Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
19/05/2016
Passadas duas fases do
mercado da soja na atual safra (altista e baixista respectivamente), a partir
do início de abril uma terceira fase deste mercado, novamente altista, se
consolida. O motivo deste comportamento foi a constatação de problemas na
oferta mundial de soja. O Brasil acusa quebra importante nas regiões de várzea
do arroz (sul do Rio Grande do Sul), por excesso de chuvas, e nas regiões do
Centro-Oeste e do Matopiba devido a estiagens prolongadas. Com isso, analistas
privados, contrariando indicações oficiais, passam a trabalhar (e ainda
trabalham) com uma safra nacional de 97 milhões de toneladas (e não mais 100
milhões). Ao mesmo tempo, na Argentina as quebras se revelam maiores ainda, com
as perdas chegando, no início de maio, a 9 milhões de toneladas, representando
15% do total inicialmente esperado. Como o vizinho país é o maior exportador de
farelo de soja do mundo (32,8 milhões de toneladas para 2015/16, ou seja, 49%
do total mundial exportado), a cotação do farelo em Chicago dispara, ganhando
mais de US$ 100,00/tonelada curta em dois meses e meio (de março a meados de maio).
Soma-se a esse fato o anúncio, em 31/03, de uma possível redução de área em 1%
no novo plantio de soja dos EUA, além da possibilidade da ocorrência do
fenômeno La Niña (clima mais seco) sobre as lavouras norte-americanas. Esse
quadro eleva as cotações do bushel rapidamente para US$ 10,34 para o mês de
julho, no final da primeira semana de maio. Em outras palavras, em cerca de
dois meses o bushel ganha quase dois dólares (21,6% entre 1º de março e 6 de
maio de 2016). Com isso, as cotações da soja, em média, voltam a superar os R$
70,00/saco no balcão gaúcho, atingindo igualmente os R$ 79,00 nos lotes.
Portanto, depois de um longo tempo, é a recuperação das cotações em Chicago que
melhora os preços da soja em reais. Veio completar esse quadro o relatório de
oferta e demanda do USDA, divulgado no dia 10/05. O mesmo confirmou uma redução
de área semeada nos EUA em 0,6%, com uma produção final projetada de 103,4
milhões de toneladas e estoques finais, para 2016/17, em 8,3 milhões de
toneladas (10,9 milhões no ano anterior). Embora tenha igualmente indicado um
patamar de preços médios, aos produtores estadunidenses, entre US$ 8,35 e US$
9,85/bushel, isso não foi suficiente para impedir, logo após o anúncio do
relatório, que o bushel, para julho, disparasse acima de US$ 10,80 em função da
redução nos estoques finais, os quais ficaram bem abaixo do esperado pelo
mercado (neste dia 16/05 o bushel fechou em US$ 10,64). Até quando esse novo
movimento altista irá durar? O clima nos EUA decidirá o destino das cotações
nos próximos três meses. Considerando que o câmbio no Brasil possa ficar nos atuais
patamares de R$ 3,50 (desde que o novo governo não erre na condução dos ajustes
na economia), em havendo frustração de safra nos EUA não se pode descartar uma
disparada do bushel até níveis de US$ 12,00. Ao contrário, em a safra sendo
normal naquele país, a probabilidade seria de o bushel estacionar entre US$
9,00 e US$ 10,00.