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quarta-feira, 23 de abril de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
26/04/2014

O ESGOTAMENTO DO MODELO ALEMÃO?
A crise mundial de 2007/08, que ainda perdura, nos permite lembrar que a economia funciona em ciclos. Ou seja, assim como ocorrem as crises, acontecem as saídas de crise e os tempos de bonança econômica. É muito difícil manter um processo de crescimento e desenvolvimento constante por longo tempo. Todavia, é possível evitar que os períodos de declínio econômico se tornem agudos para os cidadãos. Tudo depende de como a economia de cada país é gerida. De como o Estado está organizado para dar conta da evolução econômica, hoje cada vez mais interdependente em função de uma globalização irreversível. De como os governos se posicionam para ajustar as finanças públicas nos momentos positivos, precavendo-se para os momentos de dificuldades. E nesse sentido encontramos diferentes estratégias e, em alguns casos, nenhuma estratégia! A crise de 2007/08 iniciou nos EUA e se estendeu, no seu início, para os países desenvolvidos em função de suas relações financeiras, via um sistema bancário interligado e desregulamentado em exagero. Os Estados foram chamados a socorrer as economias combalidas, dentro da lógica keynesiana, fato que acabou gerando a crise da dívida pública. Esta atingiu em cheio países menores da União Europeia, caso da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha... Paralelamente, os países emergentes como a China e o Brasil, por exemplo, apostaram em seu importante mercado interno, liberando crédito e fazendo do consumo interno um ponto de resistência à crise mundial. As duas estratégias se esgotaram a partir de 2011. De um lado, o déficit público se tornou insustentável junto à maioria dos países ricos, forçando a ajustes estruturais pesados em suas economias, fato que leva a consequências sociais negativas. De outro lado, sem uma capacidade produtiva adequada, com infraestrutura insuficiente e poucos investimentos produtivos, os emergentes se viram às voltas com a disparada inflacionária. Isso os obriga a frear suas economias pelo aumento dos juros, fato que leva a um constante recuo do PIB anual. Nesse ciclo de crise mundial, todavia, um país industrializado acabou saindo-se melhor do que os demais. Trata-se da Alemanha! Todavia, agora que o mundo desenvolvido inicia uma saída da crise, enquanto os emergentes nela começam a afundar, a Alemanha igualmente corre o risco de claudicar. O que estaria ocorrendo?

O ESGOTAMENTO DO MODELO ALEMÃO? (II)
Na prática, das grandes regiões desenvolvidas do mundo, a Europa Ocidental é a que mais dificuldades encontra para sair da crise. Todavia, a Alemanha, graças a um equilíbrio orçamentário, a finanças públicas impecáveis, a uma alta competitividade produtiva industrial, um quase pleno-emprego, e uma política de exportações agressiva, a qual lhe valeu fortes acusações de seus pares da União Europeia (os mesmos defendiam que a Alemanha deveria colaborar para tirá-los da crise aumentando as importações de seus produtos e não o contrário), a economia da Alemanha, até meados de 2013 se mostrou robusta. Mas a questão chave sempre é: por quanto tempo? A resposta parece estar chegando nestes últimos meses. A robustez da economia alemã estaria se esgotando. A população envelhece rapidamente; há ainda muita desigualdade entre os trabalhadores industriais, bem pagos, e os trabalhadores do setor de serviços; e ocorrem tensões sociais oriundas desta desigualdade que obrigam os políticos alemães a agirem rapidamente se não quiserem assistir a um declínio econômico da Alemanha. Uma das alternativas para enfrentar o problema estaria no fato de reverter a lógica exportadora, dando ênfase, a partir de agora, ao consumo interno. Isso faria, por tabela, acelerar igualmente as importações, ajudando os demais países europeus e mesmo do mundo. Todavia, os economistas alemães do Deutsche Bank alertam que nos últimos 20 anos o consumo interno jamais conseguiu substituir a demanda externa, ou seja, os resultados positivos das exportações.

O ESGOTAMENTO DO MODELO ALEMÃO? (III)
Além disso, a Alemanha pretende substituir a energia nuclear (que movimenta mais de 80% de sua economia na atualidade), até 2022, por uma energia mais “limpa”. O problema é: que energia e a que custo para os agentes produtivose para o Estado? Em fazendo isso, o sistema produtivo alemão não perderia competitividade no cenário internacional? São questões chaves que os empresários e mesmo o governo local se colocam. Paralelamente, na prática, as exportações têm diminuído no transcorrer dos meses de 2013 e não surgem movimentos de mudanças neste início de 2014. Além disso, o país se mostra carente em start-up e empresas de novas tecnologias. Soma-se a isso o fato de que a alta produtividade do setor industrial é anulada pela baixa produtividade do setor de serviços. Esta dualidade econômica, todavia, é difícil de mudar porque o setor de serviços é que permitiu dividir por dois o desemprego desde 2005 e, com isso, enfrentar melhor a crise mundial que sobreveio em seguida. Mas ela traz consigo um fator perverso: amolecer um crescimento econômico que já se mostra baixo, num contexto de redução física de sua força de trabalho. Nesse último caso, estatísticas locais dão conta que até 2030 a Alemanha perderá 12% de sua população ativa. Para sair deste brete o governo deverá recuar a idade da aposentadoria, fazendo os alemães trabalharem mais tempo; estimular ainda mais o trabalho feminino; e colocar em prática uma política favorável à imigração, apostando no trabalhador estrangeiro qualificado. Será isso possível no contexto da Alemanha atual? Pelo sim ou pelo não, o fato é que há falhas no chamado “super-modelo” alemão, o qual começa a se esgotar neste momento (cf. Le Monde, agosto 2013 e março/abril 2014).



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