Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
21/06/2014
ARGENTINA: CRISE SEM FIM
(I)
Desde
2001, quando se viu obrigada a deixar de lado o câmbio fixo (um peso igual a um
dólar), a economia da Argentina não conseguiu mais se organizar, entrando em um
novo período de desestabilização. Diferentemente do Brasil que, impelido pelo
mercado a ingressar no sistema de câmbio flutuante soube administrar a
transição, o vizinho país não conseguiu reorganizar sua economia. Pelo
contrário, conduzido por governos populistas (a era Kirchner), o país viu sua
economia afundar. O calote em grande parte de sua dívida externa, realizado
pelo então presidente Néstor Kirchner, apenas piorou o problema. Afinal, calote
de dívida nunca foi a solução para ninguém, particularmente junto a países que
não possuem poupança própria e dependem, para tocarem suas economias, de
recursos externos. Agora, a Argentina vive um novo capítulo de sua crise
infindável. Um novo calote da dívida externa se avizinha. O governo local acaba
de anunciar que não poderá pagar a próxima parcela de sua dívida, que já havia
sido reestruturada após o calote anterior. Na época, o calote total era
iminente sobre cerca de US$ 100 bilhões que era o total do endividamento. O
governo local ofereceu pagamento da dívida, porém, com descontos de 70%.
Preocupados em nada receber, cerca de 90% dos credores acabaram aceitando a
proposta e passaram a receber o saldo em parcelas. Todavia, 10% dos credores
não aceitaram a proposta e recorreram a tribunais internacionais. Pois desde
2012 a Justiça dos EUA deu ganho de causa aos credores (fundos especulativos
locais acionaram a justiça), obrigando a Argentina a pagar US$ 1,33 bilhão aos
fundos credores. A Suprema Corte dos EUA acaba de manter a condenação,
derrubando uma medida cautelar imposta pela Argentina. Ora, o governo argentino
anuncia que não tem recursos para pagar esse valor, ameaçando iniciar um novo
calote a partir do dia 30 de junho, data em que vence o prazo para o pagamento.
ARGENTINA: CRISE SEM FIM
(II)
As consequências desta
péssima gestão pública, a qual o povo argentino reconduziu inadvertidamente nas
últimas eleições, são muitas. Na área externa, o país perde ainda mais o
crédito. A agência de classificação de risco Standard & Poor`s, ainda no
dia 17 de junho, reduziu a nota de crédito do país, fixando-a agora em CCC-,
podendo ocorrer novos rebaixamentos. Por esta classificação, a nota argentina
coloca a dívida do país (e o próprio país) em alto risco de inadimplência e
baixo interesse. Na área interna, a economia se esfacela, com falta de
produtos, alta inflação, maquiagem de dados econômicos por parte do governo,
aumento da pobreza, desemprego e impostos nas exportações para impedir que o
país fique desabastecido. Paralelamente, busca barrar a entrada de diferentes
produtos importados, particularmente os brasileiros, mesmo que isso custe mais
caro à população. A ideia é proteger o que resta da industrialização do país e
seus empregos. E pensar que a Argentina foi uma das grandes potências
econômicas mundiais no início do século XX. A lição que fica é a de que
facilmente as más gestões públicas, eivadas de demagogia, ideologias radicais e
populismo, facilmente desmontam uma economia e a colocam por terra, forçando
gerações inteiras a pagarem a conta via um atraso econômico enorme e um
desenvolvimento impossível de alcançar. Quando alertamos que o atual governo
brasileiro vem “argentinizando” a economia nacional, estamos indicando que as
decisões aqui tomadas tomam o mesmo caminho dos vizinhos. É preciso alterar o
rumo, através de ajustes estruturais profundos, que recoloquem o Brasil no
caminho de um crescimento adequado. Para tanto, as eleições são um passo,
porém, as mesmas não podem se resumir nelas mesmas. A população precisa
participar mais profundamente da vida do país, fiscalizando mais efetivamente o
que seus gestores fazem com o dinheiro público, sem se deixar enganar por
discursos utópicos e ufanistas, sem base na realidade político-econômica
existente no país. Que o triste exemplo do vizinho Argentina nos sirva de
exemplo antes que seja tarde!