Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
22/03/2018
A segunda grande medida tomada pelo
governo dos EUA, a qual, juntamente com a reforma tributária que analisamos no
comentário passado, está balançando a economia mundial, é a tarifação de suas importações
de aço e alumínio (medida tomada em 8 de março passado e que começa a vigorar a
partir deste dia 23/03/2018). A partir de agora toda importação de aço e
alumínio feita pelos EUA sofrerá um acréscimo, em seu preço de venda interna,
de 25% para o aço e de 10% para o alumínio. Ou seja, estamos diante de uma
medida protecionista que contraria a lógica liberal do livre-mercado. Em função
dos acordos do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), Canadá e
México, por enquanto, não serão atingidos. Já o Brasil, que é o segundo maior
fornecedor mundial de aço para os EUA (em 2017 este país comprou quase US$ 3
bilhões deste insumo brasileiro, absorvendo um terço das exportações nacionais
do produto), será diretamente atingido. Por sua vez, nos EUA, se por um lado a
tarifação sobre o aço e o alumínio visa proteger a indústria local e gerar mais
empregos, na prática provocará um aumento no custo de vida geral já que tais
insumos ficarão muito mais caros (o alumínio já subiu 40% e o aço 33%). Como o
país não tem autossuficiência no abastecimento de tais insumos, isto provocará
quebra das empresas menos competitivas e desemprego, saindo o “tiro pela
culatra”. Esta pressão inflacionária atingirá todos os setores da economia que
usam aço e alumínio (automóveis, eletrodomésticos, embalagens de bebidas etc.).
E isto em um momento em que a economia estadunidense começa a reaquecer, após a
crise mundial de 2007/08. Ora, inflação mais alta obrigará a um aumento nos
juros locais para contê-la! Assim, as duas medidas (redução na tributação das
empresas e tarifação nas importações de aço e alumínio) alimentam a expectativa
de que os EUA poderão aumentar suas taxas básicas de juros além do esperado até
o momento. E juro alto freia a economia, derruba os preços das commodities
negociadas em Bolsas de Mercadorias, atinge negativamente boa parte das ações
nas Bolsas de Valores e leva os países atingidos pelas medidas a retaliar (no
caso da tarifação). Com isso, o comércio mundial se fecha, aumentando o custo
de vida geral e freando a retomada da economia global. No Brasil, além de
exportar menos os produtos atingidos, teremos mais desemprego no setor, os
preços da soja e outras commodities tendem a cair pelo recuo no mercado
internacional, e o juro básico, logo mais, terá que ser elevado para conter a
saída de dólares do país em busca de juros melhores nos EUA. Com isso, vai se
confirmando que a janela externa, que está na essência de nossa tímida
recuperação econômica, se fecha rapidamente nos colocando enormes desafios pela
frente.