:)

Pesquisar

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

ARGENTINA: ONDE MILEI ERROU (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

A Argentina volta a entrar em uma espiral de crise (aliás, nunca saiu da mesma), com risco de o país voltar a ficar inadimplente diante de seus credores internacionais. A esperança criada em torno do governo Milei se desfaz e a situação econômico-financeira piora rapidamente. Neste momento, o Banco Mundial, com empréstimos de US$ 4 bilhões, e o BID, com mais US$ 3,9 bilhões, correm em socorro do vizinho país, porém, o volume total é insuficiente. O risco de default (calote) se cristalizou, trazendo uma forte desvalorização do peso. Há um descumprimento das metas estabelecidas com o FMI e as reservas cambiais locais se esgotam novamente, com o risco país disparando. O que houve? Na prática, Milei foi eleito com o discurso liberal de realizar uma ampla reforma no sistema estatal, enxugando despesas e priorizando ajustes profundos visando colocar a economia nos trilhos, baixando a hiperinflação existente e encaminhando uma solução à crise fiscal. A proposta estava correta. O problema está sendo a maneira escolhida para alcançá-la. Se por um lado alguns indicadores econômicos melhoraram (por exemplo, a inflação caiu fortemente, pois em agosto/25 o índice acumulado em 12 meses ficou em 33,6%, contra quase 300% em abril de 2023), os mesmos foram alcançados com forte carestia junto a sociedade argentina, onde o nível de pobreza aumentou consideravelmente. Mesmo com recuo, tal nível registrou 31,6% da população urbana local no primeiro semestre de 2025. Além disso, casos de subornos e desvios de verbas públicas surgiram no governo. A reação da população foi imediata, com manifestações de rua e derrotando Milei na importante eleição da Província de Buenos Aires. E há grande risco de o mesmo perder as eleições parlamentares deste mês de outubro. O mercado já sinaliza que o Plano Econômico de Milei estaria afundando. A postura populista para tentar alcançar seus objetivos está inviabilizando o governo. O Plano do “homem do motosserra”, não encontrou respaldo eficiente na prática, ao ignorar os impactos sociais do mesmo. A intenção é boa, porém, a execução tem sido ruim, pois muito radical. Hoje, a Argentina precisaria ainda de mais US$ 20 bilhões, apenas para aliviar a situação. Os EUA emprestam, porém, exigem como contrapartida uma vitória de Milei nas eleições parlamentares de outubro. Aguardemos!  

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

ANÁLISE SEMANAL DOS MERCADOS DA SOJA, MILHO E TRIGO

 19/09/2025 a 25/09/2025


Já está disponível o mais recente informativo da CEEMA-UNIJUÍ.

Para acessá-lo e acompanhar as mudanças mais recentes nesses mercados, clique aqui. 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

TAXAS DE JURO: RELAÇÕES E EFEITOS (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

Os EUA reduziram sua taxa básica de juro, trazendo-a para 4% a 4,25% aa. Enquanto isso, o Brasil manteve sua Selic em 15% anuais. Um dos efeitos é que aumentou a atratividade dos títulos brasileiros, mesmo nosso país sendo de maior risco. Com isso, mais dólares, pelo lado financeiro, devem entrar no país, fortalecendo ainda mais o Real diante do dólar. Bom para a importação, porque paga menos em reais; ruim para a exportação, porque recebe menos em reais. Isso ajuda a segurar a inflação no país, porém, ainda insuficiente para alcançarmos, no curto prazo, o teto da meta (4,5% aa). Por enquanto, mesmo com o recuo em agosto, em 12 meses a inflação nacional acumula 5,13%. Assim, a Selic deverá continuar nos atuais níveis, pelo menos até o início de 2026. Como nossa sociedade em geral tem pouca renda (o rendimento médio real, para quem está no emprego formal, é de apenas R$ 3.484,00 ou 2,3 salários-mínimos atuais), o brasileiro se endivida fortemente, mesmo com 56% dos mesmos realizando trabalhos extras (bicos), conforme pesquisa recente em 10 capitais nacionais. Isso, somado à falta de educação financeira, leva a uma elevada inadimplência. Tal realidade freia a economia em geral. No RS metade das demandas de crediário no comércio estão sendo barradas atualmente, pois mais de 40% da população adulta está inadimplente, ultrapassando R$ 25 bilhões (no Brasil, em agosto/25, 30,2% das famílias estavam inadimplentes e 43% da população adulta estava nesta situação em setembro). No setor empresarial são 8 milhões de CNPJs inadimplentes no país (um terço do total), com dívida média de R$ 3,3 mil, porém, com 7,3 dívidas por empreendimento, o que perfaz um total médio de R$ 24,1 mil (no RS a dívida média total é de R$ 31,7 mil). O quadro é grave e demonstra a fragilidade estrutural de nosso setor produtivo. Por sua vez, o custo de um Estado que teima em gastar acima das receitas, e com baixa qualidade, nas últimas décadas, cobra o seu preço. Tem-se um círculo vicioso onde as reformas estruturais continuam necessárias, mas pouco e bem realizadas. Afinal, a aplicação das mesmas não pode dar margem a privilégios, e tampouco ser radical a ponto de inviabilizar a sociedade. É preciso um ponto de equilíbrio racional, longe do populismo e da demagogia que nos engole há muitos anos.    

