Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
09/03/2017
A realidade econômica da
atual safra de soja, pelo menos aqui no Rio Grande do Sul, e com as
estatísticas existentes até o início de março, não permite ufanismos. É verdade
que a colheita será cheia, devendo ficar ao redor de 16,5 milhões de toneladas
no estado. Tal volume será um pouco maior do que o do ano passado. Ao mesmo
tempo, a produtividade média esperada, por enquanto, é idêntica (3.020 quilos/hectare).
Assim, pelo lado físico a safra é excelente. Porém, pelo lado econômico o
quadro médio é pior. Se é verdade que Chicago trabalha com cotações bem
melhores na atualidade (os primeiros 62 dias do ano registram a média de US$
10,28/bushel neste ano, contra US$ 8,62 no mesmo período de 2016), também é
verdade que o Real se valorizou muito no período. Nossa moeda, considerando o
período dos primeiros 62 dias do ano, passou da média de R$ 4,01 em 2016, para
apenas R$ 3,15 em 2017. Resultado: o preço médio da soja no balcão gaúcho, que
no ano passado foi de R$ 72,94/saco no período considerado, hoje é de R$
66,40/saco. Isso representa um recuo nominal de 9%. Considerando a inflação
oficial dos últimos 12 meses, a perda real no preço da soja sobe para quase 15%
neste ano. Enfim, segundo dados da Embrapa e da Farsul, o custo de produção
operacional médio subiu de R$ 48,23/saco no ano passado, para R$ 54,00 na atual
safra. Isso significa que o custo operacional médio por hectare chega a R$
2.718,00 neste ano, contra R$ 2.428,00 no ano passado. Um aumento de 12%! Dito
de outra forma, diante dos preços médios de balcão praticados, a receita
líquida média operacional dos produtores gaúchos de soja recua, neste ano, em
torno de 50% (passa de R$ 1.243,07/ha em 2016, para R$ 623,91/ha em 2017). É
claro que os produtores que obtiverem uma produtividade maior, em relação à
média projetada, terão melhores resultados. Ou, se a média final deste ano for
maior, o resultado final melhorará. Mesmo assim o resultado econômico final tende
a ser menor neste ano. Por sua vez, aqueles produtores que venderam
antecipadamente parte de sua safra, a preços superiores até o momento, também
melhoram seu resultado líquido final. Mas, neste ano, até o início de março, apenas
24% da safra havia sido negociada antecipadamente no estado, enquanto na mesma
época do ano passado o percentual era de 40% (cf. Safras & Mercado). Assim,
um número significativo de produtores gaúchos de soja está ameaçado de obter um
resultado econômico bem abaixo do obtido em 2016. Portanto, a atual safra, sem
dúvida positiva em termos físicos, nos coloca uma realidade econômica muito
menos atraente. A mesma ajuda, mas será insuficiente para alavancar a economia na
proporção que muitos esperam e todos gostariam que ocorresse.