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quarta-feira, 31 de julho de 2019

ECONOMIA: SOJA TAMBÉM PATINA


Argemiro Luís Brum
01/08/2019

Apesar das oscilações, inerentes ao mercado, os preços da soja no Brasil continuam baixos em 2019. Passados os primeiros sete meses do ano, em termos médios, o saco da oleaginosa, no balcão gaúcho, está girando ao redor de R$ 67,00. Um ano atrás o mesmo estava em R$ 75,84. Assim, em termos nominais, a soja perdeu expressivos 11,6% em um ano. Considerando que a inflação oficial é de 3,4% no período, a perda real ultrapassa os R$ 12,00/saco. Aliás, nos últimos 10 anos, em termos médios o quadro pouco muda. Considerando que no final de julho de 2009 o saco do produto era cotado a R$ 41,16 no balcão gaúcho, na comparação ponta-à-ponta, há um ganho de 62,8% em relação ao valor deste final de julho de 2019. Entretanto, a inflação oficial (IPCA) nos últimos 10 anos alcança 76%. Desta maneira, apenas para cobrir a inflação dos últimos 10 anos, a partir do valor praticado em julho de 2009, o preço da soja deveria estar hoje em R$ 72,44/saco. Assim, em termos de poder de compra, a soja está valendo menos hoje do que há 10 anos. O quadro prático tende a ser ainda pior, pois os custos agrícolas, na média, sobem mais do que a inflação oficial geral. Assim, o produtor rural gaúcho, para compensar esta diferença, tem que registrar ganhos de produtividade física por hectare importantes. Se é verdade que esta melhoria existe, também é verdade que sua evolução média não tem sido suficiente para compensar as perdas financeiras. Desta forma, não surpreende o sentimento dos produtores de soja de que, nos últimos anos, as margens de ganho têm diminuído radicalmente em termos médios. E isso igualmente impacta na economia geral, pois é menos renda líquida girando, fato que se soma à crise econômica que se vive. Apenas para ficarmos com a realidade atual, em comparação ao ano passado os três elementos centrais da formação do preço da soja estão longe de ajudar neste ano. Primeiro: a cotação na Bolsa de Chicago, que registrava um valor ao redor de US$ 8,75/bushel no final de julho/18, se encontra apenas em US$ 8,85 atualmente, consolidando, na tendência, uma estagnação no período. Segundo: o câmbio no Brasil trabalha ao redor de R$ 3,75 por dólar nesta última semana de julho, contra R$ 3,82 um ano antes, igualmente demonstrando estabilidade apesar de picos momentâneos que o levaram a ultrapassar os R$ 4,00 no primeiro semestre. Terceiro: o prêmio médio em Rio Grande recuou fortemente, passando de US$ 2,18/bushel no final de julho/18 para apenas US$ 0,72 atualmente, consolidando uma perda de 67% no período. Neste último caso, a peste suína africana na China abafou os efeitos do litígio comercial entre este país e os EUA. Soma-se a isso o fato de que, na busca de preços melhores, os produtores gaúchos seguraram a safra, tendo vendido apenas 51% de sua última colheita até meados de julho (59% na média histórica para o período).

domingo, 28 de julho de 2019

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

19/07/2019 a 25/07/2019)



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O NECESSÁRIO REALISMO ECONÔMICO


Argemiro Luís Brum
25/07/2019

As pessoas, na crise econômica, buscam sinais de otimismo, mesmo lá onde há poucas chances de existirem. Isso ocorre em relação a nossa economia. Estamos caminhando para fechar a pior década econômica dos últimos 120 anos, com crescimento médio anual de tão somente 0,6%. Podemos já estar novamente em recessão técnica, dependendo do que virá no PIB do segundo trimestre. O PIB para todo o ano de 2019, que era esperado perto de 3% no início do ano, já foi recalculado pelo próprio governo em 0,8%, portanto, menor do que os dois anos anteriores, que já foram pífios (1,1% anuais). O desemprego não está sendo resolvido. No trimestre encerrado em maio passado estávamos com 12,3% de taxa de desemprego, com 12,98 milhões de brasileiros nesta situação. A população subutilizada (não trabalharam ou estavam subutilizados) bateu em 28,5 milhões de brasileiros. Isso representa uma taxa de subutilização de 25%. Aliás, o contingente de pessoas ocupadas somente cresceu graças ao aumento dos subutilizados. Enfim, ainda há 4,9 milhões de brasileiros desalentados (desistiram de procurar emprego por não o encontrar). Para piorar o quadro, os salários não acompanham a inflação recente. Desde meados de 2014 (até março/19 inclusive), enquanto os preços subiram 30,8% (IPCA), os salários médios nacionais subiram 19% (o salário mínimo, por agregar o crescimento do PIB de dois anos antes, acabou subindo 37,8% no período, com ganho real de sete pontos percentuais, porém, a partir de 2020 este ganho adicional não será mais computado, pelo que propõe o atual governo). Soma-se a essa realidade o fato de que o setor produtivo nacional está muito fraco (o desastre de Brumadinho; a recessão na Argentina; o investimento que não se recupera no Brasil; a forte dependência das reformas, que demoram para sair e, quando saem, indicam desidratação em relação às necessidades fiscais nacionais, criando incertezas quanto a capacidade de o governo levar adiante um ajuste fiscal estrutural, são algumas das causas do problema). No que diz respeito ao investimento, um dos elementos centrais para a alavancagem da economia, segundo estudo da FGV, a taxa está no menor nível em pouco mais de 50 anos, evidenciando a fraqueza deste instrumento. Na média dos últimos quatro anos, a taxa ficou em apenas 15,5% do PIB - um percentual tão baixo só é encontrado na média dos quatro anos entre 1964 e 1967. Enquanto isso, a média mundial está em 26,2%. Assim, a economia nacional não apresenta capacidade de recuperação. E, como já afirmamos neste espaço, liberar o FGTS e baixar ainda mais o juro básico (Selic) tendem a ser paliativos de curto prazo, pois o essencial está difícil de ser realizado e, quando o é, vem incompleto. Desta forma, é legítimo buscarmos o otimismo, porém, antes de tudo precisamos de realismo econômico, sob pena de incorrermos nos mesmos erros do passado recente.

