Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
01/05/2014
O
mercado mundial da soja depende muito, nos últimos anos, do comportamento
comprador da China. Esse país deverá importar 63% do total a ser comercializado
pelo mundo no corrente ano comercial. Pois os chineses ameaçam voltar a uma
estratégia já realizada em 2004. Na época, após o bushel de soja atingir a US$
10,45 no início de abril daquele ano, a China começou a devolver soja ao Brasil
sob a acusação de que a mesma estava contaminada por fungicida. O evento ficou
conhecido como “soja vermelha”. Ocorre que até então os chineses aceitavam
normalmente certo teor de grãos tratados com esse fungicida nas cargas
compradas. Ou seja, na prática o objetivo era derrubar os preços mundiais da
oleaginosa. E conseguiram! No final de julho do mesmo ano o bushel já estava em
US$ 5,99, tendo atingido mesmo US$ 5,02 no início de novembro de 2004, com
auxílio de uma colheita normal nos EUA. Pois agora, a partir deste mês de abril
de 2014, os chineses enfrentam altos estoques, margens negativas em suas
indústrias moageiras, redução do consumo interno pela queda do crescimento
econômico e o retorno da gripe aviária em determinadas regiões de produção
avícola, grandes problemas de logística portuária, além dos altíssimos preços
mundiais da soja (Chicago está novamente acima dos US$ 15,00/bushel). Diante
disso, passaram a direcionar cargas de soja, compradas no Brasil e na
Argentina, para os EUA (os baixos estoques estadunidenses têm auxiliado a
viabilizar tal estratégia, fato que igualmente está segurando nas alturas as
atuais cotações da oleaginosa). Muitas cargas brasileiras, inclusive, estariam
sendo direcionadas pelos chineses, para a África. Igualmente passaram a
retardar compras e embarques de soja já adquirida na América do Sul. Ora, como
há uma expectativa de recorde de safra nos EUA para este ano de 2014 (somente a
área semeada com soja deverá crescer em 6,5% por lá), caso o clima ajude, os
EUA se fechará para a estratégia chinesa de repassar o produto sul-americano. É
por isso que operadores de mercado informam que trituradoras chinesas estariam
planejando um calote conjunto nas compras efetuadas na América do Sul para as
próximas semanas e/ou meses. Fala-se de novas devoluções na ordem de 1,2 milhão
de toneladas. Já se projeta um recuo nos preços mundiais da soja, para o segundo
semestre, em função da oferta e demanda natural. Pode-se imaginar a queda de
preços da soja, que ocorrerá então, se a China realmente adotar tal medida e
não tivermos outras estratégias de escoamento da oleaginosa.