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quarta-feira, 16 de abril de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
19/04/2014

COTAÇÕES DA SOJA: ALTAS SÃO ESPECULATIVAS (?)
As cotações da soja em Chicago voltaram a superar os US$ 15,00/bushel no dia 15/04. Tal patamar não era alcançado desde meados de julho de 2013. A explicação que o mercado avança, e tem coerência, está centrada nos baixos estoques finais dos EUA (a estimativa para o final deste ano de 2013/14 é de apenas 3,7 milhões de toneladas, contra 3,8 milhões no ano anterior e 4,6 milhões em 2011/12). Além disso, estaria havendo forte demanda pela soja estadunidense mesmo em época de entrada da safra sul-americana no mercado internacional, fato que pressiona ainda mais os diminutos estoques. Um segundo aspecto que ajuda a explicar as altas das cotações está na redução da produção da América do Sul neste ano. O forte calor e intensa estiagem no final de dezembro de 2013 e entre meados de janeiro e meados de fevereiro de 2014 reduziu a estimativa de colheita em pelo menos 10 milhões de toneladas, podendo o volume final de perdas ser ainda um pouco maior. Mas existem outros importantes e mais sérios elementos ocorrendo no mercado da soja que indicariam um comportamento contrário dos preços. O forte aumento na área a ser semeada com a oleaginosa nos EUA neste ano, o qual pode chegar a 6,5%. A redução do ímpeto econômico da China, com desvio de cargas de soja para outras regiões do mundo porque seus estoques estão plenos e o consumo interno será menor (os chineses avançam um volume de importação de 66 a 67 milhões de toneladas de soja para este ano, contra a expectativa de mercado ao redor de 69 milhões de toneladas). Aumento dos estoques finais mundiais, em relação aos anos anteriores, e assim por diante.

COTAÇÕES DA SOJA: ALTAS SÃO ESPECULATIVAS (?) (II)
Nesse contexto, por que as cotações da soja sobem no momento? Além dos fatores altistas citados acima, existe uma momentânea compensação em relação a nova desvalorização do dólar no cenário mundial e, principalmente, existe uma forte especulação financeira em torno da commodity. Ou seja, quando se pensava que a recuperação da economia mundial, em relação a crise de 2007/08, fosse permitir um deslocamento mais importante de capitais para o sistema produtivo em geral e as bolsas de valores em particular, nota-se que tal movimento ainda é muito tímido. Assim, no afã de obter lucros rápidos, os especuladores financeiros continuam atuando em Chicago, e particularmente na soja, estimulando altas desproporcionais aos fatos reais. Obviamente tudo isso tem limites. Por enquanto, o sentimento é de que os valores da soja em Chicago estão além do normal, inclusive nas próprias projeções do governo dos EUA. Mas no curto prazo tal quadro poderá ainda se sustentar. Todavia, em se confirmando um plantio de 33 milhões de hectares da oleaginosa nos EUA, no contexto de um clima normal, o quadro poderá rapidamente reverter, pois todas as principais notícias fundamentais do mercado, hoje, apontam para uma redução das cotações internacionais, na linha do que já ocorre há mais tempo com o milho e o trigo em Chicago.
COTAÇÕES DA SOJA: ALTAS SÃO ESPECULATIVAS (?) (III)
Tanto é verdade que a futura produção estadunidense, em clima normal, pode ultrapassar a 96 milhões de toneladas, com os estoques finais para 2014/15 se elevando a níveis de 8 milhões de toneladas, enquanto para este ano 2013/14 a produção mundial já cresceu para 284 milhões de toneladas, contra 268 milhões no ano anterior e apenas 239 milhões em 2011/12. Os estoques finais mundiais passaram de 53,6 milhões, dois anos antes, para 57,9 milhões no ano passado, devendo fechar 2013/14 em 69,4 milhões de toneladas. Além disso, haverá igualmente um novo aumento de área semeada no Brasil e na Argentina para o ano 2014/15. Paralelamente, a China começa a acusar os altos preços internacionais, além de indicar a possibilidade de calote nas compras de soja já realizadas. E o país asiático é o principal comprador da oleaginosa no mundo. Não é por nada que, para o segundo semestre de 2014 já se espera cotações ao redor de US$ 12,50/bushel (este valor, em condições normais de mercado, já deveria ter sido mantido desde janeiro passado, pois a média daquele mês, para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 12,95/bushel). Para 2015, em condições normais de produção mundial, o governo dos EUA, através do USDA, já avançou um preço médio possível de apenas US$ 9,50/bushel, enquanto parte dos analistas privados indica valores entre US$ 10,50 e US$ 11,50/bushel. Ou seja, no médio e longo prazo os preços da soja voltariam a patamares considerados normais se ficarmos no contexto do embate entre oferta e procura. A questão é saber como se comportará o capital financeiro, especulativo, daqui em diante.   


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