Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
24/04/2014
O
ex-primeiro ministro da Irlanda, Sr. John Bruton, veio ao Brasil participar do
27º Fórum da Liberdade, ocorrido em Porto Alegre no início de abril. O mesmo
nos brindou com informações de extrema utilidade (cf. ZH Dinheiro-06/04/2014,
p.7). Como se sabe, a Irlanda viveu um boom econômico nos anos de 1990, a ponto
de crescer 11,2% em 1997. Depois, foi atingida fortemente pela crise de 2007/08
e agora começa a sair lentamente da mesma. Dentre as principais lições obtidas
com Bruton, tem-se: 1) o espetacular crescimento econômico da Irlanda na década
de 1990, a ponto de o país ser batizado de Tigre Celta, não ocorreu por mágica
e ações de curto prazo. Foi o fruto de mudanças estruturais nos 30 anos
anteriores (as quais o Brasil se nega a fazer até hoje), dentre elas uma
política de baixa cobrança de impostos a corporações (iniciada em 1956),
passando por investimentos em educação tecnológica (em meados de 1980) e
terminando no aprimoramento da Justiça (em meados de 1990), além de uma
agressiva promoção ao investimento externo direto, iniciado em 1960 e que dura
até hoje; 2) particularmente o país instituiu uma política de tributação das
empresas em 12,5% no geral (no Brasil a mesma chega, em muitos casos, a mais de
30%), além de cuidar das finanças públicas de forma prudente (coisa que o
Brasil, nos últimos anos, está longe de realizar); 3) todavia, houve o estouro
da economia em 2008, puxado pela crise mundial. Porém, tal estouro se originou
entre 2000 e 2006, quando houve um boom da construção civil e um conseqüente
aumento temporário das receitas. Segundo Bruton, o governo da época tratou
essas receitas temporárias como se fossem permanentes e aplicou aumentos no
nível de gastos, incluindo as taxas de salários e pensões. Medidas que se
mostraram insustentáveis quando a bolha estourou (algo que o Brasil assiste
nesse momento); 4) nesse período, os irlandeses pediam dinheiro emprestado para
comprar uma segunda casa ou para pagar caro por sua residência principal,
enquanto os bancos irlandeses emprestavam dinheiro se financiando junto a
bancos estrangeiros, sem considerar que o processo era temporário (qualquer
semelhança com o que vem ocorrendo no Brasil não é mera coincidência e serve
como um grande alerta); 5) a saída da atual crise, que deverá levar 10 anos, se
iniciou com ações ainda em 2008 (enquanto no Brasil o governo Lula falava em
“marolinha”), e deverá durar até 2018. Nesse meio tempo, a Irlanda construiu
uma boa reputação de integridade na administração pública, expondo seus erros.
Enquanto isso, o Brasil perdeu a credibilidade que possuía, gerindo
pessimamente os recursos públicos, maquiando dados estatísticos e aparelhando
politicamente os principais órgãos públicos, que se dobram a um
intervencionismo estatal ineficiente e, em grande parte, corrupto. É preciso
dizer mais?