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quinta-feira, 30 de março de 2017

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

24/03/2017 a 30/03/2017)




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IMPOSTOS E DESESPERANÇA

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
30/03/2017


Diante de uma proposta de Reforma Previdenciária que é atacada por muitos, cada um em busca de seus interesses individuais, forçando o governo a retirar pontos essenciais da mesma e construindo, por enquanto, uma “meia sola” inconsequente; onde a proposta de reforma trabalhista recupera um antigo projeto de terceirização do trabalho, sem grandes discussões para adequá-la às necessidades atuais do país; e onde o governo se mostra cada dia mais fragilizado na esteira da Operação Lava Jato e do descompromisso de nossos congressistas para com o país, o ajuste fiscal se faz lembrar. O governo acaba de informar que o rombo no orçamento de 2017 chega a R$ 58,2 bilhões, além do déficit primário já previsto em R$ 139 bilhões. E o mesmo se origina no fato de o governo acreditar, no momento da feitura do orçamento, de que o país cresceria acima de 1% no corrente ano (ele acaba de rever seu erro e reduz a projeção do PIB para 0,5%). Afinal, menor crescimento é sinônimo de menos arrecadação. Isso, confrontado a despesas que não se reduzem, gera um rombo no caixa. Assim, na impossibilidade de aumentar a arrecadação pelo crescimento da economia, o remédio proposto é aumentá-la aplicando mais impostos sobre a sociedade. Ocorre que tal aumento de impostos, mais uma vez, além de retirar dinheiro do bolso do consumidor terá a função somente de “tapar furo” orçamentário e não a de melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. É mais do mesmo se olharmos a história recente do país. Por outro lado, todo aumento de impostos resulta em aumento de preços. Isso pressiona a inflação para cima! Tal movimento compromete a redução do juro básico logo adiante. E o círculo vicioso se instala. A recessão econômica que o país vive, a maior de sua história, tem na sua origem justamente o descontrole das contas públicas. Ou seja, na impossibilidade de cortar despesas de forma mais profunda (90% das despesas previstas no orçamento da União não podem ser alteradas sem aprovação do Congresso), mais uma vez a conta cairá sobre o contribuinte/consumidor. E como o Congresso Nacional, com raríssimas exceções, é formado por pessoas que colocam seus interesses particulares acima dos interesses da Nação, apoiados por entidades e grupos privilegiados de toda ordem, que não aceitam os ajustes necessários em nossa economia, o país vê cada vez mais distante a possibilidade de alcançar uma recuperação estrutural. Não é por nada que um grande número de brasileiros, a começar pelos mais jovens, perde tristemente a esperança no país e coloca como meta abandoná-lo o mais rapidamente possível. 

quinta-feira, 23 de março de 2017

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

17/03/2017 a 23/03/2017)




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CARNE FRACA E O MERCADO MUNDIAL

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
23/03/2017


O escândalo da carne no Brasil, por mais que o governo e determinadas entidades tentem relativizar, traz enorme desgaste ao comércio brasileiro de carnes. Nosso país, durante décadas construiu, passo a passo, uma sólida cadeia produtiva no setor cárneo, especialmente em frango e suíno. O resultado deste trabalho nos remeteu à liderança mundial na exportação destes produtos. Em 2016 o Brasil consolidou o segundo lugar mundial na exportação de carne bovina, com mais de 2,0 milhões de toneladas entre produto “in natura” e industrializado. No mesmo ano, nossas exportações totais de carne de frango atingiram a 4,4 milhões de toneladas, fixando o país como líder mundial nesse segmento. Enfim, as exportações de carne suína somaram cerca de 670.000 toneladas, nos colocando como quarto exportador mundial do produto. Ora, a concorrência mundial no mercado das carnes é acirrada. A ponto de os países se policiarem em torno dos procedimentos sanitários utilizados, em busca de falhas dos outros, visando abrir mercado para seus próprios produtos. Assim, além das tarifas aduaneiras, contingenciamentos, subsídios e outras atitudes protecionistas de política comercial, igualmente é comum o uso de barreiras sanitárias, mesmo que elas não encontrem justificativas. A Organização Mundial do Comércio (OMC) constantemente é acionada para regular conflitos internacionais nesta área, encontrando enormes dificuldades para impor suas regras perante os interesses dos grandes players destas cadeias cárneas. O Brasil, ao fraudar a industrialização de carnes, onde a corrupção de agentes públicos novamente se fez presente, acaba de dar motivos para que o mercado internacional, tão competitivo, feche suas portas. Mesmo que o crime venha a ficar circunscrito a pequenos volumes e locais, não se pode ignorar que o mesmo foi feito em grandes plantas frigoríficas nacionais (além de outras menores), que nossos serviços de vigilância sanitária apresentam falhas, e que o governo federal, tentando apagar o “incêndio”, procurou menosprezar o fato ao invés de atacá-lo com a seriedade exigida. Ou seja, já não precisamos que nossos concorrentes criem barreiras aos nossos produtos. Nós mesmos nos encarregamos de lhes dar motivos cabais para assim agirem. E o mais preocupante nisso tudo é que muitos preferem culpar a Polícia Federal, que descobriu o problema, após longos meses de investigação, ao invés de atacar os malfeitores. O fato é que o custo econômico, no Brasil, pode ser grande, pois o estrago está feito. Tanto é verdade que um grande número de países fechou temporariamente suas fronteiras ao produto brasileiro. É incrível, mas ainda não aprendemos que a irresponsabilidade custa caro, sendo um dos motivos do subdesenvolvimento.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

