Estar endividado não é o maior
problema, desde que se tenha condições de pagar a dívida feita. No caso do
Brasil, o problema é que a população sobrevive endividada e, em boa parte dos
casos, não tem como pagar os compromissos assumidos, gerando uma alta
inadimplência. Se por um lado o desemprego caiu significativamente, pelos dados
oficiais, por outro lado a remuneração do trabalho é muito baixa. Cerca de 80%
dos brasileiros que trabalham ou estão aposentados, ganham até 2,4 salários
mínimos atuais, sendo que uma maioria percebe apenas um salário mínimo. Ora,
com a inflação em disparada (a prévia da inflação de fevereiro/25, medida pelo
IPCA-15, disparou para 1,23%, contra 0,11% em janeiro), esta sob efeito do
Bônus Itaipu, acumulando em 12 meses 4,96%, sendo que o teto da meta é de 4,5%
para o corrente ano) e o juro básico caminhando para ultrapassar os 15% no
final de 2025, a equação não fecha e o brasileiro continua empobrecendo e se
inviabilizando economicamente. A ilusão de crescimento robusto aparece
claramente nestes dados: ele existe, mas não pela capacidade de consumo real do
brasileiro e sim porque o Estado mantém políticas sociais intensas que
artificializam o processo. Ou seja, não é nossa capacidade de produção e
consumo que nos faz crescer, e sim a presença do Estado de forma sistemática. O
problema é que o Estado, para fazer isso, aumenta o seu déficit público, pois
não consegue cortar gastos na outra ponta. Em aumentando o déficit, gera
condições para a disparada inflacionária, desvalorização cambial (que ajuda a
gerar inflação), levando o Banco Central a aumentar o juro buscando segurar
esta última. Assim, em janeiro/25 em torno de 85% dos brasileiros possuíam
contas em atraso, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e o Serviço de Proteção
ao Crédito. Hoje, mais de 43% da população adulta nacional é inadimplente, o
que corresponde a mais de 73 milhões de brasileiros. Entre os idosos (de 60 anos ou
mais), aproximadamente 40% estão inadimplentes. Eles também são os que menos
conseguem negociar suas dívidas: entre os vários grupos etários, apenas 2,18%
foram beneficiados por programas como o Serasa Limpa Nome. Para piorar o quadro, outras duas
constatações: uma grande maioria está se endividando para comprar alimentos
(57% no caso gaúcho); e esta dívida, onde parte vira inadimplência, é feita
sobretudo com o cartão de crédito, cujo o juro no país é um dos mais elevados
do mundo, superando os 450% aa (mais de 27% dos brasileiros estão nesta
situação atualmente). Em tal estágio, não basta apenas educação financeira. É
preciso cortar fundo nas despesas, incluindo, infelizmente, despesas de
alimentação, ou seja, de sobrevivência. A situação é alarmante, sendo que uma
das causas principais é conhecida e vem de décadas (o Estado brasileiro gasta
muito e mal, gerando concentração de renda), mas os poderes públicos do país,
com raras exceções, insistem em não agir, preferindo a defesa de seus privilégios
em detrimento do coletivo.