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

ANÁLISE SEMANAL DOS MERCADOS DA SOJA, MILHO E TRIGO

 12/09/2025 a 18/09/2025


Já está disponível o mais recente informativo da CEEMA-UNIJUÍ.

Para acessá-lo e acompanhar as mudanças mais recentes nesses mercados, clique aqui.    

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

OS RISCOS DA FRAGMENTAÇÃO GEOECONÔMICA (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

A nova geoeconomia (ver coluna passada) gera o risco de uma fragmentação do processo, movida pelo protecionismo comercial agudo. Em termos conceituais a fragmentação geoeconômica “refere-se à tendência de divisão do sistema econômico global, em blocos regionais ou nacionais, com interesses e políticas divergentes, em vez de uma integração global mais fluida”. Essa fragmentação pode se manifestar em várias áreas, com implicações significativas para o crescimento econômico, a estabilidade global e a cooperação internacional. Suas causas são múltiplas. Além do protecionismo comercial, tem-se as tensões geopolíticas; a segurança nacional; divergências ideológicas e políticas; competição por recursos naturais e tecnológicos (as terras raras, por exemplo); baixo crescimento econômico; aumento da desigualdade entre os povos e países; a instabilidade financeira, com a consequente redução da cooperação em questões globais como as mudanças climáticas; a ruptura das cadeias de suprimentos globais, dificultando a produção e a distribuição de bens e serviços essenciais etc. O Brasil, assim como a maioria dos países do mundo, está vulnerável a isso. Dentre os riscos que se desenham ao nosso país, caso a fragmentação em curso se concretize, tem-se: redução do acesso a mercados, atingindo indústrias, setor primário e setores produtivos em geral; menor investimento estrangeiro, o qual é imprescindível para o crescimento do país; perda de oportunidades de desenvolvimento, pois o acesso as novas tecnologias, inovação e conhecimentos avançados fica menor etc. Diante disso, para diminuir os efeitos negativos desta fragmentação geoeconômica sugere-se fortalecer o comércio multilateral, não cedendo às pressões protecionistas; diversificar as cadeias de suprimentos (buscar outros fornecedores e clientes); investir em inovação e tecnologia, assim como na formação de sua população nesta área; fortalecer a cooperação regional, transformando acordos como o Mercosul em real ambiente de comércio e avanços econômicos etc. O assunto é complexo e preocupante, a ponto de o FMI alertar “ou nos rendemos às forças da fragmentação geoeconômica, que tornarão nosso mundo mais pobre e mais perigoso, ou reformulamos a maneira como cooperamos, a fim de avançar no enfrentamento de nossos desafios coletivos”.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

ANÁLISE SEMANAL DOS MERCADOS DA SOJA, MILHO E TRIGO

05/09/2025 a 11/09/2025


Já está disponível o mais recente informativo da CEEMA-UNIJUÍ.

Para acessá-lo e acompanhar as mudanças mais recentes nesses mercados, clique aqui.    

