Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
30/10/2014
A eleição presidencial
brasileira sacramentou, por margem muito apertada, a continuidade do atual
governo federal, reelegendo a presidente Dilma Rousseff. Se o mandato é novo,
os problemas econômicos a serem vencidos continuam os mesmos. Dentre eles, o principal:
recuperar o crescimento econômico (4% ao ano), reduzindo a inflação,
reestruturando o tripé de sustentação da estabilidade econômica (meta
inflacionária, câmbio flutuante e superávit primário), agregando a ele as
reformas estruturais que possam levar o país a ter um Estado eficiente e uma
economia competitiva. Tudo isso para que os programas sociais existentes possam
continuar e mesmo melhorar. Ou seja, se os ajustes econômicos, com reformas
estruturais pesadas, não forem feitos rapidamente, nem mesmo os programas
sociais terão espaço econômico para continuarem, mesmo representando, em
valores, um volume mediano. Paralelamente a tudo isso, o governo reeleito terá
que recuperar a credibilidade da economia brasileira no exterior, coisa que ele
mesmo colocou por terra com a maquiagem de dados contábeis-econômicos desde o
final de 2012. Portanto, os desafios são conhecidos. O maior risco é, assim
como ocorreu no primeiro mandato da presidente Dilma, nada ser feito e o país
continuar registrando índices econômicos cada vez mais negativos, afundando a
economia nacional como um todo. Por enquanto, os discursos pós-reeleição dão
conta de apaziguamento político por parte do governo federal, da busca de
união, já que o país saiu dividido destas eleições, e particularmente de
mudanças significativas na área econômica. Nesse último caso, fica o alerta de
que não basta apenas trocar nomes, como já se anunciou a respeito do Ministério
da Fazenda. Será preciso trocar a política econômica, reduzindo o
desenvolvimentismo que nos trouxe à atual situação difícil, trocando-o por uma
política monetarista que corrija os rumos econômicos do país. Obviamente, e
isso já foi dito há muito tempo, decisões de correção de rumo, para evitar o
caos econômico que se desenha, terão efeitos duros sobre a sociedade,
justificando o argumento de que 2015 será ainda mais difícil do que 2014.
Afinal, não se faz omelete sem quebrar ovos! Nesse contexto, muitos eleitores
que reconduziram o atual governo, diante de tal realidade, tenderão a gritar
traição, assim como o fizeram no primeiro mandato do presidente Lula. Todavia,
repito, é melhor apertar agora, corrigindo os erros econômicos realizados e
agora reconhecidos pelo próprio governo, do que deixarmos o barco afundar ano
após ano no lodaçal de uma economia anêmica e sem elementos de reação. Os
próximos dois meses serão decisivos na definição de que rumo o país tomará.
Resta esperar que realmente o governo reeleito esteja consciente do que o cerca
e faça acontecer as mudanças, deixando de lado a retórica e o clientelismo que
o caracterizou no primeiro mandato.