Argemiro Luís Brum
29/11/2018
A situação geral de nosso
país beira o caos, depois de anos de desmandos e descontroles econômicos,
corrupção e demagogias. Hoje, cresce a expectativa de um bom número de
brasileiros quanto a possibilidade de o novo governo, recentemente eleito, dar
um fim a esse descalabro. Tarefa longe de ser fácil, pois os desafios são
imensos e urgentes, algo que exige estofo político, difícil de ser encontrado. Ficando
apenas com alguns aspectos socioeconômicos, a realidade que temos e os desafios
que a mesma engendra passa, em primeiro lugar, pela necessidade urgente de
reduzir o desemprego e eliminarmos o déficit público. Há grande capacidade
ociosa de nossas empresas, fato que inibe investimentos. Isso só melhora com
estímulo à demanda. Sem a geração de emprego não há demanda suficiente. Ora, a
demanda aqueceria se o crédito fosse realmente acessível. Não é o caso, longe disso!
Entre março de 2013 e setembro de 2018 o juro real médio comercial, praticado,
aumentou 39,8% para pessoas físicas, e 24% para as empresas. Enquanto isso, a
Selic recuou, no período, 10,34%. Em outubro/18, o juro médio comercial, para
pessoa física, estava em 83,31% enquanto para as empresas o juro de capital de
giro chegava a 22,13%, enquanto a Selic permanecia em 6,5% aa (cf. Anefac). Por
sua vez, o desemprego atingia a 11,9% da população ativa. Em percentagem o
mesmo está diminuindo, porém, a qualidade do mesmo é comprometedora. De fato, o
que está crescendo é o emprego informal, sem carteira assinada. Hoje, o número
de trabalhadores na informalidade supera o de empregados formais, sendo que o
número de trabalhadores privados na informalidade cresceu 4,7% no trimestre
julho-setembro de 2018, enquanto o total de trabalhadores formais ficou estável
no período. Assim, a economia nacional cresce muito pouco. A indústria, por
exemplo, segundo dados da OCDE e da Eurostat, utilizados pelo Iedi, ficava na
30ª posição, dentre 48 países estudados, em 2017. Após os sete primeiros meses
de 2018, nossa indústria caiu para a 33ª posição neste ranking. No trimestre
julho-setembro 2018 a mesma recuou 2,7%. Em termos anuais, os nove primeiros
meses do corrente ano colocam o crescimento de nossa indústria em um nível
16,4% menor do que o auge alcançado em maio de 2011, estando agora no mesmo
nível de março de 2009. Paralelamente, a concentração de renda, via impostos e
tributos em geral, nas mãos da União, é assombrosa (a mesma fica com pouco mais
de 70% do total). Neste contexto, não é de admirar que um terço dos municípios
brasileiros não gera receita nem mesmo para pagar o salário de seus prefeitos,
vereadores e secretários, sendo que cidades com população inferior a 20 mil
habitantes, na média, têm receita própria de apenas 9,7% de suas necessidades.
(segue)