10/03/2017 a 16/03/2017)




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RECESSÃO E PERSPECTIVAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

16/03/2017


O PIB de 2016 (-3,6%) confirma que o Brasil vive a pior recessão de sua história. No acumulado de dois anos (2015 e 2016) nosso PIB é negativo em 7,2%, superando o ocorrido em 1930/1931. Por mais que o ministro da Fazenda diga que isso é o passado, o fato é que sair de tal crise não será fácil. Em primeiro lugar porque o processo de recuperação do país será lento. Crescer 0,5% neste ano, como o projetado, é nada diante do tombo que a economia sofreu nos últimos dois anos. O máximo que se poderá dizer é que “parou de cair”. Ou seja, o fundo do poço foi alcançado. A questão, então, passa a ser “quanto tempo ficaremos no fundo”. Em segundo lugar, se é verdade que a inflação vem baixando rapidamente, possibilitando uma redução mais acentuada do juro básico, um dos remédios de curto prazo para a recuperação econômica, também é verdade que tal situação se deve a paralisia do consumo pelo alto endividamento e inadimplência das famílias. Aliás, em 2016 o consumo das famílias recuou 4,2%, superando os 3,9% do ano anterior. Além disso, segundo recente pesquisa, 60% das empresas brasileiras apresentam inadimplência. Ora, recuperar o consumo é um dos instrumentos necessários, porém, a questão é criar as condições para um movimento sustentável. A liberação da recente verba do FGTS pouco resolve, pois ela logo termina e o estado de crise das famílias continuará, pois seu endividamento e inadimplência são muito elevados. Em segundo lugar, necessário se faz investimentos que alavanquem nossa produtividade do trabalho e do capital. Ora, a taxa de investimento em 2016 recuou assustadores 10,2%, após um tombo de 13,9% um ano antes. Ou seja, em dois anos o investimento acumula um recuo ao redor de 24%. Isso não se recupera facilmente! Em terceiro lugar, o PIB do quarto trimestre de 2016 veio pior do que o esperado (-0,9%), sugerindo que o primeiro semestre de 2017, pelo menos, ainda será de grandes dificuldades (como está sendo). Em quarto lugar, a expectativa de uma recuperação industrial é bem-vinda, porém, é bom lembrar que no Brasil de hoje a indústria pesa somente 20% no PIB nacional, contra 73% do setor de serviços (cf. FGV). Enfim, a recuperação da economia depende das reformas estruturais, a partir da aprovação da PEC dos gastos públicos. Tais reformas, por enquanto, apresentam um futuro incerto em um país em que o setor político está envolto em suspeição constante e fragilizado. Portanto, superar o custo deste desastre histórico não será fácil e exigirá muito trabalho de todos. O desafio é termos fôlego para superarmos este longo período de transição que, parece, está se iniciando, evitando novas derrapagens no percurso. 

quinta-feira, 9 de março de 2017

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

03/03/2017 a 09/03/2017)




