Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
22/05/2014
Em
2001 escrevi um livro em que destacava que o processo de globalização da
economia mundial gerava transformações irreversíveis. Agora, uma interessante
obra, escrita pelo ex-ministro Hubert Védrine, do ex-governo socialista francês
François Miterrand, chama a atenção para o mesmo fato (cf. Le Monde,
12/04/2014). Analisando a França ao mesmo tempo analisa intrinsecamente a
maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil. Países que possuem déficit
comercial constante, finanças públicas em déficit crônico, dívida pública
elevada em relação ao PIB, despesas públicas igualmente muito elevadas em
relação ao mesmo PIB, impostos em demasia e crescendo, taxa de desemprego real
importante, e custo do trabalho superior à sua produtividade perdem
competitividade no cenário mundial. A intervenção do Estado na distribuição da
renda, via programas sociais, embora importante e necessária, quando feita sem
cuidados, transforma o país em uma região de baixa competitividade. E mais, em
assim fazendo, o país não conseguirá, por muito tempo, financiar tais
transferências de renda, retrocedendo socialmente. Para manter o Estado do
Bem-Estar Social ou algo semelhante é necessário que as empresas e o Estado se
tornem competitivos. Para tanto, reformas profundas na economia e na ação
estatal se fazem prioritárias. Os países que entenderam que a globalização é
irreversível já fizeram tais reformas e avançam, mesmo em meio às crises
cíclicas da economia. Esses países se prepararam para a concorrência aguda que
se tornou a economia globalizada. Por que outros países assim não o fizeram?
Geralmente porque parte de suas lideranças se nega a entender que o mundo mudou
nas últimas décadas. Muitos se limitam a julgar que reformar o Estado
(inclusive o do Bem-Estar Social), para diminuir o custo do trabalho, é se
submeter ao modelo econômico capitalista. Ao assim fazerem se deixam cegar pela
ideologia, não percebendo que tantos outros buscaram, em primeiro lugar,
adaptar suas economias às condições de criação de riqueza no mundo do século XXI.
Eles o fizeram por realismo, não por sujeição a esse ou aquele modelo
econômico. O fizeram para poder participar de um ambiente que hoje chamamos de
globalização da economia. Acreditar que resistindo à mesma teremos sucesso é a
maior das utopias. Ora, a globalização é o ambiente em que se vive e não uma
opção. E ela está em constante mutação, levada pelos avanços tecnológicos e
pela dinâmica da própria economia. Imaginar que esse mundo econômico vai
desaparecer é quimera, é pensamento mágico que não leva a nada. O destino de
países como o Brasil, nesse contexto, é a economia global, de mercado
competitivo. Nos últimos 20 anos fizemos a primeira parte do desafio, que foi
estabilizar a economia. Todavia, continua a nos faltar a realização da segunda
parte, que compreende as reformas estruturais do Estado e do funcionamento
desta economia, para que se garantam os avanços sociais
de forma sustentável sem perdermos a competitividade produtiva.