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quinta-feira, 5 de junho de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
07/06/2014

UM PÉSSIMO PIB: CONSEQUÊNCIAS
Confirmando a tendência já desenhada nos anos anteriores, a economia brasileira acaba de registrar mais um péssimo PIB trimestral. O 0,2% obtido no primeiro trimestre nos traz uma série de informações preocupantes as quais, por sua vez, levam a outras tantas conseqüências. Dentre as informações, a primeira a chamar atenção é o fato de que os investimentos registraram -2,1% no trimestre. Ora, é exatamente de investimentos em infraestrutura que o país mais precisa para sair desta crise que já dura alguns anos e vem piorando. Todavia, o mesmo não só não acontece como decresce. Isso confirma que os programas oficiais, batizados de PAC, não estão dando resultados. Possivelmente porque muito mal gerenciados, além de muitos ficarem apenas no papel. Outro aspecto a destacar é que nossa indústria continua seu calvário decrescente, tendo recuado 0,8% no primeiro trimestre (a mesma está tecnicamente em recessão, pois este foi o terceiro trimestre seguido com crescimento negativo). Trata-se de um claro sinal da falta de confiança dos empresários na economia, além das dificuldades de ver seus produtos efetivamente aumentando presença no mercado global. Um terceiro ponto se encontra no consumo das famílias, o qual caiu 0,1% no período, confirmando o esgotamento do modelo de crescimento calcado no consumo interno. Aliás, tal modelo só funcionou em 2010, quando encontrou uma demanda reprimida e ainda distante dos altos endividamentos e inadimplências atuais. Enfim, o pífio comportamento do PIB trimestral só não foi pior porque, mais uma vez, a agropecuária cresceu bem. Entretanto, depender de um setor que funciona muito em cima do comportamento climático, portanto vulnerável ao comportamento errático do clima é, no mínimo, perigoso. Nesse contexto ruim, a projeção para o PIB acumulado em todo o ano de 2014 piorou. A mesma agora está entre 1% e 1,5%, contra 2,3% obtidos em 2013. Muito longe das necessidades do país, hoje entre 5% e 6% anuais pelo menos. Pior, excetuando os 7,5% de crescimento em 2010, justamente porque a demanda interna respondeu ao apelo de consumo oficial, o PIB brasileiro tem emendado anos a fio de resultados insuficientes, quando não medíocres. Senão vejamos: -0,3% em 2009; 7,5% em 2010 (a exceção); 2,7% em 2011; 0,9% em 2012; 2,3% em 2013; 1% a 1,5% em 2014 (tendência).

UM PÉSSIMO PIB: CONSEQUÊNCIAS (II)
Mas os sinais da debilidade econômica nacional ainda vão mais longe. Os dados deste primeiro trimestre mostraram igualmente que a taxa de investimento de janeiro a março ficou em apenas 17,7% do PIB, sendo a mais baixa para o período desde 2009. Ou seja, enquanto a crise mundial aos poucos vai sendo superada, o Brasil vai piorando e perdendo a oportunidade de avançar nessa nova arrancada da economia global pós-crise. Para lembrar: o país precisaria de uma taxa de investimento de 25% do PIB anualmente para dar conta de um crescimento aceitável. Em segundo lugar, a construção civil, que sustentou parcialmente o emprego e a economia nos últimos anos, a partir dos programas sociais oficiais, confirma os sinais de que seu auge passou há algum tempo e a bolha vem murchando. Seu crescimento foi negativo em 0,9% neste primeiro trimestre do ano. E, para piorar o cenário, a taxa de poupança nacional ficou em míseros 12,7% do PIB no trimestre, se constituindo no pior resultado desde o ano 2000 (ano que a série histórica iniciou). Também aqui, o ideal para as necessidades do país é uma taxa ao redor de 25% do PIB. Esse conjunto de péssimos resultados econômicos nos traz muitas conseqüências a serem administradas. Dentre elas, a primeira surge no aumento do desemprego e na redução da geração de empregos. Que o Brasil nunca esteve em pleno emprego isso é sabido. Porém, agora os números atuais confirmam que o péssimo crescimento econômico, aliado a um aumento exagerado dos salários sem contrapartida na melhoria da produtividade do trabalho, obriga o setor produtivo a cortar definitivamente postos de trabalho.

UM PÉSSIMO PIB: CONSEQUÊNCIAS (III)
Em abril passado a geração de empregos no país foi a pior em 15 anos para um mês de abril. O desemprego medido pelo IBGE (Pnad Contínua, que acabou voltando a ser feita) acusa 7,1% no primeiro trimestre deste ano, contra 6,2% no último trimestre de 2013. E o quadro deverá piorar nos próximos meses (se não houver maquiagens oficiais dos índices) a julgar pelo comportamento das empresas e do mercado. Afinal, com um PIB desta envergadura não há como manter empregos, particularmente porque o fôlego oficial de sustentar a economia via dinheiro público igualmente se esgota. Para piorar o quadro, a inflação continua subindo a ponto de comprometer o próprio PIB. E não será a decisão momentânea do governo, de manter a Selic em 11% ao ano, que resolverá o problema. Pelo contrário, caminhamos celeremente para uma estagflação, já alertada há três anos, onde a economia continua a frear enquanto os preços sobem. Tudo isso confirma nossos alertas anteriores de que há muito tempo o governo brasileiro está perdido na condução da política econômica nacional. Não é por acaso que o capital internacional sai do país, provocando nesta semana uma nova desvalorização do Real e um recuo da Bovespa. Os investidores receiam que esta péssima realidade econômica continue, caso o atual governo seja reeleito para mais quatro anos. E eles não estão sozinhos nesta análise. Cada vez mais brasileiros, que vivem diretamente a realidade nacional, demonstram tal preocupação. Daí a constatação: qualquer que seja o governo eleito em outubro terá que realizar reformas profundas e doloridas para recuperar o país da situação em que foi colocado nos últimos anos. Se nada for feito, aí sim veremos o que é crise econômica.





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