Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
24/05/2014
O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO
MUNDO
Quando o atual processo de globalização acelerou sua influência sobre a
sociedade mundial, por volta de meados dos anos de 1980, muitos julgaram que o
mesmo era uma conseqüência do capitalismo em sua forma neoliberal e precisava
ser combatido. Especialmente porque gerava um potencial desemprego entre as
nações e, portanto, um custo social importante. O primeiro engano deste
raciocínio foi considerar que a globalização é dependente do capitalismo pura e
simplesmente. Na verdade, o ser humano se globaliza pelo Planeta desde que nele
passou a habitá-lo. O que muda é a velocidade desta globalização a partir da
assimilação que a sociedade é capaz de fazer dos avanços tecnológicos que ela gera.
Ou seja, a globalização avança em função dos ganhos tecnológicos que permitem
ao ser humano, não somente se deslocar fisicamente, mas, em particular,
realizar trocas comerciais, culturais e assim por diante. Em segundo lugar, e
nesse contexto, segmentos do capitalismo e, em especial a economia de mercado e
o setor financeiro, foram os que mais rapidamente perceberam as mudanças
globais que atingem a humanidade nestas últimas décadas. E, por assim o
fazerem, são os que melhor se prepararam para delas tirarem vantagens, muitas
delas pouco favoráveis ao bem-estar social em geral, é verdade. Em terceiro
lugar, por não entenderem que o processo mundial de globalização é histórico e
irreversível, muitas nações não se organizaram para com ele conviver. Isso
assinou seu atraso no cenário internacional, particularmente da economia.
Obviamente se tornou mais fácil culpar o ambiente externo do que reconhecer o
erro estratégico interno de percepção do mundo.
O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO
MUNDO (II)
Nessas condições, muito do desemprego existente foi debitado à
globalização da economia, quando na verdade o deveria ser na falta de percepção
dos governos e suas sociedades em torno das mudanças do mundo. E, devido a
isso, não investiram o suficiente na educação e formação de seus cidadãos. E
sem mão de obra qualificada, cai a produtividade do trabalho, cai a
rentabilidade e a competitividade de uma nação. Daí para um crescente custo
social que se cristaliza em eterno subdesenvolvimento é um passo. Desta forma,
a evolução tecnológica, inerente à evolução da humanidade em seu ritmo
globalizante, elimina postos de trabalho, é verdade, porém, cria outros tantos.
Recente estudo divulgado por pesquisadores israelenses (cf. Nahum Sirotsky, ZH
12/05/2014, p.23) mostra que a eliminação e falta de postos de trabalho se dá
pela velocidade das transformações tecnológicas que ocorrem no mundo (hoje, ter
diploma de datilógrafo não serve mais para nada, por exemplo). Assim, mão de
obra sem especialização está condenada a tentar sobreviver com salários
insuficientes ou por meio de programas sociais dos governos, até o ponto em que
os governos agüentem o custo de tal ação. Paradoxalmente, na medida em que
cresce o desemprego nesta lógica, aumentam as ofertas de oportunidades de
trabalho relacionadas às novas tecnologias. Isso exige que as pessoas estejam
sempre estudando, atualizando seus conhecimentos.
O EMPREGO E A PERCEPÇÃO DO
MUNDO (III)
Portanto, o desemprego existente hoje em grande parte dos países é de
natureza estrutural, principalmente junto àqueles que pouco fazem pela educação
de seus cidadãos, a não ser contar estatísticas. Quem não entender isso pouco
dará de si para alterar o quadro, esperando que “caia do céu” a solução. Ora,
as ofertas de trabalho que estão surgindo jamais serão semelhantes às que
desapareceram. Desta forma, os empregos não estão no fim. O que está no fim são
as sociedades que não compreendem as mudanças irreversíveis que o mundo vive e
não se preparam para delas participarem. Torna-se urgente “conjugarmos no
Brasil, por exemplo, a educação e formação do cidadão com as inovações e
desenvolvimentos tecnológicos”. As portas para o desenvolvimento continuam
existindo, porém, as nações somente passarão por elas se entenderem que “a fila
anda”. Ou seja, o preço é alto para aqueles que ficam parados em um mundo
dinâmico. O mesmo se chama exclusão do processo produtivo em termos individuais
e marginalização nas relações socioeconômicas entre países. Nesse contexto, em
que direção caminha o Brasil?