*Documento elaborado pelo Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, consultor do 28° Fórum Nacional da Soja.
Expodireto Cotrijal 2017
28º FÓRUM NACIONAL DA
SOJA
07 de março de 2017 Não-Me-Toque-RS
P R O G R A M A
Abertura: Nei
César Mânica, Presidente da Expodireto Cotrijal
Caio Cézar F. Vianna, Presidente da CCGL/Termasa-Tergrasa
Paulo Cezar Pires, Presidente da FecoAgro
José Paulo Cairolli, Vice-governador do Rio Grande do Sul
1ª Palestra:
Soja:
manejo para altos rendimentos
Dirceu Gassen
Engenheiro agrônomo pela Universidade de Passo Fundo (UPF), professor
de controle integrado de pragas do Instituto de Ciências Agronômicas de Passo
Fundo (RS).
Moderador: Fernando Geraldo Martins –
Coordenador Técnico Detec Cotrijal
2ª Palestra:
Perspectivas econômicas
Constantin Jancsó
Economista pela Universidade de Michigan (EUA),
mestre em Economia e Finanças pela FGV-SP. Atua no Bradesco desde 2016.
Moderador: Caio Cézar F. Vianna-Presidente da
CCGL/Termasa-Tergrasa
3ª Palestra:
Tendências
para o mercado de soja e milho em 2017/18
Fernando Muraro Jr.
Engenheiro Agrônomo pela UFPR, mestre em Economia Agrícola na Itália e
especialista em análise de mercado nos EUA. Fundador da AgRural Commodities
Agrícolas.
Moderador: Paulo Cezar Pires–Presidente
da FecoAgro
4ª Palestra:
Atribuição,
ocupação e uso das terras no Brasil e no exterior. Primeiras análises e
resultados do CAR no Brasil e RS
Evaristo E. de Miranda
Engenheiro Agrônomo, formado na França, com mestrado e doutorado pela
Universidade de Montpellier (França). Chefe Geral da Embrapa Monitoramento por
Satélite.
Moderador: José Ruedell – Coordenador Técnico de
Pesquisa da CCGL
Encerramento
1 – Manejo para altos rendimentos
O
palestrante Dirceu Gassen iniciou sua palestra fazendo um alerta. Ao mesmo
tempo em que reconhece que a soja vai muito bem em diversos aspectos, existem
ainda fatores limitantes que causam perdas ou impedem rendimentos ainda
melhores à produção da oleaginosa.
Embora
a soja seja o ciclo econômico mais importante na história brasileira, o Brasil
não possui sistemas organizados de produção. Aliás, essa constatação vale para
os demais sistemas produtivos.
Nesse
momento, por exemplo, o perfil de produção está mudando rapidamente, exigindo
mais conhecimento e informação. Infelizmente, o Estado brasileiro não avançou
nessa direção. A função pública de organizar a produção não acompanhou o ritmo
das necessidades do país. Tanto é verdade que, entre 2000 e 2017, a
produtividade média brasileira cresceu apenas 0,9% enquanto seria necessário um
crescimento de 3% ao ano. Na prática, o que sustentou a produção nos últimos
anos foi a disparada dos preços, porém, a mesma tem limites e aos poucos os
mesmos voltam a patamares normais. Assim, para superar essa realidade os
produtores precisam aumentar a produtividade.
Ora,
esse aumento de produtividade está ligado diretamente ao conhecimento
tecnológico, o qual precisa avançar ainda mais. Especialmente porque o ciclo de
semeadura da soja encurtou e não há mais espaços para erros.
Em
sendo assim, precisamos mudar o modelo e a forma de semear as culturas. No caso
específico da soja, o palestrante destacou que ainda falta ciência em sua
atividade.
Trata-se
de vencer o desafio de produzir com mais competitividade aliada à
sustentabilidade. Afinal, os custos de produção continuarão aumentando; o clima
continuará imprevisível, o ataque de pragas será mais severo; e o mercado
sempre mais exigente. Isso nos obriga a aumentar a produtividade com renda, ou
seja, não há mais espaço para lavouras baratas.
Para
fazer a diferença e vencer tal desafio, torna-se imperioso capacitar as
equipes, as pessoas, especialmente os jovens rurais, visando melhorar os
processos e aumentar o conhecimento no campo.
