Argemiro
Luís Brum
22/11/2018
No cenário internacional,
a nova política de comércio exterior apontada pelo futuro ministro da Economia vai
no caminho certo ao defender a ampliação de mercados e das exportações, visando
alavancar a indústria nacional. Há uma clara evidência de que o eixo da
política industrial mudará. A questão é: para onde? Alguns analistas indicam
que teremos um “modelo centralizado no governo”. Ora, isso incorre no risco de
criarmos novos subsídios e despesas públicas desnecessárias, exatamente o que
se deve cortar. Mas a ideia de ampliar a abertura comercial, com redução de
alíquotas de importação, e diminuir a burocracia no comércio exterior, é
bem-vinda. O problema é que, ao mesmo tempo, futuras promessas presidenciais na
área das relações exteriores tendem a colocar por “água à baixo” nosso comércio
exterior. Dentre elas está a ideia de mudar a embaixada brasileira em Israel,
para a cidade de Jerusalém, assim como a de fechar a embaixada palestina em
Brasília. Estaremos praticamente comprometendo grande parte do mercado árabe,
além das boas relações existentes entre estes povos aqui no Brasil. E a escolha
de Ernesto Araújo, para Ministro das Relações Exteriores, não dá garantias de
impedir tais erros diplomáticos. Enfim, pode-se dizer que o novo ministro da Economia
terá um curto período de “lua de mel” com o mercado, pois as cobranças logo
virão, especialmente se as ações públicas forem mal executadas. Neste sentido,
a grande questão é como Paulo Guedes se movimentará no governo e como serão
suas relações com o Congresso Nacional. Sabendo das dificuldades inerentes a
estes movimentos, o mercado está esperando, para 2019, apenas uma reforma
fiscal modesta. Afinal, a governabilidade não será fácil. Será preciso negociar
com 30 partidos diferentes, além das bancadas, no Congresso. Boa parte destes
partidos apoiaram Bolsonaro usando-o como trampolim para elegerem seus
candidatos. A partir de agora as relações entre ambos tende a ser diferente. Assim,
se o mercado e a sociedade estiverem acreditando em milagres, estão sendo muito
ingênuos a respeito do presidente eleito e de seu futuro ministro Guedes. Aliás,
se a ideia é resolver os problemas econômicos do país “com um só tiro, a la Collor
de Mello”, a mesma tem alto risco de fracasso. Para o tamanho da crise
brasileira, será preciso ações graduais, porém, com firmeza e conhecimento de
causa. E, neste ponto, a realidade é preocupante. Paulo Guedes, além de ser
considerado por muitos economistas renomados um “megalomaníaco”, em suas
declarações deixa tudo muito nebuloso, faltando poder de convencimento, na
medida em que faz a maioria de suas declarações de forma intempestiva, sem base
em cálculos técnicos aceitáveis, fato que o leva a constantes desmentidos, o
fragilizando sobremaneira antes mesmo de assumir oficialmente o cargo de
ministro.