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SOJA: A REALIDADE

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
09/03/2017


A realidade econômica da atual safra de soja, pelo menos aqui no Rio Grande do Sul, e com as estatísticas existentes até o início de março, não permite ufanismos. É verdade que a colheita será cheia, devendo ficar ao redor de 16,5 milhões de toneladas no estado. Tal volume será um pouco maior do que o do ano passado. Ao mesmo tempo, a produtividade média esperada, por enquanto, é idêntica (3.020 quilos/hectare). Assim, pelo lado físico a safra é excelente. Porém, pelo lado econômico o quadro médio é pior. Se é verdade que Chicago trabalha com cotações bem melhores na atualidade (os primeiros 62 dias do ano registram a média de US$ 10,28/bushel neste ano, contra US$ 8,62 no mesmo período de 2016), também é verdade que o Real se valorizou muito no período. Nossa moeda, considerando o período dos primeiros 62 dias do ano, passou da média de R$ 4,01 em 2016, para apenas R$ 3,15 em 2017. Resultado: o preço médio da soja no balcão gaúcho, que no ano passado foi de R$ 72,94/saco no período considerado, hoje é de R$ 66,40/saco. Isso representa um recuo nominal de 9%. Considerando a inflação oficial dos últimos 12 meses, a perda real no preço da soja sobe para quase 15% neste ano. Enfim, segundo dados da Embrapa e da Farsul, o custo de produção operacional médio subiu de R$ 48,23/saco no ano passado, para R$ 54,00 na atual safra. Isso significa que o custo operacional médio por hectare chega a R$ 2.718,00 neste ano, contra R$ 2.428,00 no ano passado. Um aumento de 12%! Dito de outra forma, diante dos preços médios de balcão praticados, a receita líquida média operacional dos produtores gaúchos de soja recua, neste ano, em torno de 50% (passa de R$ 1.243,07/ha em 2016, para R$ 623,91/ha em 2017). É claro que os produtores que obtiverem uma produtividade maior, em relação à média projetada, terão melhores resultados. Ou, se a média final deste ano for maior, o resultado final melhorará. Mesmo assim o resultado econômico final tende a ser menor neste ano. Por sua vez, aqueles produtores que venderam antecipadamente parte de sua safra, a preços superiores até o momento, também melhoram seu resultado líquido final. Mas, neste ano, até o início de março, apenas 24% da safra havia sido negociada antecipadamente no estado, enquanto na mesma época do ano passado o percentual era de 40% (cf. Safras & Mercado). Assim, um número significativo de produtores gaúchos de soja está ameaçado de obter um resultado econômico bem abaixo do obtido em 2016. Portanto, a atual safra, sem dúvida positiva em termos físicos, nos coloca uma realidade econômica muito menos atraente. A mesma ajuda, mas será insuficiente para alavancar a economia na proporção que muitos esperam e todos gostariam que ocorresse.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Expodireto Cotrijal 2017 28º FÓRUM NACIONAL DA SOJA Não-Me-Toque-RS - 07 de março de 2017 DOCUMENTO-SÍNTESE*

*Documento elaborado pelo Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, consultor do 28° Fórum Nacional da Soja.

Expodireto Cotrijal 2017
28º FÓRUM NACIONAL DA SOJA
07 de março de 2017  Não-Me-Toque-RS
P R O G R A M A
 Abertura:       Nei César Mânica, Presidente da Expodireto Cotrijal                                       
                       Caio Cézar F. Vianna, Presidente da CCGL/Termasa-Tergrasa
                       Paulo Cezar Pires, Presidente da FecoAgro
                          José Paulo Cairolli, Vice-governador do Rio Grande do Sul
                                                                          
 1ª Palestra:
      Soja: manejo para altos rendimentos
Dirceu Gassen
Engenheiro agrônomo pela Universidade de Passo Fundo (UPF), professor de controle integrado de pragas do Instituto de Ciências Agronômicas de Passo Fundo (RS).
                      
Moderador: Fernando Geraldo Martins – Coordenador Técnico Detec Cotrijal
        
2ª Palestra:
       Perspectivas econômicas
                     Constantin Jancsó
Economista pela Universidade de Michigan (EUA), mestre em Economia e Finanças pela FGV-SP. Atua no Bradesco desde 2016.

Moderador: Caio Cézar F. Vianna-Presidente da CCGL/Termasa-Tergrasa

3ª Palestra:
       Tendências para o mercado de soja e milho em 2017/18
                     Fernando Muraro Jr.
Engenheiro Agrônomo pela UFPR, mestre em Economia Agrícola na Itália e especialista em análise de mercado nos EUA. Fundador da AgRural Commodities Agrícolas.

Moderador: Paulo Cezar Pires–Presidente da FecoAgro

4ª Palestra:
Atribuição, ocupação e uso das terras no Brasil e no exterior. Primeiras análises e resultados do CAR no Brasil e RS
                        Evaristo E. de Miranda
Engenheiro Agrônomo, formado na França, com mestrado e doutorado pela Universidade de Montpellier (França). Chefe Geral da Embrapa Monitoramento por Satélite.

