Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
29/03/2018
A Selic a 6,5% ao ano, de certa
maneira, já está além das expectativas! Mas há explicações para tal
comportamento. Em primeiro lugar, a inflação continua em baixa, tendo recuado
em fevereiro para se estabelecer em 2,84% anuais (para um mês de fevereiro esta
é a inflação mais baixa desde 1999, enquanto no acumulado dos dois primeiros
meses do ano a mesma é a mais baixa desde a implantação do Plano Real, em 1994).
Em segundo lugar, o PIB brasileiro não apresenta crescimento robusto. Após o 1%
de 2017, o mês de janeiro/18, na prévia do IBC-Br, apontou um recuo de 0,56% (a
primeira queda mensal desde agosto/17). Embora no acumulado anual o PIB atinja
a 2,97%, tem-se aí um sinal de alerta quanto ao desempenho da economia nacional
neste momento de saída da recessão. Estes dois aspectos somados confortaram o
Copom em sua decisão! Todavia, há sinais que apontam na direção contrária. De
um lado, os preços em geral têm subido mais do que a inflação oficial,
particularmente junto aos produtos que realmente a população mais consome, ao
mesmo tempo em que ela não assiste a sua renda real aumentar. Além disso, o
desemprego aumentou em janeiro e pouco se recuperou em fevereiro, sendo que a
maior parte dos empregos gerados nos últimos meses é precária, de baixa
remuneração, quando não informal. Neste contexto, mesmo com as famílias
demonstrando um pouco mais de confiança, o consumo não decola. Assim, o PIB
reage menos, embora haja expectativas de que 2018 termine com o mesmo entre 2%
e 3% (entre 2014 e 2016, o PIB nacional recuou mais de 8%). Enfim, a baixa do
juro básico nacional não repercute na economia real, estando longe de alcançar
o consumidor e as empresas nacionais. Enquanto a Selic já recuou, desde outubro
de 2016, mais de 55%, a média dos juros praticados no Brasil recuou apenas um
pouco mais de 14%, com alguns até aumentando no período. Esta realidade freia o
consumo, trabalhando contra a retomada econômica. Além disso, há sinais do
exterior que devem nos deixar em alerta. O Banco Central dos EUA, nestes
últimos dias, realizou o primeiro aumento de sua taxa básica, de um total de
três esperadas para 2018. Com isso, o novo patamar de juro básico naquele país
passou para 1,5% a 1,75%. Quanto mais a distância entre os dois juros (Brasil e
EUA) se reduzir, maior será a tendência de sair capitais de nosso país, desvalorizando
o Real e potencialmente criando condições para aumento da inflação via
importações. Isso obrigará o Banco Central brasileiro a retomar a alta do juro
básico, invertendo a lógica atual. E o ano eleitoral que vivemos, pela sua
enorme indefinição política que acarreta no momento, não ajuda em nada para a
estabilidade dos mercados. Neste sentido, a decisão de Henrique Meirelles em renunciar
ao Ministério da Fazenda, para concorrer à Presidência da República, coloca mais
lenha na fogueira.