sábado, 20 de julho de 2019

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

12/07/2019 a 18/07/2019)



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A DÍVIDA PÚBLICA E AS REFORMAS


Argemiro Luís Brum
18/07/2019

A dívida pública brasileira beira os R$ 4 trilhões neste momento. Ao câmbio de hoje a mesma atinge cerca de US$ 1,1 trilhão. E ela vem crescendo constantemente. Em 2012 representava 51% do PIB nacional. Em 2019 já bate em 77% e, se nada for feito para contê-la, atingirá 100% de nosso PIB em 2023. Para o governo pagar tal dívida é preciso que arrecade mais recursos do que gasta, isto é, realizando os chamados superávits nominais. Estes superávits estão associados aos resultados de dois grupos de recursos do orçamento do governo: primários e financeiros. De um ponto de vista prático, a maior parte dos países apresenta déficit no grupo de recursos financeiros, decorrentes de despesas financeiras (principalmente juros) superiores a receitas financeiras. Ou seja, a dívida só se reduz quando os superávits primários são superiores aos déficits financeiros. E é exatamente aí que o Brasil não consegue sucesso, após enorme descuido, associado a irresponsabilidades gerenciais públicas, especialmente entre 2007 e 2014. Tanto é verdade que, para 2019, ao invés de um superávit primário, deveremos ter mais um déficit, na altura de R$ 139 bilhões. Pior: os cortes que o governo vem fazendo até o momento são apenas para segurar o déficit neste nível e não para reduzi-lo. Como já é sabido, apenas reformas estruturais, que reduzam os gastos públicos e retomem o caminho do superávit primário podem encaminhar uma solução ao problema. E por que isso é um problema? Porque a natureza da dívida não está nos investimentos públicos e na melhoria dos serviços estatais em geral. Ela se encontra no inchaço do Estado, ou seja, a dívida cresce em função da manutenção da máquina pública ineficiente e gastadora, a partir de uma estrutura construída em cima de privilégios dados a alguns segmentos da sociedade. Um dos principais rombos está na Previdência. Por isso, sua reforma é fundamental. Após esta, outras reformas precisarão ser feitas. Ora, já na reforma da Previdência o que vem sendo decidido, até o momento, não está bom para as necessidades das contas públicas e, muito menos, para a redução das desigualdades sociais, algo fundamental para dar empuxe à economia via maior consumo. Primeiro, porque está deixando de lado, mais uma vez, setores privilegiados. Segundo, porque os destaques na Câmara estão recolocando outras tantas categorias em posições melhores do que a população em geral. Terceiro, porque este conjunto de ações já retirou 28% da economia inicial prevista com a reforma. De fato, pela proposta inicial do governo, que já não era completa, o impacto esperado era de uma economia, em 10 anos, ao redor de R$ 995 bilhões. Agora, o cálculo já está em R$ 714 bilhões, podendo se reduzir ainda mais nas próximas instâncias de discussão no Congresso. Diante disso, em poucos anos o Brasil terá que fazer uma nova reforma, pois a atual se desenha insuficiente.


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

05/07/2019 a 11/07/2019)



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UM ACORDO, MUITOS DESAFIOS (Final)


