Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
16/02/2017
Na coluna passada indicamos algumas das
principais incertezas externas que 2017 nos traz e que podem colocar em xeque a
saída do Brasil da crise. Mas há também enormes incertezas internas. Apesar de
certo entusiasmo de alguns setores de nossa economia, o fato é que ainda
estamos longe de deixarmos para trás a enorme crise em que o país vive nos
últimos anos. Depois de uma recessão que levou o PIB a recuar mais de 7% em dois
anos, gerar mais de 12 milhões de desempregados (fora os que não estão
contabilizados), colocar a indústria nacional em queda livre (-6,6% em sua
produção apenas em 2016 e 16,9% de retração nos últimos três anos), e assim por
diante, as correções de rumo, mesmo acertadas, precisam ser aprofundadas. A
começar pelo fato de que as reformas estruturais não podem ficar “na meia
sola”, passando pela consolidação de um profundo ajuste fiscal federal,
estadual e municipal, e chegando a um contexto de continuidade por, pelo menos,
uma década à frente. Ora, até que ponto o atual governo terá condições de
avançar nesta agenda, sem ceder aos interesseiros de plantão, contrários aos
ajustes, e diante de suas próprias implicações apontadas, ainda timidamente,
pela Operação Lava Jato? E mais, que governo os brasileiros irão escolher nas
eleições de 2018? Afinal, será no próximo governo que os maiores compromissos e
necessidades para a saída da crise se cristalizarão. Ou seja, a população
brasileira não pode se dobrar “aos demagogos, os quais se aproveitam do analfabetismo
econômico para dizer mentiras que satisfaçam os objetivos de sua classe, seu
partido, seu grupo”, conforme alerta o ex-ministro Mailson da Nóbrega. Qualquer tropeço
populista, de onde quer que venha, impedirá a solução de nossa crise. Portanto, ainda passaremos por
apertos antes de as coisas engrenarem. Há um sentimento de que o pior parece
ter sido deixado para trás, porém, ainda é muito cedo para termos certeza
disso. Nesse contexto, a receita
continua sendo: 1) para os
consumidores e empresas: o uso racional do dinheiro, com a aplicação de
todas as ferramentas possíveis para administrar corretamente as emoções,
trabalhando com a razão, cortando todos os gastos duvidosos e aqueles que podem
esperar momentos mais estáveis; 2) para
o país: o Brasil precisa urgentemente realizar as reformas
(apressá-las), e realizá-las adequadamente, pois se a situação nos EUA se
deteriorar tudo será mais difícil e perderemos a chance, mais uma vez, de
arrumarmos a casa. Portanto, 2017 será decisivo tanto no front externo quanto
interno!