Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
16/03/2017
O PIB de 2016
(-3,6%) confirma que o Brasil vive a pior recessão de sua história. No acumulado
de dois anos (2015 e 2016) nosso PIB é negativo em 7,2%, superando o ocorrido
em 1930/1931. Por mais que o ministro da Fazenda diga que isso é o passado, o
fato é que sair de tal crise não será fácil. Em primeiro lugar porque o
processo de recuperação do país será lento. Crescer 0,5% neste ano, como o
projetado, é nada diante do tombo que a economia sofreu nos últimos dois anos.
O máximo que se poderá dizer é que “parou de cair”. Ou seja, o fundo do poço
foi alcançado. A questão, então, passa a ser “quanto tempo ficaremos no fundo”.
Em segundo lugar, se é verdade que a inflação vem baixando rapidamente,
possibilitando uma redução mais acentuada do juro básico, um dos remédios de
curto prazo para a recuperação econômica, também é verdade que tal situação se
deve a paralisia do consumo pelo alto endividamento e inadimplência das
famílias. Aliás, em 2016 o consumo das famílias recuou 4,2%, superando os 3,9%
do ano anterior. Além disso, segundo recente pesquisa, 60% das empresas
brasileiras apresentam inadimplência. Ora, recuperar o consumo é um dos
instrumentos necessários, porém, a questão é criar as condições para um
movimento sustentável. A liberação da recente verba do FGTS pouco resolve, pois
ela logo termina e o estado de crise das famílias continuará, pois seu
endividamento e inadimplência são muito elevados. Em segundo lugar, necessário
se faz investimentos que alavanquem nossa produtividade do trabalho e do
capital. Ora, a taxa de investimento em 2016 recuou assustadores 10,2%, após um
tombo de 13,9% um ano antes. Ou seja, em dois anos o investimento acumula um
recuo ao redor de 24%. Isso não se recupera facilmente! Em terceiro lugar, o
PIB do quarto trimestre de 2016 veio pior do que o esperado (-0,9%), sugerindo
que o primeiro semestre de 2017, pelo menos, ainda será de grandes dificuldades
(como está sendo). Em quarto lugar, a expectativa de uma recuperação industrial
é bem-vinda, porém, é bom lembrar que no Brasil de hoje a indústria pesa
somente 20% no PIB nacional, contra 73% do setor de serviços (cf. FGV). Enfim,
a recuperação da economia depende das reformas estruturais, a partir da
aprovação da PEC dos gastos públicos. Tais reformas, por enquanto, apresentam
um futuro incerto em um país em que o setor político está envolto em suspeição
constante e fragilizado. Portanto, superar o custo deste desastre histórico não
será fácil e exigirá muito trabalho de todos. O desafio é termos fôlego para
superarmos este longo período de transição que, parece, está se iniciando,
evitando novas derrapagens no percurso.