Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
07/06/2014
UM PÉSSIMO PIB: CONSEQUÊNCIAS
Confirmando a tendência já desenhada nos anos anteriores, a economia
brasileira acaba de registrar mais um péssimo PIB trimestral. O 0,2% obtido no
primeiro trimestre nos traz uma série de informações preocupantes as quais, por
sua vez, levam a outras tantas conseqüências. Dentre as informações, a primeira
a chamar atenção é o fato de que os investimentos registraram -2,1% no
trimestre. Ora, é exatamente de investimentos em infraestrutura que o país mais
precisa para sair desta crise que já dura alguns anos e vem piorando. Todavia,
o mesmo não só não acontece como decresce. Isso confirma que os programas
oficiais, batizados de PAC, não estão dando resultados. Possivelmente porque
muito mal gerenciados, além de muitos ficarem apenas no papel. Outro aspecto a
destacar é que nossa indústria continua seu calvário decrescente, tendo recuado
0,8% no primeiro trimestre (a mesma está tecnicamente em recessão, pois este
foi o terceiro trimestre seguido com crescimento negativo). Trata-se de um
claro sinal da falta de confiança dos empresários na economia, além das
dificuldades de ver seus produtos efetivamente aumentando presença no mercado
global. Um terceiro ponto se encontra no consumo das famílias, o qual caiu 0,1%
no período, confirmando o esgotamento do modelo de crescimento calcado no
consumo interno. Aliás, tal modelo só funcionou em 2010, quando encontrou uma
demanda reprimida e ainda distante dos altos endividamentos e inadimplências
atuais. Enfim, o pífio comportamento do PIB trimestral só não foi pior porque,
mais uma vez, a agropecuária cresceu bem. Entretanto, depender de um setor que
funciona muito em cima do comportamento climático, portanto vulnerável ao
comportamento errático do clima é, no mínimo, perigoso. Nesse contexto ruim, a
projeção para o PIB acumulado em todo o ano de 2014 piorou. A mesma agora está
entre 1% e 1,5%, contra 2,3% obtidos em 2013. Muito longe das necessidades do
país, hoje entre 5% e 6% anuais pelo menos. Pior, excetuando os 7,5% de
crescimento em 2010, justamente porque a demanda interna respondeu ao apelo de
consumo oficial, o PIB brasileiro tem emendado anos a fio de resultados insuficientes,
quando não medíocres. Senão vejamos: -0,3% em 2009; 7,5% em 2010 (a exceção);
2,7% em 2011; 0,9% em 2012; 2,3% em 2013; 1% a 1,5% em 2014 (tendência).
UM PÉSSIMO PIB: CONSEQUÊNCIAS
(II)
Mas os sinais da debilidade econômica nacional ainda vão mais longe. Os
dados deste primeiro trimestre mostraram igualmente que a taxa de investimento
de janeiro a março ficou em apenas 17,7% do PIB, sendo a mais baixa para o
período desde 2009. Ou seja, enquanto a crise mundial aos poucos vai sendo
superada, o Brasil vai piorando e perdendo a oportunidade de avançar nessa nova
arrancada da economia global pós-crise. Para lembrar: o país precisaria de uma
taxa de investimento de 25% do PIB anualmente para dar conta de um crescimento
aceitável. Em segundo lugar, a construção civil, que sustentou parcialmente o
emprego e a economia nos últimos anos, a partir dos programas sociais oficiais,
confirma os sinais de que seu auge passou há algum tempo e a bolha vem
murchando. Seu crescimento foi negativo em 0,9% neste primeiro trimestre do
ano. E, para piorar o cenário, a taxa de poupança nacional ficou em míseros
12,7% do PIB no trimestre, se constituindo no pior resultado desde o ano 2000 (ano
que a série histórica iniciou). Também aqui, o ideal para as necessidades do
país é uma taxa ao redor de 25% do PIB. Esse conjunto de péssimos resultados
econômicos nos traz muitas conseqüências a serem administradas. Dentre elas, a
primeira surge no aumento do desemprego e na redução da geração de empregos.
Que o Brasil nunca esteve em pleno emprego isso é sabido. Porém, agora os
números atuais confirmam que o péssimo crescimento econômico, aliado a um
aumento exagerado dos salários sem contrapartida na melhoria da produtividade
do trabalho, obriga o setor produtivo a cortar definitivamente postos de
trabalho.
UM PÉSSIMO PIB: CONSEQUÊNCIAS
(III)
Em abril passado a geração de empregos no país foi a pior em 15 anos
para um mês de abril. O desemprego medido pelo IBGE (Pnad Contínua, que acabou
voltando a ser feita) acusa 7,1% no primeiro trimestre deste ano, contra 6,2%
no último trimestre de 2013. E o quadro deverá piorar nos próximos meses (se
não houver maquiagens oficiais dos índices) a julgar pelo comportamento das
empresas e do mercado. Afinal, com um PIB desta envergadura não há como manter
empregos, particularmente porque o fôlego oficial de sustentar a economia via
dinheiro público igualmente se esgota. Para piorar o quadro, a inflação
continua subindo a ponto de comprometer o próprio PIB. E não será a decisão
momentânea do governo, de manter a Selic em 11% ao ano, que resolverá o
problema. Pelo contrário, caminhamos celeremente para uma estagflação, já
alertada há três anos, onde a economia continua a frear enquanto os preços
sobem. Tudo isso confirma nossos alertas anteriores de que há muito tempo o
governo brasileiro está perdido na condução da política econômica nacional. Não
é por acaso que o capital internacional sai do país, provocando nesta semana
uma nova desvalorização do Real e um recuo da Bovespa. Os investidores receiam
que esta péssima realidade econômica continue, caso o atual governo seja
reeleito para mais quatro anos. E eles não estão sozinhos nesta análise. Cada
vez mais brasileiros, que vivem diretamente a realidade nacional, demonstram
tal preocupação. Daí a constatação: qualquer que seja o governo eleito em
outubro terá que realizar reformas profundas e doloridas para recuperar o país
da situação em que foi colocado nos últimos anos. Se nada for feito, aí sim veremos
o que é crise econômica.