Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
02/04/2015
Graças à mudança na metodologia do
cálculo do PIB o resultado de 2014 não ficou negativo. Porém, o 0,1% anunciado
em nada muda o cenário. O mesmo é o mais baixo desde 2009, quando nosso PIB
ficou em -0,2% no auge da grande crise econômico-financeira mundial. Nos
últimos 14 anos o PIB do ano passado é o segundo mais baixo. E o tombo,
comparado com o espetacular resultado obtido em 2010 (7,6%) é enorme nos
últimos quatro anos. Além disso, o PIB de 2014, ao ser aberto, mostra um quadro
ainda mais preocupante. Em primeiro lugar, os investimentos ficaram 4,4%
negativos. Isso significa que para 2015, com os ajustes e apertos que estamos
sendo obrigados a fazer, para corrigir as contas públicas, tais investimentos
não irão melhorar. Pelo contrário, a tendência é de piora. Em segundo lugar, o
crescimento industrial igualmente registrou um comportamento negativo, nesse
caso de 1,2%. Sem a indústria puxando, e com o enfraquecimento dos PIBs
agrícola (0,4%) e de serviços (0,7%), será um milagre a economia reagir em 2015.
Especialmente diante de um crédito menos farto e mais caro. Além disso, não se
pode esquecer a forte freada no consumo interno, motivada pelo custo do crédito
junto a uma grande maioria de famílias endividadas e inadimplentes. O
crescimento no consumo das famílias foi de apenas 0,9% no ano passado. Resta
esperar que o mercado externo, graças a um Real hoje muito desvalorizado, puxe
um pouco o setor industrial. Todavia, a economia mundial ainda cresce devagar
nesta saída de crise internacional. Tanto é verdade que no primeiro trimestre
de 2015 a
balança comercial brasileira fechou no vermelho. Em terceiro lugar, um dos
pontos positivos do último PIB foram os gastos do governo (1,3%). Ora, o
governo está, agora, cortando despesas para ajustar a economia do Estado. Ou
seja, tais gastos estão diminuindo em 2015. E não se pode contar com aumento no
consumo das famílias, o que significa freio no mercado interno. Enfim, o PIB do
ano passado nos mostra que estamos em um quadro de estagflação, com a economia
parada, caminhando para uma real recessão em 2015 (as projeções indicam um PIB
negativo entre 0,5% e 1%, por enquanto), ao mesmo tempo em que os preços
continuam subindo. O próprio governo já admite a possibilidade de uma inflação
oficial ao redor de 8% para este ano. Obviamente, a inflação real será muito
superior a isso! Ou seja, o quadro confirma as enormes dificuldades econômicas
que teremos em 2015, com continuidade ainda em 2016. Dito isso, será um erro
gravíssimo estancar o movimento de ajustes e reformas na economia recentemente
iniciado. Como já afirmamos diversas vezes, é melhor apertar agora e respirar
logo adiante do que continuarmos afundando sem perspectivas.