Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
11/12/2014
O
Brasil passou a entrar em dificuldades econômicas mais agudas a partir de 2011,
após os encaminhamentos tomados em 2010. Os principais números da economia
nacional comprovam isso. Dentre eles, temos o crescimento do PIB no período. A
média do PIB nos oito anos de mandato do presidente Fernando Henrique foi de
2,3%. Por sua vez, a média nos oito anos do governo Lula subiu para 3,9%. Já a
média nos quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma despencou para
1%, culminando com praticamente 0% em 2014. A inflação oficial (IPCA), depois
de controlada pelo Plano Real, fechou o último ano de governo Lula (2010) em
5,04% anuais. Depois disso, a mesma subiu, devendo terminar o ano de 2014 no
teto da meta 6,5%. E isso com o represamento dos chamados preços administrados,
especialmente combustíveis e energia, fato que provocou um estrago enorme nas
estatais ligadas ao setor e começa a ser posto na conta da sociedade em geral,
com aumentos significativos e constantes daqui em diante. A balança comercial
brasileira, após registrar um superávit recorde de US$ 46 bilhões em 2006,
perde fôlego devido a crise mundial, a falta de competitividade de nossos
produtos e uma intervenção mais intensa do Banco Central brasileiro no mercado
cambial, visando segurar a desvalorização do Real. Em 2013 o saldo foi de apenas
US$ 2,4 bilhões, e isso graças a maquiagem de usar as plataformas de petróleo
como bem exportável o que é apenas um artifício contábil. Para 2014 a tendência
é voltarmos a um déficit que, passada a primeira semana de dezembro, se acumula
em US$ 3,8 bilhões anuais. A balança de transações correntes voltou a entrar no
negativo já a partir de 2008, com o quadro piorando radicalmente a partir de
2010. A tal ponto que 2014 deverá registrar um déficit, pelas projeções
oficiais, perto de US$ 85 bilhões, apesar de todos os artifícios contábeis que
o governo vem realizando para camuflar os dados. O lado mais positivo nesse
contexto se encontra no emprego, onde a taxa anual está em 6,8% segundo a nova
metodologia do IBGE, embora o DIEESE calcule a mesma entre 10% e 11% anuais.
Isso foi possível com as medidas de apoio oficiais ao consumo, as quais desde
2011 vêm mostrando esgotamento e comprometendo a indústria nacional, que vive
há algum tempo um período de recessão e desemprego. Ajudaram também os
programas sociais oficiais, os quais reduziram a demanda por empregos no país.
Soma-se a isso um aumento na renda média das pessoas. Entretanto, com o
acirramento da inflação real e o esgotamento do Estado em manter planos de
apoio nesta área, o processo se mostra sem sustentabilidade. Ou seja, desde
2010, apesar de ideias interessantes, notou-se que a execução das mesmas
comprometeria o quadro econômico nacional. O erro foi termos insistido ainda
quatro anos sem tomarmos medidas de ajustes. Agora, no final de 2014, a mudança
de rumo na economia nacional indica o reconhecimento do erro. Entretanto, o
tamanho do estrago já é grande e levará a sociedade brasileira a perder as vantagens
obtidas nos últimos anos. No fundo, o que interessa não é o que se conseguiu,
mas sim como se conseguiu. Geralmente em casos como esse, o que é positivo dura
pouco e o que é negativo vira um pesadelo estrutural de difícil solução onde
todos pagam a conta.