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quinta-feira, 3 de abril de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
05/04/2014

A INFLAÇÃO NÃO CEDE E A CONTA CHEGA
Nesta primeira semana de abril, em nova reunião, o Comitê de Política Monetária (COPOM) voltou a elevar a taxa básica de juros, Selic. A mesma subiu 0,25 ponto percentual, ficando agora em 11% ao ano. E a tendência, para o restante de 2014, é de novos aumentos. Provavelmente a Selic encoste em 12% ao final do corrente ano, podendo ir um pouco mais longe ainda em 2015. Essa atitude é contraditória à necessidade brasileira de estimular a economia, visando um PIB superior aos 2% atuais (o próprio Banco Central estima que nossa economia, após crescer 2,3% em 2013, deverá registrar apenas 2% em 2014, enquanto o mercado projeta tão somente 1,7%). Na verdade, pelo tamanho de nossa economia e as necessidades socioeconômicas da Nação, precisaríamos crescer entre 6% a 7% ao ano segundo estudos existentes há muito tempo. Ora, elevando o juro a economia tende a frear ainda mais, pois com o custo do dinheiro mais alto parte-se do princípio de que o consumidor irá poupar mais e consumir menos, assim como o investidor irá tomar menos dinheiro emprestado e produzir menos. Então, por que o Copom continua a aumentar o juro básico, após uma tentativa temerária de reduzir os juros brasileiros durante o ano de 2012? A explicação está bastante relacionada justamente a esta ação de 2012. Na tentativa de manter um crescimento da economia superior a 3% ao ano, o governo abandonou todos os cuidados ortodoxos que a economia exige e estimulou o consumo ao máximo. Para auxiliar esse aumento de consumo, decidiu partir para uma redução de juros “no grito”, tentando usar uma força de persuasão que não possui. Em pouco tempo dois resultados desastrosos foram obtidos: o consumo não respondeu suficientemente, aumentando o endividamento e a inadimplência das pessoas e empresas, enquanto os preços começaram a subir rapidamente por absoluta falta de infraestrutura para absorver a demanda gerada, mesmo que insuficiente para os objetivos esperados.

A INFLAÇÃO NÃO CEDE E A CONTA CHEGA (II)
Para completar o quadro, a tentativa de maquiar dados econômicos colocou o Brasil em xeque no cenário internacional, deixando os investidores e aplicadores externos receosos de virem ao Brasil. Imediatamente começou a sair mais dólares do que entrar, fato que desvalorizou rapidamente o Real. Soma-se a isso o fato de que, por falta de produtividade, nossos produtos perdem competitividade no mercado mundial, levando a um déficit cada vez maior da balança comercial, ou seja, ainda menos entrada de dólares no país. Ora, menos dólar significa um Real mais desvalorizado. Um Real mais fraco significa produtos importados mais caros. Como importamos de tudo, acabamos por inflacionar ainda mais a economia. Assim, passamos a ter dois componentes que inflacionaram o país nestes últimos anos e que vêm piorando neste início de 2014: muita disponibilidade de crédito que não encontra uma capacidade produtiva competitiva internamente; importações cada vez mais caras devido a desvalorização da moeda nacional.

A INFLAÇÃO NÃO CEDE E A CONTA CHEGA (III)

A situação é tão complexa que o próprio Banco Central reviu sua projeção para 2014, colocando o IPCA (índice oficial de inflação) em 6,1%, enquanto o mercado já trabalha com valores entre 6,3% a 6,5%. Dito de outra maneira, devemos terminar o ano a ponto de ultrapassarmos o teto da meta inflacionária oficial. Aliás, na prática os preços já romperam esta meta. A cesta básica nacional, no acumulado de 12 meses até março/13, estaria em 8,61%. Nesse contexto, a inflação nacional já está entrando no perigoso terreno da inércia (os preços futuros aumentam pelo simples fato de os preços atuais terem aumentado). Portanto, o aumento da taxa de juros é um instrumento inibidor deste processo inflacionário, porém, de fôlego curto. Se ficarmos somente com esta arma, será preciso aumentar bem mais os juros para que haja um impacto decisivo sobre os preços, com todas as conseqüências nefastas sobre o crescimento econômico e o bem-estar social que se conhece. O ideal seria partirmos logo para cortes profundos nos gastos públicos desnecessários e para ajustes estruturais em nossa economia. Todavia, o governo que aí está, repetindo o passado recente, já demonstrou que não tem cacife para fazer isso. O mercado já percebeu essa incapacidade há muito tempo e, parece, grande parte da sociedade brasileira começa agora igualmente a se dar conta da realidade em que foi colocada.

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