Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
09/07/2015
Os
primeiros três dias úteis de julho consolidaram o retorno do superávit
comercial brasileiro, depois de mais de um ano no vermelho. No acumulado do ano
o superávit chega a US$ 2,86 bilhões, contra um déficit de US$ 1,23 bilhão no
mesmo período de 2014. Antes que venhamos a comemorar o fato em si, necessário
se faz abrir os números e afinar a análise. De onde se origina tal superávit?
Infelizmente de uma redução maior das importações, em relação às exportações, e
não pelo aumento destas últimas. Assim, em relação ao mesmo período do ano
passado (seis meses e mais três dias úteis de julho) as importações recuaram
18,3%. Ao mesmo tempo, as exportações caíram 14,9%. Ou seja, a recessão
econômica brasileira freia de forma mais contundente as compras externas, sem
assistirmos a uma recuperação nas exportações. Isso provoca um saldo comercial
positivo, porém, resultante de uma realidade comercial em queda. Em termos de
corrente comercial, o Brasil continua, portanto, perdendo espaço no cenário
mundial. Essa realidade, somada ao fato de que o PIB brasileiro não é mais
puxado pela demanda interna (algo que se vê desde 2011), fez o governo federal
acordar mais um pouco. Esse despertar, após 12 anos em que imaginou
erroneamente que o país poderia avançar no comércio mundial apostando nas
pequenas economias do Planeta, levou o governo a acelerar as tentativas de
colocar em prática acordos de livre-comércio com os EUA, com a União Europeia,
China e outros países com maior poder aquisitivo. A recente visita da
presidente Dilma aos EUA teve particularmente esse objetivo: abrir o mercado
estadunidense para os produtos brasileiros, pois necessitamos urgentemente de
um crescimento nas exportações para melhorar o péssimo desempenho, nestes
últimos anos, da indústria brasileira em particular e da economia nacional em geral. Faz cinco anos,
pelo menos, que o Brasil não fecha um acordo comercial com um país de peso.
Isso dá a dimensão de nosso atraso nessa área e escancara, se assim fosse
necessário, mais um erro estratégico de nossa gestão pública federal. Em 2003,
no início do governo Lula, deixamos congelar a construção da Área de
Livre-Comércio das Américas (ALCA) sob a escusa de que estaríamos “nos
entregando” aos interesses dos EUA. Na oportunidade, desdenhamos completamente nossa
capacidade de negociação e nossa força produtiva, em favor de uma ideologia
retrógrada. Agora, o mesmo governo desembarca nos EUA, premido pela
necessidade, declarando que “...a negociação de um acordo de livre-comércio
(com os EUA) é uma aspiração do governo brasileiro.” Nossa péssima política
externa nestes últimos 12 anos nos colocou à margem do mundo, a ponto de nem
mesmo conseguirmos consolidar o Mercosul nesse interregno. Parece que iniciamos
uma reação, mas quantos recursos, investimentos e empregos perdidos nesse longo
período de letargia!