Moderador: José Ruedell – Coordenador Técnico de Pesquisa da CCGL

Encerramento
1 – Manejo para altos rendimentos
         O palestrante Dirceu Gassen iniciou sua palestra fazendo um alerta. Ao mesmo tempo em que reconhece que a soja vai muito bem em diversos aspectos, existem ainda fatores limitantes que causam perdas ou impedem rendimentos ainda melhores à produção da oleaginosa.
         Embora a soja seja o ciclo econômico mais importante na história brasileira, o Brasil não possui sistemas organizados de produção. Aliás, essa constatação vale para os demais sistemas produtivos.
         Nesse momento, por exemplo, o perfil de produção está mudando rapidamente, exigindo mais conhecimento e informação. Infelizmente, o Estado brasileiro não avançou nessa direção. A função pública de organizar a produção não acompanhou o ritmo das necessidades do país. Tanto é verdade que, entre 2000 e 2017, a produtividade média brasileira cresceu apenas 0,9% enquanto seria necessário um crescimento de 3% ao ano. Na prática, o que sustentou a produção nos últimos anos foi a disparada dos preços, porém, a mesma tem limites e aos poucos os mesmos voltam a patamares normais. Assim, para superar essa realidade os produtores precisam aumentar a produtividade.
         Ora, esse aumento de produtividade está ligado diretamente ao conhecimento tecnológico, o qual precisa avançar ainda mais. Especialmente porque o ciclo de semeadura da soja encurtou e não há mais espaços para erros.
         Em sendo assim, precisamos mudar o modelo e a forma de semear as culturas. No caso específico da soja, o palestrante destacou que ainda falta ciência em sua atividade.
         Trata-se de vencer o desafio de produzir com mais competitividade aliada à sustentabilidade. Afinal, os custos de produção continuarão aumentando; o clima continuará imprevisível, o ataque de pragas será mais severo; e o mercado sempre mais exigente. Isso nos obriga a aumentar a produtividade com renda, ou seja, não há mais espaço para lavouras baratas.
         Para fazer a diferença e vencer tal desafio, torna-se imperioso capacitar as equipes, as pessoas, especialmente os jovens rurais, visando melhorar os processos e aumentar o conhecimento no campo.
         Assim, o ponto central de todo o processo está no ser humano, o qual faz a diferença quanto mais qualificado estiver.
         A palestra encerrou com a conclusão de que o maior desafio de todos, dentro do contexto existente, é produzir mais, com qualidade e sustentabilidade, pois a fase da facilidade do controle químico passou.

2 – A economia mundial e brasileira
         A segunda palestra, ministrada pelo economista do banco Bradesco, Sr. Constantin Jancsó, iniciou destacando que o PIB mundial, aos poucos, está retornando à média histórica, em torno de 3,5% ao ano. As consequências de tal comportamento tende a ser o fim da era dos juros zero junto aos países ricos. Isso irá atingir o mercado de juros e de câmbio. Mesmo porque os países emergentes não estão acompanhando  esse processo de alta nos últimos meses, a começar pelo Brasil.
         Paralelamente, o mundo desenvolvido está voltando à “normalização” da inflação, a qual seria algo entre 2% a 2,5% ao ano. Ora, tal movimento leva a um aumento dos juros (para os EUA espera-se que os mesmos voltem ao nível de 2,5% ao ano nós próximos anos). Em o juro subindo nos EUA, a tendência é de o Real se fortalecer, mesmo com o chamado “risco Trump” presente na atualidade. Isso significa desvalorização das moedas dos países emergentes.
         Dito isso, o palestrante surpreendeu ao considerar que o Real tenderia a se manter valorizado devido ao ambiente interno brasileiro. Este ambiente, que indica uma recuperação, mesmo que bastante lenta do PIB, já aponta um crescimento positivo para 2017 (entre 0,3% a 0,5%). Assim, a boa notícia é que o Brasil voltará a crescer. A má notícia é que o processo será muito lento. Outro aspecto é que a inflação surpreende positivamente ao recuar fortemente nestes últimos 12 meses. Com isso, o juro básico brasileiro pode ser reduzido de forma mais acelerada. As projeções do Bradesco apontam para uma Selic em apenas 8,5% ao ano no final de 2017.
         Tudo isso leva a uma melhoria da confiança do empresariado nacional, onde 40% já veem reflexos positivos em seu setor de atuação.
         O ponto negativo continuará sendo o desemprego, o qual demorará para diminuir. O mesmo poderá chegar até 13,4 milhões de pessoas no país.
         Enfim, o palestrante espera que o câmbio no Brasil fique ao redor de R$ 3,15 por dólar no final do corrente ano, após as primeiras projeções do Bradesco indicarem R$ 3,45. Tal valor manteria o Real sobrevalorizado já que a média para o período 1999-2014 é de R$ 3,54.
         Dito isso, há o reconhecimento de que existem muitos fatores que podem alterar essa perspectiva cambial. Se por um lado o conjunto de ajustes na economia brasileira pode melhorar, ainda neste ano, a nota de risco do Brasil, fortalecendo o Real, igualmente é verdade que há muita instabilidade política no país, fato que pode emperrar a aprovação destas medidas de ajuste necessárias.
         Enfim, como conclusão e em resposta ao questionamento do moderador de sua palestra, disse que o governo está tentando reduzir a oferta de crédito subsidiado, fato que tende a atingir o setor primário. Ou seja, o juro agrícola não deverá baixar de forma significativa.