Assim,
o ponto central de todo o processo está no ser humano, o qual faz a diferença
quanto mais qualificado estiver.
A
palestra encerrou com a conclusão de que o maior desafio de todos, dentro do
contexto existente, é produzir mais, com qualidade e sustentabilidade, pois a
fase da facilidade do controle químico passou.
2 – A
economia mundial e brasileira
A
segunda palestra, ministrada pelo economista do banco Bradesco, Sr. Constantin
Jancsó, iniciou destacando que o PIB mundial, aos poucos, está retornando à
média histórica, em torno de 3,5% ao ano. As consequências de tal comportamento
tende a ser o fim da era dos juros zero junto aos países ricos. Isso irá
atingir o mercado de juros e de câmbio. Mesmo porque os países emergentes não
estão acompanhando esse processo de alta
nos últimos meses, a começar pelo Brasil.
Paralelamente,
o mundo desenvolvido está voltando à “normalização” da inflação, a qual seria
algo entre 2% a 2,5% ao ano. Ora, tal movimento leva a um aumento dos juros
(para os EUA espera-se que os mesmos voltem ao nível de 2,5% ao ano nós
próximos anos). Em o juro subindo nos EUA, a tendência é de o Real se
fortalecer, mesmo com o chamado “risco Trump” presente na atualidade. Isso
significa desvalorização das moedas dos países emergentes.
Dito
isso, o palestrante surpreendeu ao considerar que o Real tenderia a se manter
valorizado devido ao ambiente interno brasileiro. Este ambiente, que indica uma
recuperação, mesmo que bastante lenta do PIB, já aponta um crescimento positivo
para 2017 (entre 0,3% a 0,5%). Assim, a boa notícia é que o Brasil voltará a
crescer. A má notícia é que o processo será muito lento. Outro aspecto é que a
inflação surpreende positivamente ao recuar fortemente nestes últimos 12 meses.
Com isso, o juro básico brasileiro pode ser reduzido de forma mais acelerada.
As projeções do Bradesco apontam para uma Selic em apenas 8,5% ao ano no final
de 2017.
Tudo
isso leva a uma melhoria da confiança do empresariado nacional, onde 40% já
veem reflexos positivos em seu setor de atuação.
O
ponto negativo continuará sendo o desemprego, o qual demorará para diminuir. O
mesmo poderá chegar até 13,4 milhões de pessoas no país.
Enfim,
o palestrante espera que o câmbio no Brasil fique ao redor de R$ 3,15 por dólar
no final do corrente ano, após as primeiras projeções do Bradesco indicarem R$
3,45. Tal valor manteria o Real sobrevalorizado já que a média para o período
1999-2014 é de R$ 3,54.
Dito
isso, há o reconhecimento de que existem muitos fatores que podem alterar essa
perspectiva cambial. Se por um lado o conjunto de ajustes na economia
brasileira pode melhorar, ainda neste ano, a nota de risco do Brasil,
fortalecendo o Real, igualmente é verdade que há muita instabilidade política
no país, fato que pode emperrar a aprovação destas medidas de ajuste
necessárias.
Enfim,
como conclusão e em resposta ao questionamento do moderador de sua palestra, disse
que o governo está tentando reduzir a oferta de crédito subsidiado, fato que
tende a atingir o setor primário. Ou seja, o juro agrícola não deverá baixar de
forma significativa.
3 – Chicago
“financeirizado”
O
palestrante Fernando Muraro, a quem coube discorrer sobre a tendência do
mercado da soja, iniciou sua explanação destacando que o mercado internacional
da oleaginosa está totalmente “financeirizado”. Dito de outra forma, Chicago
está sob forte influência dos Fundos. Estes, diante de um quadro de juros muito
baixos nos países ricos, investem em soja e derivados. Todavia, o ciclo de
juros baixos está terminando. Assim, se a presença dos Fundos eleva a cotação
da soja, sem razão ligada aos fundamentos do mercado (os quais são baixistas),
também é verdade que o aumento dos juros tende a levar a uma saída parcial
destes Fundos do mercado da soja, pressionando para baixo as cotações
internacionais das commodities em geral e da soja em particular.
