanto), ao mesmo tempo em que os preços continuam subindo. O próprio governo já admite a possibilidade de uma inflação oficial ao redor de 8% para este ano. Obviamente, a inflação real será muito superior a isso! Ou seja, o quadro confirma as enormes dificuldades econômicas que teremos em 2015, com continuidade ainda em 2016. Dito isso, será um erro gravíssimo estancar o movimento de ajustes e reformas na economia recentemente iniciado. Como já afirmamos diversas vezes, é melhor apertar agora e respirar logo adiante do que continuarmos afundando sem perspectivas. 

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