3 – Chicago “financeirizado”
         O palestrante Fernando Muraro, a quem coube discorrer sobre a tendência do mercado da soja, iniciou sua explanação destacando que o mercado internacional da oleaginosa está totalmente “financeirizado”. Dito de outra forma, Chicago está sob forte influência dos Fundos. Estes, diante de um quadro de juros muito baixos nos países ricos, investem em soja e derivados. Todavia, o ciclo de juros baixos está terminando. Assim, se a presença dos Fundos eleva a cotação da soja, sem razão ligada aos fundamentos do mercado (os quais são baixistas), também é verdade que o aumento dos juros tende a levar a uma saída parcial destes Fundos do mercado da soja, pressionando para baixo as cotações internacionais das commodities em geral e da soja em particular.
         Nesse contexto, analisar o mercado da soja está muito difícil nestes últimos anos. Há uma variação muito grande entre os preços mínimo e máximo praticados no mercado. Em síntese, não são mais os fatores fundamentais (oferta e demanda do produto físico, por exemplo) que influenciam o mercado e sim o setor financeiro. Ou seja, a soja tornou-se um ativo financeiro. Tanto é verdade que, em 2016, Chicago negociou 25 vezes o equivalente da produção física mundial.
         Isso exige cada vez mais que o produtor de soja faça média de comercialização. Para os analistas, a exigência é o uso de modelos de análise cada vez mais sofisticados.
         A partir desta análise mais estrutural, o palestrante destacou aspectos conjunturais do mercado, afirmando que a safra sul-americana deverá atingir a 176 milhões de toneladas neste ano (um recorde), após os 117,2 milhões dos EUA. No Rio Grande do Sul o volume poderá chegar a 16,8 milhões de toneladas. Todavia, os produtores continuam perdendo na infraestrutura, a qual se mantém ruim no país. Mesmo assim, a margem operacional deste ano será positiva, a uma produtividade um pouco superior aos 50 sacos/ha.
         Por outro lado, alertou para o fato de que os produtores dos EUA devem semear mais soja do que milho neste ano, assim como que a quebra de safra na Argentina não deverá ser muito importante. Tais fatores adicionam elementos baixistas em Chicago para os próximos dois meses, especialmente se os Fundos saírem de suas posições compradas de forma mais intensa.
         Em termos de preço, o palestrante indicou que espera Chicago trabalhando entre US$ 9,00 e US$ 11,00/bushel em 2017. Todavia, se a futura safra dos EUA for cheia as cotações poderão recuar para níveis de US$ 8,00/bushel. Em havendo frustração de safra, o teto de US$ 11,00/bushel pode ser superado.
         Em conclusão, foi reforçada a ideia de que os Fundos dominam, hoje, o mercado da soja, onde cerca de 50% dos contratos em aberto estão em suas mãos. Nesse contexto, a relação juros/câmbio é o elemento central do mercado. Nesse contexto, a volatilidade do mercado continuará muito grande, sendo que neste ano de 2017 a mesma estará especialmente mais forte.
         Diante desse contexto, o foco é o aumento de produtividade, sendo a comercialização uma estratégia de formação de média, com vendas escalonadas no ano. Especialmente porque em reais, o preço da soja, neste ano, deverá variar em mais de R$ 20,00/saco entre o mínimo e o máximo.