Nesse
contexto, analisar o mercado da soja está muito difícil nestes últimos anos. Há
uma variação muito grande entre os preços mínimo e máximo praticados no
mercado. Em síntese, não são mais os fatores fundamentais (oferta e demanda do
produto físico, por exemplo) que influenciam o mercado e sim o setor
financeiro. Ou seja, a soja tornou-se um ativo financeiro. Tanto é verdade que,
em 2016, Chicago negociou 25 vezes o equivalente da produção física mundial.
Isso
exige cada vez mais que o produtor de soja faça média de comercialização. Para
os analistas, a exigência é o uso de modelos de análise cada vez mais
sofisticados.
A
partir desta análise mais estrutural, o palestrante destacou aspectos
conjunturais do mercado, afirmando que a safra sul-americana deverá atingir a
176 milhões de toneladas neste ano (um recorde), após os 117,2 milhões dos EUA.
No Rio Grande do Sul o volume poderá chegar a 16,8 milhões de toneladas.
Todavia, os produtores continuam perdendo na infraestrutura, a qual se mantém
ruim no país. Mesmo assim, a margem operacional deste ano será positiva, a uma
produtividade um pouco superior aos 50 sacos/ha.
Por
outro lado, alertou para o fato de que os produtores dos EUA devem semear mais
soja do que milho neste ano, assim como que a quebra de safra na Argentina não
deverá ser muito importante. Tais fatores adicionam elementos baixistas em
Chicago para os próximos dois meses, especialmente se os Fundos saírem de suas
posições compradas de forma mais intensa.
Em
termos de preço, o palestrante indicou que espera Chicago trabalhando entre US$
9,00 e US$ 11,00/bushel em 2017. Todavia, se a futura safra dos EUA for cheia
as cotações poderão recuar para níveis de US$ 8,00/bushel. Em havendo
frustração de safra, o teto de US$ 11,00/bushel pode ser superado.
Em
conclusão, foi reforçada a ideia de que os Fundos dominam, hoje, o mercado da
soja, onde cerca de 50% dos contratos em aberto estão em suas mãos. Nesse
contexto, a relação juros/câmbio é o elemento central do mercado. Nesse
contexto, a volatilidade do mercado continuará muito grande, sendo que neste
ano de 2017 a mesma estará especialmente mais forte.
Diante
desse contexto, o foco é o aumento de produtividade, sendo a comercialização
uma estratégia de formação de média, com vendas escalonadas no ano.
Especialmente porque em reais, o preço da soja, neste ano, deverá variar em
mais de R$ 20,00/saco entre o mínimo e o máximo.
4 – Os
agricultores não são os vilões
O
Sr. Evaristo E. de Miranda, pesquisador da Embrapa, em
sua palestra trouxe dados reveladores e que desmistificam muitas ideias
pré-concebidas a respeito do uso da terra no Brasil.
Destacando que a
atribuição de terras no país é de competência do governo federal, apontou que
37,1% (12.184 áreas e 315.924.844 hectares) das mesmas são protegidas, enquanto
os grandes países do mundo protegem apenas 10% de seu território. Além disso,
enquanto o Brasil protege terras até mesmo nobres, estes demais países protegem
áreas de pouco interesse, como desertos por exemplo.
Quanto à ocupação de
terras, 17% correspondem à vegetação nativa em unidades de conservação,
enquanto 13% correspondem à vegetação nativa em terras indígenas. Por sua vez,
a agricultura brasileira em seu total ocupa apenas 8% das terras do país. No
que diz respeito às margens de rios, enquanto os outros países ocupam tudo, no
Brasil, grande parte é protegida. Na opinião do palestrante, os estrangeiros
não estariam errados.
Igualmente, dentro do
contexto apresentado, o Sr. Evaristo defendeu a necessidade de se aumentar a
competitividade do agronegócio em geral e da soja em particular.
Nesse contexto, a partir
dos dados do CAR, destacou que, no Rio Grande do Sul, os agricultores preservam
3,56 milhões de hectares, ou seja, 13% da área do estado, e 21% da área
agrícola. No geral, 23% do total do Rio Grande do Sul estariam preservados,
junto a pouco mais de 446.000 estabelecimentos rurais.
Finalizou sua
apresentação apontando que o Rio Grande do Sul é provavelmente o estado do país
que mais preserva terras e que os agricultores são os que mais a preservam,
confirmando que tal realidade desmente o que parte da sociedade nacional
imagina ou mesmo afirma.