Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
23/02/2017
Um ano após ter
ultrapassado os R$ 4,00 por dólar, o câmbio no Brasil assiste a continuidade de
uma valorização significativa do Real. Na semana passada o mesmo chegou a bater
em R$ 3,06 em alguns momentos. Tal comportamento destoa da tendência indicada para
2017 que aponta a moeda brasileira chegando a algo entre R$ 3,50 e R$ 3,70 no
final do ano. O que estaria acontecendo? Antes de responder a tal questão, é
bom relembrar que a partir de abril/maio do ano passado a moeda brasileira
entrou em processo de revalorização. O mesmo se deu em função do impeachment da
então presidente Dilma Rousseff, o qual abriu a possibilidade de a economia
entrar em um processo de ajuste profundo. Na medida em que os ajustes foram
sendo anunciados e aprovados, a entrada de dólares no Brasil ficou mais
consistente. Neste início de 2017 uma série de fatos veio se somar a essa
tendência construída no ano anterior. Em primeiro lugar, apesar dos discursos
do novo presidente dos EUA, em boa parte expansionistas (Trump fala em usar US$
550 bilhões para reanimar a economia estadunidense, fato que poderia levar a um
aumento inflacionário mais adiante, obrigando a uma alta do juro básico naquele
país), a última reunião do Banco Central dos EUA, no início de fevereiro, não
aumentou tal juro. Assim, mesmo com a redução da Selic (agora em 13% ao ano), o
juro brasileiro continuou ainda muito atrativo (nominalmente, nos EUA, o mesmo
gira entre apenas 0,5% e 0,75% ao ano). Em segundo lugar, o mercado olha de
fato o juro real. Ora, a inflação no Brasil está recuando mais rapidamente do que
o juro básico, fato que aumentou o juro real nestes últimos tempos. Neste
momento, o mesmo está ao redor de 8% diante de uma inflação nacional pouco
superior a 5% (ao final de 2015 o mesmo era de cerca de 4%, diante de uma
inflação oficial de 10,6%), enquanto nos EUA, o juro real é negativo entre
1,25% e 1,5% já que a inflação atual é de 2% ao ano. Em segundo lugar, e não
por acaso, a entrada de dólares no Brasil, em janeiro de 2017, foi maior do que
a saída em cerca de US$ 3,66 bilhões, quase compensando o saldo negativo
registrado em todo o ano de 2016, que foi de US$ 4,25 bilhões. Como terceiro
ponto tem-se que, em função da enorme recessão em que vive o país, as
exportações nacionais superaram as importações, no saldo final de 2016, em US$
47,69 bilhões, batendo um recorde histórico. Quanto mais dólares entrar no país
mais forte tende a ficar o Real. (segue)