Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
02/03/2017
Dando continuidade
a nossa coluna da semana passada, além do superávit comercial recorde de 2016,
que gerou muitos dólares no país, tem-se que neste ano de 2017, até o final da
segunda semana de fevereiro, o saldo positivo já era de US$ 3,89 bilhões,
contra US$ 2,21 bilhões em igual momento de 2016. Um quarto fator que ajuda a
explicar a sobrevalorização do Real, cristalizada em meados de fevereiro
passado, estava no fato de que o Banco Central brasileiro continuava, na
oportunidade, a vender dólares, reforçando a tendência de um Real forte. Na
prática, o mercado parecia estar testando o governo para ver em que níveis o
Bacen passaria a comprar dólares. Tudo indicando que o piso aceitável é de R$
3,00 por dólar. Em quinto lugar, independente das discussões políticas e dos
efeitos sociais das medidas de ajuste, o mercado apoia as decisões visando
colocar a economia nos trilhos e acaba gerando um cenário de maior confiança no
futuro econômico do país. Enfim, a nova lei de repatriação de dinheiro, enviado
ilegalmente ao exterior por alguns brasileiros, deverá trazer novos bilhões de
dólares ao país (no ano passado, a primeira lei a respeito, pelo câmbio médio
do ano, injetou cerca de US$ 14 bilhões). Nesse contexto, como o Real iniciaria
um processo de desvalorização até o final do ano? Provavelmente, e logo mais, o
Banco Central dos EUA retomará a alta de seus juros básicos visando evitar um
aumento da inflação local a partir das medidas expansionistas de Trump (desde
que elas sejam realmente implantadas). Paralelamente, no Brasil o Bacen não
poderá continuar a baixar a Selic indefinidamente. Tudo indica que a mesma
estacionará entre 10% e 11% ao ano, embora haja espaço para atingir 9% na atual
conjuntura. Por outro lado, há muitas incertezas quanto à política brasileira,
a começar pelo próprio governo Temer, à luz do que a Operação Lava Jato vem
apurando. Enfim, a partir do início de 2018 o mercado tende a entrar em ritmo
de espera, pois o quadro eleitoral de hoje não oferece nenhuma segurança quanto
aos brasileiros elegerem um governo realmente capaz no final do próximo ano.
Soma-se a tudo isso a real capacidade do Banco Central brasileiro e a equipe
econômica em gerenciar as oscilações cambiais, a fim de manter o Real em um
patamar aceitável, tanto para exportadores quanto para importadores, que hoje
seria algo em torno de R$ 3,50 pela paridade de poder de compra.