Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
26/04/2014
O ESGOTAMENTO DO MODELO ALEMÃO?
A
crise mundial de 2007/08, que ainda perdura, nos permite lembrar que a economia
funciona em ciclos. Ou seja, assim como ocorrem as crises, acontecem as saídas
de crise e os tempos de bonança econômica. É muito difícil manter um processo
de crescimento e desenvolvimento constante por longo tempo. Todavia, é possível
evitar que os períodos de declínio econômico se tornem agudos para os cidadãos.
Tudo depende de como a economia de cada país é gerida. De como o Estado está
organizado para dar conta da evolução econômica, hoje cada vez mais
interdependente em função de uma globalização irreversível. De como os governos
se posicionam para ajustar as finanças públicas nos momentos positivos,
precavendo-se para os momentos de dificuldades. E nesse sentido encontramos
diferentes estratégias e, em alguns casos, nenhuma estratégia! A crise de 2007/08
iniciou nos EUA e se estendeu, no seu início, para os países desenvolvidos em
função de suas relações financeiras, via um sistema bancário interligado e
desregulamentado em exagero. Os Estados foram chamados a socorrer as economias
combalidas, dentro da lógica keynesiana, fato que acabou gerando a crise da
dívida pública. Esta atingiu em cheio países menores da União Europeia, caso da
Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha... Paralelamente, os países emergentes como
a China e o Brasil, por exemplo, apostaram em seu importante mercado interno,
liberando crédito e fazendo do consumo interno um ponto de resistência à crise
mundial. As duas estratégias se esgotaram a partir de 2011. De um lado, o
déficit público se tornou insustentável junto à maioria dos países ricos,
forçando a ajustes estruturais pesados em suas economias, fato que leva a
consequências sociais negativas. De outro lado, sem uma capacidade produtiva
adequada, com infraestrutura insuficiente e poucos investimentos produtivos, os
emergentes se viram às voltas com a disparada inflacionária. Isso os obriga a
frear suas economias pelo aumento dos juros, fato que leva a um constante recuo
do PIB anual. Nesse ciclo de crise mundial, todavia, um país industrializado
acabou saindo-se melhor do que os demais. Trata-se da Alemanha! Todavia, agora
que o mundo desenvolvido inicia uma saída da crise, enquanto os emergentes nela
começam a afundar, a Alemanha igualmente corre o risco de claudicar. O que
estaria ocorrendo?
O ESGOTAMENTO DO MODELO ALEMÃO?
(II)
Na
prática, das grandes regiões desenvolvidas do mundo, a Europa Ocidental é a que
mais dificuldades encontra para sair da crise. Todavia, a Alemanha, graças a um
equilíbrio orçamentário, a finanças públicas impecáveis, a uma alta
competitividade produtiva industrial, um quase pleno-emprego, e uma política de
exportações agressiva, a qual lhe valeu fortes acusações de seus pares da União
Europeia (os mesmos defendiam que a Alemanha deveria colaborar para tirá-los da
crise aumentando as importações de seus produtos e não o contrário), a economia
da Alemanha, até meados de 2013 se mostrou robusta. Mas a questão chave sempre
é: por quanto tempo? A resposta parece estar chegando nestes últimos meses. A
robustez da economia alemã estaria se esgotando. A população envelhece
rapidamente; há ainda muita desigualdade entre os trabalhadores industriais,
bem pagos, e os trabalhadores do setor de serviços; e ocorrem tensões sociais
oriundas desta desigualdade que obrigam os políticos alemães a agirem
rapidamente se não quiserem assistir a um declínio econômico da Alemanha. Uma
das alternativas para enfrentar o problema estaria no fato de reverter a lógica
exportadora, dando ênfase, a partir de agora, ao consumo interno. Isso faria,
por tabela, acelerar igualmente as importações, ajudando os demais países
europeus e mesmo do mundo. Todavia, os economistas alemães do Deutsche Bank
alertam que nos últimos 20 anos o consumo interno jamais conseguiu substituir a
demanda externa, ou seja, os resultados positivos das exportações.
O ESGOTAMENTO DO MODELO ALEMÃO?
(III)
Além
disso, a Alemanha pretende substituir a energia nuclear (que movimenta mais de
80% de sua economia na atualidade), até 2022, por uma energia mais “limpa”. O
problema é: que energia e a que custo para os agentes produtivose para o Estado?
Em fazendo isso, o sistema produtivo alemão não perderia competitividade no
cenário internacional? São questões chaves que os empresários e mesmo o governo
local se colocam. Paralelamente, na prática, as exportações têm diminuído no
transcorrer dos meses de 2013 e não surgem movimentos de mudanças neste início
de 2014. Além disso, o país se mostra carente em start-up e empresas de novas
tecnologias. Soma-se a isso o fato de que a alta produtividade do setor
industrial é anulada pela baixa produtividade do setor de serviços. Esta
dualidade econômica, todavia, é difícil de mudar porque o setor de serviços é
que permitiu dividir por dois o desemprego desde 2005 e, com isso, enfrentar melhor
a crise mundial que sobreveio em seguida. Mas ela traz consigo um fator
perverso: amolecer um crescimento econômico que já se mostra baixo, num
contexto de redução física de sua força de trabalho. Nesse último caso,
estatísticas locais dão conta que até 2030 a Alemanha perderá 12% de sua
população ativa. Para sair deste brete o governo deverá recuar a idade da aposentadoria,
fazendo os alemães trabalharem mais tempo; estimular ainda mais o trabalho
feminino; e colocar em prática uma política favorável à imigração, apostando no
trabalhador estrangeiro qualificado. Será isso possível no contexto da Alemanha
atual? Pelo sim ou pelo não, o fato é que há falhas no chamado “super-modelo”
alemão, o qual começa a se esgotar neste momento (cf. Le Monde, agosto 2013 e março/abril
2014).