O PIB de 2024 veio muito positivo. O crescimento da economia alcançou 3,4% no ano passado, superando de longe as expectativas do início daquele ano, que eram de algo ao redor de 1%. Alguns pontos merecem destaque nesta performance: 1) o crescimento se deu sobre uma base elevada, já que o PIB anterior foi de 3,2%, fato que é relevante; 2) seu resultado é o segundo melhor nestes últimos 11 anos, marcados por forte recessão econômica no país e a crise pandêmica; 3) o consumo das famílias cresceu 4,8% demonstrando que um pouco mais de renda à disposição das pessoas aquece rapidamente a economia; 4) os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) cresceu robustos 7,3%, indicando potencial de crescimento futuro; 5) as importações cresceram 14,7%, sendo parte em compras de capital, o que representa investimentos na produção; 6) indústria e serviços cresceram, na esteira da maior massa salarial à disposição; e 7) infelizmente a agropecuária registrou comportamento negativo, atingida novamente pelo clima e forte endividamento do setor. Em síntese, o resultado foi muito bom e dentro do que o governo buscava. Agora, é preciso entender como se chegou ao mesmo e para onde vamos em 2025. No primeiro caso, a grande alavanca foram os programas de transferência de renda do governo, às quais se soma a fortíssima desoneração fiscal junto às empresas que atuam em território nacional. Ajudou também a redução do juro básico (a Selic, até setembro, estava em 10,5%, após iniciar o ano em 11,75%) e a estabilização do câmbio até meados de novembro em níveis relativamente aceitáveis (a média cambial, no primeiro semestre do ano passado, foi de R$ 5,08 por dólar, passando para R$ 5,58 no segundo semestre, até o dia 15/11). Ao mesmo tempo, com um Real mais fortalecido, as empresas importaram mais e buscaram se equipar com melhor tecnologia. Todavia, essa alavancagem provocou um aumento da dívida pública, a qual o governo tenta, via arcabouço fiscal, controlar. Para se ter uma ideia, em 2014 a dívida bruta do governo geral atingiu a R$ 3,2 trilhões, o que representou 63,4% do PIB. No final de 2024, esta dívida atingiu a 76,1% do PIB, alcançando um total de R$ 9,0 trilhões. Somente de juros nominais, no ano passado, o governo pagou R$ 950,4 bilhões, contra R$ 243 bilhões em 2014. Ou seja, em 11 anos o crescimento do problema é significativo, não há como relativizar. Como resultado, tem-se um recrudescimento da inflação, tornando insustentável a estratégica de crescermos com inflação. Ciente disso, o Banco Central busca contê-la via aumento de juros (a tendência é a Selic fechar o ano em 15%, ou mais). De quebra, isso ajuda a segurar a desvalorização do Real (que também gera inflação), porém, inibe os investimentos, o emprego e o PIB. Assim, para 2025, o PIB tende a ficar menor (as estimativas atuais apontam para 2%). Ou seja, somos obrigados a desaquecer a economia porque a atual estrutura econômica, que se busca lentamente ajustar, não suporta novos crescimentos sobre uma base de gastos públicos crescentes, geradores de inflação, sob o risco de “argentinizarmos” o país. Por enquanto, o retrato continua sendo de um país com altos e baixos, que permanece estagnado na média de longo prazo.