Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
CEEMA/DACEC/UNIJUI
28/10/2014
Diante
de um cenário de aumento na produção mundial de soja, as cotações da oleaginosa
na Bolsa de Cereais de Chicago e no mercado interno brasileiro recuaram
fortemente a partir de junho. A produção dos EUA, que vem sendo colhida neste
mês de outubro, deverá finalizar entre 106 e 110 milhões de toneladas, contra
91,4 milhões no ano anterior. Um aumento entre 16% a 20%! Com isso, os estoques
finais estadunidenses, para 2014/15, após chegarem a tão somente 2,5 milhões de
toneladas em 2013/14, deverão se multiplicar por quase cinco vezes, para
atingir a 12,3 milhões de toneladas no final do corrente ano comercial.
Paralelamente, a produção projetada para a América do Sul, na próxima colheita
de verão, indica um volume de 164 milhões de toneladas, um novo recorde
histórico. Assim, a produção mundial de soja para 2014/15 está projetada, hoje,
em 311,2 milhões de toneladas ou 26,2 milhões acima do registrado no ano
anterior. Já os estoques finais mundiais saltam para 90,7 milhões de toneladas,
após 66,5 milhões em 2013/14. Por sua vez, as importações mundiais de soja em
grão, concentradas em 66% do total na China, crescerão apenas 3,6 milhões de
toneladas neste ano comercial (cf. USDA). Soma-se a isso o fato de que o dólar
se encontra mais valorizado no cenário mundial, assim como a crise
internacional se estabelece menos intensa junto ao mundo desenvolvido, e o
quadro está montado para uma queda de preços a níveis que não eram vistos há
quase cinco anos. O bushel (27,21 quilos) em Chicago, entre junho/14 e o início
de outubro/14 recuou de US$ 15,00 para pouco mais de US$ 9,00, se recuperando
um pouco posteriormente ao se fixar ao redor de US$ 9,60 no final de outubro.
Nesta mesma época de 2013 e 2012, o bushel valia US$ 13,10 e US$ 15,70
respectivamente. Diante deste cenário, os preços do saco de soja no balcão
gaúcho, após atingirem a média estadual de R$ 66,60 em meados de março/14,
recuaram para R$ 52,00 no final de setembro. Ou seja, em pouco mais de seis
meses a queda foi de R$ 14,60/saco. Neste final de outubro/14 a média se
estabelece em R$ 53,00 graças a uma desvalorização do Real (a moeda nacional
passou de R$ 2,20 para R$ 2,45 em termos médios entre junho e outubro de 2014).
A título de comparação, no final de outubro de 2013 e 2012 o saco de soja no
balcão gaúcho valia R$ 65,79 e R$ 65,03 respectivamente. Nesse contexto, e
contrariamente ao que alguns sugerem, o potencial de recuo em reais no valor do
saco de soja no Rio Grande do Sul ainda é significativo. Nas condições atuais
de Chicago, para maio/15, com um câmbio oscilando entre R$ 2,25 e R$ 2,50 até
lá, em caso de safra normal, o produtor gaúcho corre o risco de receber no
balcão entre R$ 39,00 e R$ 46,00/saco no momento da colheita. Se isso se
confirmar, as perdas em relação a média obtida na colheita de 2013/14 poderá
chegar entre R$ 17,00 e R$ 24,00/saco, ou seja, entre 27% a 38%. Soma-se a isso
o aumento ao redor de 20% no custo de produção e temos a explicação para o
aperto de liquidez que o país em geral e os gaúchos em particular terão com a
safra de soja de 2014/15, com fortes reflexos sobre toda a já combalida
economia nacional.