Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
26/05/2016
O
governo interino de Michel Temer tem enormes desafios econômicos pela frente. E
não será fácil superá-los. Principalmente porque erros na escolha de seu
ministério tendem a fragilizá-lo rapidamente (caso da escolha de pessoas
implicadas pela Operação Lava-Jato, o que derrubou em duas semanas o ministro
do Planejamento). Se por um lado a equipe econômica escolhida mostra capacidade
para propor os ajustes mais urgentes e necessários, por outro lado, sem apoio
político e social os mesmos não sairão do papel. Especialmente porque tais
ajustes serão, como se sabe, doloridos e demorados. Afinal, o “novo” governo
assume com a notícia de que o PIB no primeiro trimestre deste ano teria ficado
em -1,44% segundo o Banco Central (o número oficial virá pelo IBGE no início de
junho), indicando -4% em 2016 na tendência. O déficit público recalculado
mostra que o rombo deixado pelo governo Dilma alcança, para este ano, um
extraordinário R$ 170,5 bilhões. A inflação continua preocupando e se projeta
mais de 7% para o corrente ano, mesmo com a brutal recessão vivida pelo país. E
o desemprego continua aumentando, indicando 13% da população ativa neste ano
(alguns analistas chegam avançar 15%). O primeiro passo será fazer o ajuste
fiscal, cortando ao máximo as despesas estatais, o que deverá, pela
Constituição que temos, atingir igualmente as áreas sociais. Antes, para não
paralisar o país, o Congresso terá que aprovar este déficit primário (mais um)
que atinge cerca de 3% do PIB projetado. Ora, para o ajuste fiscal funcionar e
ser duradouro (sustentável, para usar uma palavra da moda), reformas
estruturais precisam ser concretizadas, saindo do discurso e passando à
prática. Dentre elas, a previdenciária é uma das mais urgentes sem dúvida. O
rombo da Previdência pública nacional é tamanho que a mesma estará
inviabilizada nos próximos 20 anos se nada for feito. Portanto, como já se
avisava há muito tempo: antes de melhorar, a situação irá piorar sob o ponto de
vista da população em geral. Sobretudo porque, no estágio aonde as coisas
chegaram no Brasil, a arrecadação do governo cai constantemente, devido a
continuidade da recessão, ajudando a aumentar o rombo das contas. Isso
significa que o governo atual irá seguir na lógica do governo passado:
aumentará e/ou criará impostos (CPMF?), transferindo para a população o custo
maior da correção dos erros das gestões passadas. Erros estes que poderiam, em
boa parte, terem sido evitados, porém, por incompetência e interesses eleitoreiros
não o foram. Pelo sim ou pelo não, o governo interino já vem encontrando
dificuldades para avançar nas correções que o país precisa. Caso falhe, quem
pensava que o fundo do poço da crise havia sido atingido, com a concretização
do impedimento da presidente Dilma, ainda não viu nada. Afinal, em países como
o Brasil, onde os interesses individuais se sobressaem sobre o bem comum, é
difícil encontrar quem esteja disposto (e encontre as condições) para encarar o
custo político e social comprando a “briga” necessária do ajuste fiscal e das
reformas estruturais.