Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
02/06//2013
A ALIANÇA DO PACÍFICO
Enquanto
o Mercosul marca passo e afunda em contradições ideológicas e ações populistas,
as quais multiplicam as ações protecionistas de mercado, derrubando a
possibilidade de a integração regional avançar, parte da América Latina decidiu
constituir a Aliança do Pacífico (a mesma nasceu há um ano e se consolida
agora). A Aliança congrega países importantes, que já possuem um histórico de
livre-comércio (pelo menos muito maior do que o Mercosul e seus países
membros), que são: Chile, Colômbia, Peru, México e, mais recentemente, a Costa
Rica. Como resultado prático, o Mercosul, que tinha como objetivo congregar
todos os países latino-americanos em um grande bloco político-econômico, perde
espaço. Junto com ele outras formas de organização, tipo a Unasul, igualmente
terão mais dificuldades para se consolidar. Nessa dimensão, o Brasil, que
sempre trabalhou para ser o líder regional, usando o Mercosul como trampolim,
também perde força. O governo brasileiro tenta relativizar a importância da
nova zona comercial, porém, é certo que sente o impacto da medida. O Pacífico é
hoje a principal região comercial do mundo, e não fomos capazes de nela operar
com destaque até o momento. Perdemos tempo, deixando o Mercosul ser contaminado
por questões ideológicas, praticando mais a política do que o comércio, e
praticamente eliminamos aquilo que deveria ser um contraponto positivo, no
sentido comercial e econômico, ao Nafta, a União Europeia e a outras
integrações regionais. Obviamente, o Brasil poderá ingressar na Aliança para o
Pacífico. Todavia, resta saber se a mesma o quer em seu bojo. Isso porque, a
julgar pelas declarações de seus membros, a lógica de funcionamento da Aliança
é o pragmatismo, ou seja, abrir mercado, se aproximar do grande mercado
norte-americano, onde o México já está, enquanto o Brasil e seus pares
continuam, retrogradamente, falando em imperialismo estadunidense (o mesmo
existe mas não pode ser empecilho para negócios, situação que a China entendeu
rapidamente) e rejeitando o liberalismo econômico. Além disso, por ser uma
economia ainda muito fechada, o Brasil terá que, tecnicamente, reduzir muito
mais suas tarifas alfandegárias e seu protecionismo se quiser se adequar ao
que, em princípio, pretende ser a Aliança do Pacífico.
A ALIANÇA DO PACÍFICO
(II)
Tanto
é verdade que o objetivo, do que poderá ser futuramente o grande bloco
econômico latino-americano, é “ser dinâmico, sem se prender a preconceitos ideológicos
– numa clara crítica ao desvio político do Mercosul -, transformando-se no
motor da região, ao eliminar 90% das tarifas externas entre seus integrantes a
fim de criar uma real zona de livre-comércio”. A questão é verificar se na
prática isso será possível. O Mercosul, em seu nascedouro igualmente se
constituiu em zona de livre-comércio, criou um processo de união aduaneira (a
Tarifa Externa Comum é um dos mecanismos) e ambicionava ser um Mercado Comum,
tendo na União Europeia seu espelho. Todavia, o atraso ideológico, alimentado
por demagogias e populismos de toda ordem, nos trouxeram hoje para algo que, na
prática, nem zona de livre-comércio somos. Pelo sim ou pelo não, o fato é que
se poderia trabalhar no sentido de, futuramente, unir as duas regiões, já que
as mesmas economicamente se equivalem no atual estágio de seus países membros.
Enquanto o Mercosul possui cerca de 279 milhões de habitantes e um PIB ao redor
de US$ 3,3 trilhões, a Aliança do Pacífico, se efetivamente se consolidar,
representa um pouco mais de 210 milhões de pessoas, com um PIB um pouco
superior a US$ 2 trilhões. O problema é que hoje, o Brasil tem menos liderança
mundial, e o Mercosul dá mostras de não desejar realmente avançar na linha a
abertura econômica e pouco se preocupa com seu futuro. Ou seja, no pós-crise
mundial atual, talvez fiquemos marginalizados até mesmo dentro da América
Latina se continuarmos com esta atitude reducionista em relação ao mundo.