4 – Os agricultores não são os vilões
         O Sr. Evaristo E. de Miranda, pesquisador da Embrapa, em sua palestra trouxe dados reveladores e que desmistificam muitas ideias pré-concebidas a respeito do uso da terra no Brasil.
         Destacando que a atribuição de terras no país é de competência do governo federal, apontou que 37,1% (12.184 áreas e 315.924.844 hectares) das mesmas são protegidas, enquanto os grandes países do mundo protegem apenas 10% de seu território. Além disso, enquanto o Brasil protege terras até mesmo nobres, estes demais países protegem áreas de pouco interesse, como desertos por exemplo.
         Quanto à ocupação de terras, 17% correspondem à vegetação nativa em unidades de conservação, enquanto 13% correspondem à vegetação nativa em terras indígenas. Por sua vez, a agricultura brasileira em seu total ocupa apenas 8% das terras do país. No que diz respeito às margens de rios, enquanto os outros países ocupam tudo, no Brasil, grande parte é protegida. Na opinião do palestrante, os estrangeiros não estariam errados.
         Igualmente, dentro do contexto apresentado, o Sr. Evaristo defendeu a necessidade de se aumentar a competitividade do agronegócio em geral e da soja em particular.
         Nesse contexto, a partir dos dados do CAR, destacou que, no Rio Grande do Sul, os agricultores preservam 3,56 milhões de hectares, ou seja, 13% da área do estado, e 21% da área agrícola. No geral, 23% do total do Rio Grande do Sul estariam preservados, junto a pouco mais de 446.000 estabelecimentos rurais.
         Finalizou sua apresentação apontando que o Rio Grande do Sul é provavelmente o estado do país que mais preserva terras e que os agricultores são os que mais a preservam, confirmando que tal realidade desmente o que parte da sociedade nacional imagina ou mesmo afirma.



quinta-feira, 2 de março de 2017

Análise semanal do mercado da soja, do milho e do trigo

24/02/2017 a 02/03/2017)




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REAL SOBREVALORIZADO (Final)

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
02/03/2017


Dando continuidade a nossa coluna da semana passada, além do superávit comercial recorde de 2016, que gerou muitos dólares no país, tem-se que neste ano de 2017, até o final da segunda semana de fevereiro, o saldo positivo já era de US$ 3,89 bilhões, contra US$ 2,21 bilhões em igual momento de 2016. Um quarto fator que ajuda a explicar a sobrevalorização do Real, cristalizada em meados de fevereiro passado, estava no fato de que o Banco Central brasileiro continuava, na oportunidade, a vender dólares, reforçando a tendência de um Real forte. Na prática, o mercado parecia estar testando o governo para ver em que níveis o Bacen passaria a comprar dólares. Tudo indicando que o piso aceitável é de R$ 3,00 por dólar. Em quinto lugar, independente das discussões políticas e dos efeitos sociais das medidas de ajuste, o mercado apoia as decisões visando colocar a economia nos trilhos e acaba gerando um cenário de maior confiança no futuro econômico do país. Enfim, a nova lei de repatriação de dinheiro, enviado ilegalmente ao exterior por alguns brasileiros, deverá trazer novos bilhões de dólares ao país (no ano passado, a primeira lei a respeito, pelo câmbio médio do ano, injetou cerca de US$ 14 bilhões). Nesse contexto, como o Real iniciaria um processo de desvalorização até o final do ano? Provavelmente, e logo mais, o Banco Central dos EUA retomará a alta de seus juros básicos visando evitar um aumento da inflação local a partir das medidas expansionistas de Trump (desde que elas sejam realmente implantadas). Paralelamente, no Brasil o Bacen não poderá continuar a baixar a Selic indefinidamente. Tudo indica que a mesma estacionará entre 10% e 11% ao ano, embora haja espaço para atingir 9% na atual conjuntura. Por outro lado, há muitas incertezas quanto à política brasileira, a começar pelo próprio governo Temer, à luz do que a Operação Lava Jato vem apurando. Enfim, a partir do início de 2018 o mercado tende a entrar em ritmo de espera, pois o quadro eleitoral de hoje não oferece nenhuma segurança quanto aos brasileiros elegerem um governo realmente capaz no final do próximo ano. Soma-se a tudo isso a real capacidade do Banco Central brasileiro e a equipe econômica em gerenciar as oscilações cambiais, a fim de manter o Real em um patamar aceitável, tanto para exportadores quanto para importadores, que hoje seria algo em torno de R$ 3,50 pela paridade de poder de compra.

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