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

UMA NOVA GEOECONOMIA (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

Considerando que a geoeconomia pode ser definida como “o estudo que une economia e geografia, analisando como fatores espaciais, temporais e políticos influenciam a economia e as relações de poder internacionais”, tem-se que a mesma se utiliza da economia como ferramenta de poder, com o objetivo de influenciar ou alcançar metas geopolíticas, através de instrumentos como tarifas comerciais, sanções e acordos comerciais. Ora, as ações protecionistas, do atual governo estadunidense, aceleram aquilo que já se verificava: o mundo vem se tornando cada vez mais protecionista, com todo o prejuízo que isso causa ao comércio internacional e aos países em geral. Com ela os custos de produção aumentam, os preços sobem e a inflação geral avança. Além disso, assiste-se a um movimento de globalização seletiva, onde as empresas saem de países referência (China, por exemplo), porém, não retornam aos seus países de origem (por serem muito caros), preferindo se estabelecer em países menores, ainda baratos (grande parte na Ásia). Em tal contexto, o mundo se reagrupa em torno de outras frentes (BRICS, acordo Mercosul-UE etc), com os EUA perdendo espaço e a China ganhando uma dimensão ainda maior, agora também no contexto geopolítico e geoeconômico. Aquilo que se conquistou desde 1990, apesar que de forma desigual, com a globalização impulsionando os diferentes setores produtivos mundiais, gerando uma interdependência global, perde tração. O protecionismo, ainda mais seletivo e nefasto, ocupa este espaço, atingindo todos os setores, incluindo as políticas ambientais (bens fundamentais para o avanço da energia renovável ficam muito mais caros, além da desorganização dos novos fluxos comerciais construídos em favor do meio ambiente). Na essência temos uma “guerra tecnológica” por onde os EUA tentam reduzir o avanço tecnológico da China, fazendo o mundo inteiro pagar a conta. Nesta nova geoeconomia, o forte crescimento do comércio mundial dos últimos 80 anos, apoiado pela redução do protecionismo, internacionalização da produção, e criação de cadeias de valor, fica comprometido. As economias de países emergentes (Brasil, por exemplo) e outros mais pobres serão muito atingidas. E dentro delas o setor agropecuário e as cadeias de suprimentos, especialmente as ligadas aos alimentos.    

 

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

ANÁLISE SEMANAL DOS MERCADOS DA SOJA, MILHO E TRIGO

 29/08/2025 a 04/09/2025


Já está disponível o mais recente informativo da CEEMA-UNIJUÍ.

Para acessá-lo e acompanhar as mudanças mais recentes nesses mercados, clique aqui.   

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

PIB FREIA E SELIC PODE BAIXAR (?) (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

Apesar de o Banco Central e o governo caminharem em sentidos opostos (o primeiro, com o aumento do juro, busca frear a economia visando conter a inflação, enquanto o segundo busca acelerar a economia através de políticas públicas, na medida em que a eleição se aproxima), o sentimento é que o crescimento da economia nacional começa a diminuir. A projeção agora, para 2025, é de um PIB ao redor de 2,2%, contra algo próximo de 3% no início do ano. Alguns indicadores apontam para isso: a inflação acumulada (IPCA) cede, mesmo que lentamente, com a expectativa de encerrar o ano em torno de 4,8% a 5%. Embora ainda longe do teto da meta, que é de 4,5% anuais, está melhor do que os 5,5% que rondamos no primeiro trimestre. Já a geração de emprego igualmente diminui, como era esperado na medida em que a economia freia. No Brasil, a mesma foi de 129.800 empregos formais em julho, um recuo de 32% em relação a julho de 2024. Este resultado de julho é o pior para o mês desde 2020. Nos primeiros sete meses do ano (janeiro a julho) o país criou 1,35 milhão de empregos com carteira, um recuo de 10,3% sobre o mesmo período do ano passado (cf. Caged). Lembrando que esse desaquecimento na economia também começa a refletir o efeito do tarifaço de Trump. O mesmo, embora tenha ficado menor do que o inicialmente anunciado, atinge setores importantes e pode ainda ter desdobramentos futuros. Mas, não há dúvida de que o juro alto (Selic) começa a trazer consequências. Afinal, o efeito na economia real, de uma elevação do juro, leva em torno de seis meses a partir de sua aplicação. Considerando que o aumento do mesmo iniciou em setembro/24, seus impactos iniciaram em fevereiro/25 e deverão avançar todo o corrente ano e parte do primeiro semestre de 2026. Diante do atual quadro, surge uma nova expectativa quanto ao início do processo de redução da Selic. Por enquanto, se nenhum choque inesperado ocorrer, os 15% anuais deverão ser mantidos neste restante de ano. Porém, a redução pode começar antes de maio do próximo ano, período em que ela vinha sendo esperada. E até quanto ela poderá baixar? Por enquanto, espera-se terminar 2026 com uma Selic ainda elevada, na altura de 13%, pois a crise fiscal, que é geradora de inflação, ainda está longe de ser resolvida e as eleições devem aumentar os gastos públicos.

Postagens Anteriores