Argemiro Luís Brum
11/07/2019

Dando continuidade em nossa análise sobre o acordo Mercosul-União Europeia, outros desafios ainda merecem destaque. Assim, não se pode esquecer que muitos produtos serão protegidos dentro do acordo firmado. Ou seja, são produtos sensíveis, de ambas as partes, que não terão livre-comércio por longos anos e, talvez, nunca o tenham. Tanto é verdade que a lista de produtos típicos europeus protegidos no Brasil passará de sete para 357 após a conclusão do acordo, enquanto o Brasil solicita que 61 produtos exclusivamente brasileiros não possam ser replicados na Europa. Até este momento o Brasil só reconhece nove denominações de origem estrangeira, sendo sete europeias, dentre elas o vinho do Porto; o queijo Roquefort; o Cognac; e a Champagne. Pelo lado brasileiro, a cachaça deverá ser um deles. Por outro lado, para um acordo comercial adequado funcionar é preciso que o livre-comércio e a união aduaneira, pelo menos, já funcione a contento junto a cada um dos blocos. Se isso é verdade junto à União Europeia, está longe de ser a realidade no Mercosul. Nosso bloco, apesar das metas e desejos, passados 28 anos de sua criação, ainda nem mesmo conseguiu consolidar uma ampla e eficiente zona de livre-comércio. Portanto, entramos fragilizados como bloco em tal acordo. Não é por nada que o Brasil defende a postura de que basta o parlamento de um país aprovar o acordo para que, para ele, o mesmo comece a funcionar. Ou seja, espera-se escapar da lógica, até aqui vigente, de que, para funcionar uma decisão, a mesma deva ser aprovada por todos os países membros do bloco Mercosul. Como reagirão Argentina, Uruguai e Paraguai a essa posição brasileira? Um outro ponto em jogo é que a França somente assinará definitivamente o acordo se os países do Mercosul (e isso se direciona especialmente ao Brasil) apresentarem um respeito total ao Acordo Climático de Paris. Não basta apenas se manter no tratado climático, será preciso cumprir o que nele está sendo exigido. Soma-se a isso as questões sanitárias, pois os europeus estão muito preocupados com os escândalos em torno dos embarques de carnes brasileiras, assim como a casos de corrupção entre os fiscais, particularmente depois do caso JBS-Governo Temer. Enfim, a França, mas também outros países, buscam garantias de que, em seus produtores rurais sendo atingidos por ações negativas (e este conceito, por enquanto, está muito vago), possa adotar medidas de proteção comercial. Neste contexto, por exemplo, moratórias poderiam ser aplicadas contra a soja brasileira caso sua produção ocorra em áreas de desmatamento. E assim há outros e importantes desafios a serem vencidos até Mercosul e União Europeia efetivamente começarem a praticar, entre si, o livre-comércio. Em tudo correndo bem, o processo tende a levar de quatro a cinco anos, pois assinar um acordo é uma coisa, torná-lo efetivo é outra muito diferente.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

28/06/2019 a 04/07/2019)



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UM ACORDO, MUITOS DESAFIOS (I)


Argemiro Luís Brum
04/07/2019

O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), assinado pelos poderes executivos dos países membros dos dois blocos, ainda tem um longo caminho para se concretizar na prática. Portanto, muito ainda irá acontecer, incluindo mudanças no texto do mesmo, até o comércio entre as partes efetivamente se liberar. Dito isso, na lógica do livre-comércio, é de se comemorar a sua assinatura após 20 anos de negociações. Afinal, a abertura comercial favorece o acesso a produtos mais baratos e a tecnologias mais avançadas, além de ampliar o tamanho dos mercados para os quais se vende os produtos. E nenhuma nação no mundo consegue ser autossuficiente em tudo. Portanto, as mesmas precisam do comércio exterior. Entretanto, antes que se acredite que isso possa ser a panaceia para o crescimento do Mercosul em geral e do Brasil em particular, torna-se necessário entender que há enormes desafios a serem vencidos. O primeiro deles está no fato de que há setores nos dois blocos que irão perder com o acordo. Na Europa, o setor agropecuário de alguns países poderá ser muito atingido. É o caso na França e na Irlanda, onde já começam a despontar fortes resistências ao acordo. Em segundo lugar, o parlamento de cada país membro, seja na UE, seja no Mercosul, terá que avalizar o acordo. Assim como na Europa, na Argentina e no Uruguai, pela forte presença econômica e política do setor primário, isso não será tão fácil, pois nossos vizinhos poderão sofrer muita concorrência de produtos primários europeus no qual eles têm sido competitivos (trigo, leite e derivados, carne bovina etc). Além disso, será preciso cuidar muito, pois uma coisa é abrir o comércio, outra coisa é impedir que produtos subsidiados na origem, caso da maioria dos produtos primários europeus, cheguem competitivos aos nossos mercados por este artifício desleal, destruindo cadeias locais de produção e seus empregos. Em terceiro lugar, deve-se notar que houve uma aceleração no processo por parte dos europeus. Por quê? Assim como, lá em 1999 (e mesmo antes), quando as negociações se iniciaram, e agora, a motivação europeia é contra-atacar a posição dos EUA. No início, era fazer frente a proposta da Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA), na tentativa de evitar que o Mercosul ficasse ainda mais à mercê das políticas e interesses estadunidenses, dentro do que a Conferência de Yalta, que sacramentou em 1945, entre os aliados, uma nova ordem internacional pós-segunda guerra mundial. Agora, trata-se de dar um recado aos EUA e sua política comercial protecionista (o governo Trump, após a China, volta-se novamente para a UE ameaçando tarifar mais de US$ 4 bilhões de produtos europeus). Assim, muito mais do que comercial, para os europeus o acordo com o Mercosul entra na lógica geopolítica. Nesse sentido, o desafio é evitar de sermos muito mais “usados” do que termos vantagens. (segue)

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