Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
19/04/2014
COTAÇÕES DA SOJA: ALTAS
SÃO ESPECULATIVAS (?)
As
cotações da soja em Chicago voltaram a superar os US$ 15,00/bushel no dia
15/04. Tal patamar não era alcançado desde meados de julho de 2013. A explicação que o
mercado avança, e tem coerência, está centrada nos baixos estoques finais dos
EUA (a estimativa para o final deste ano de 2013/14 é de apenas 3,7 milhões de
toneladas, contra 3,8 milhões no ano anterior e 4,6 milhões em 2011/12). Além
disso, estaria havendo forte demanda pela soja estadunidense mesmo em época de
entrada da safra sul-americana no mercado internacional, fato que pressiona
ainda mais os diminutos estoques. Um segundo aspecto que ajuda a explicar as
altas das cotações está na redução da produção da América do Sul neste ano. O
forte calor e intensa estiagem no final de dezembro de 2013 e entre meados de
janeiro e meados de fevereiro de 2014 reduziu a estimativa de colheita em pelo
menos 10 milhões de toneladas, podendo o volume final de perdas ser ainda um
pouco maior. Mas existem outros importantes e mais sérios elementos ocorrendo
no mercado da soja que indicariam um comportamento contrário dos preços. O
forte aumento na área a ser semeada com a oleaginosa nos EUA neste ano, o qual
pode chegar a 6,5%. A redução do ímpeto econômico da China, com desvio de
cargas de soja para outras regiões do mundo porque seus estoques estão plenos e
o consumo interno será menor (os chineses avançam um volume de importação de 66 a 67 milhões de toneladas
de soja para este ano, contra a expectativa de mercado ao redor de 69 milhões
de toneladas). Aumento dos estoques finais mundiais, em relação aos anos
anteriores, e assim por diante.
COTAÇÕES DA SOJA: ALTAS
SÃO ESPECULATIVAS (?) (II)
Nesse
contexto, por que as cotações da soja sobem no momento? Além dos fatores
altistas citados acima, existe uma momentânea compensação em relação a nova
desvalorização do dólar no cenário mundial e, principalmente, existe uma forte
especulação financeira em torno da commodity. Ou seja, quando se pensava que a
recuperação da economia mundial, em relação a crise de 2007/08, fosse permitir
um deslocamento mais importante de capitais para o sistema produtivo em geral e
as bolsas de valores em particular, nota-se que tal movimento ainda é muito
tímido. Assim, no afã de obter lucros rápidos, os especuladores financeiros
continuam atuando em Chicago, e particularmente na soja, estimulando altas
desproporcionais aos fatos reais. Obviamente tudo isso tem limites. Por
enquanto, o sentimento é de que os valores da soja em Chicago estão além do
normal, inclusive nas próprias projeções do governo dos EUA. Mas no curto prazo
tal quadro poderá ainda se sustentar. Todavia, em se confirmando um plantio de
33 milhões de hectares da oleaginosa nos EUA, no contexto de um clima normal, o
quadro poderá rapidamente reverter, pois todas as principais notícias
fundamentais do mercado, hoje, apontam para uma redução das cotações
internacionais, na linha do que já ocorre há mais tempo com o milho e o trigo
em Chicago.
COTAÇÕES DA SOJA: ALTAS
SÃO ESPECULATIVAS (?) (III)
Tanto
é verdade que a futura produção estadunidense, em clima normal, pode
ultrapassar a 96 milhões de toneladas, com os estoques finais para 2014/15 se
elevando a níveis de 8 milhões de toneladas, enquanto para este ano 2013/14 a
produção mundial já cresceu para 284 milhões de toneladas, contra 268 milhões
no ano anterior e apenas 239 milhões em 2011/12. Os estoques finais mundiais passaram
de 53,6 milhões, dois anos antes, para 57,9 milhões no ano passado, devendo
fechar 2013/14 em 69,4 milhões de toneladas. Além disso, haverá igualmente um
novo aumento de área semeada no Brasil e na Argentina para o ano 2014/15.
Paralelamente, a China começa a acusar os altos preços internacionais, além de
indicar a possibilidade de calote nas compras de soja já realizadas. E o país
asiático é o principal comprador da oleaginosa no mundo. Não é por nada que,
para o segundo semestre de 2014 já se espera cotações ao redor de US$ 12,50/bushel
(este valor, em condições normais de mercado, já deveria ter sido mantido desde
janeiro passado, pois a média daquele mês, para o primeiro mês cotado, ficou em
US$ 12,95/bushel). Para 2015, em condições normais de produção mundial, o
governo dos EUA, através do USDA, já avançou um preço médio possível de apenas
US$ 9,50/bushel, enquanto parte dos analistas privados indica valores entre US$
10,50 e US$ 11,50/bushel. Ou seja, no médio e longo prazo os preços da soja
voltariam a patamares considerados normais se ficarmos no contexto do embate
entre oferta e procura. A questão é saber como se comportará o capital
financeiro, especulativo, daqui em diante.