Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
06/06/2013
E
o que se previa aconteceu! O governo brasileiro, e particularmente o povo
brasileiro, acaba de receber uma ducha de realidade econômica. Tentando manter
um crescimento econômico acima de 4% ao ano, a partir de 2010, diante de uma
crise econômica mundial grave e duradoura, nosso governo, ignorando os avisos
do mercado, e pensando muito "eleitoreiramente", tentou manter em prática um
processo que pode ser assim resumido: estimular continuamente o consumo
interno, via redução de impostos e juros, este último “no grito”, incitando a
população a consumir já que do exterior nada vem de significativo. Ora, diante
de um país que não possui infraestrutura suficiente para receber o impacto de
tal demanda, e com baixa taxa de investimentos, hoje na altura de 18% apenas do
PIB (no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em 31/03/2013, o investimento
nacional ficou negativo em 2,5%), era natural que o modelo, embora
interessante, se esgotaria rapidamente, estimulando a inflação. Não durou dois
anos e estamos recebendo no colo a herança desta política desenvolvimentista
irresponsável. Na prática, a pressão inflacionária aumenta, o índice oficial,
com maquiagem e tudo, bate no teto da meta (6,49% ao ano); o governo,
incrivelmente assustado com o fato, o que revela despreparo ou ignorância sobre
os atos que praticava, decide inverter a lógica, aumentando os juros (nos
últimos dois meses a Selic subiu 0,75%, batendo na taxa anual de 8%, devendo
subir mais até o final do ano); isso num momento em que a economia não decola,
tendo crescido apenas 0,6% no último trimestre, acumulando tão somente 1,2% ao
ano no final deste último mês de março. A situação é tão séria que o mercado,
já apoiado por alguns setores do próprio governo, avança agora a possibilidade
de um crescimento econômico de apenas 2% a 2,5% em 2013, após 2,7% em 2011 e
0,9% em 2012. Lembramos que, para o tamanho da economia brasileira, nosso
crescimento ideal deveria ser entre 6% e 7% anuais de forma sustentável. Ou
seja, aumentar os juros agora, por absoluta necessidade de segurar a
estabilidade econômica ameaçada pelas diatribes do próprio governo, é colocar
mais combustível no freio da economia. Uma contradição que poderia ter sido parcialmente
evitada se tivesse o governo, ao longo destes últimos anos, apostado no
investimento como alavanca do crescimento e não no consumo desenfreado. Agora o
mesmo parece ter caído na real, anunciando que não irá mais adotar medidas de
estímulo ao consumo, priorizando finalmente o controle da inflação e adotando
programas de apoio aos investimentos de infraestrutura, já que construir
estádios de futebol em nada resolve o problema do país. Mas o custo social de
tudo isso já é uma dura realidade! (continua na próxima semana)