Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
03/06/2015
O
Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2015 confirmou as
expectativas negativas que se tinha sobre o crescimento de nossa economia. O
resultado negativo de 0,2% mostra que a economia brasileira está sim em
processo de recessão na prática (para o ano todo a projeção é de menos 1,2%,
segundo o mercado). Quais são algumas das outras lições que ele nos indica? A
primeira é de que não são as medidas adotadas agora que provocaram tal queda,
embora restritivas à economia. Nosso PIB vem caindo desde 2011, após o forte
aumento fora da curva em 2010 (7,6%). Tanto é verdade que o PIB de 2014 ficou
em míseros 0,1% positivo. E isso graças à mudança na metodologia de cálculo e
apesar dos enormes e irresponsáveis gastos públicos realizados. Em segundo
lugar, as medidas de ajuste fiscal iniciadas agora poderão servir de remédio
para o PIB se recuperar já a partir de meados de 2016, embora em um processo
lento. Portanto, as mesmas, embora amargas, são necessárias. Em terceiro lugar,
os fatores que continuam preocupando, se olharmos num horizonte de médio e
longo prazo, são as baixas taxas de poupança e investimento. Isso compromete a
possibilidade de um crescimento mais robusto nos anos vindouros. Afinal, sem
poupança pouco se consegue de investimentos. E sem investimentos produtivos não
há como a economia crescer e gerar empregos sustentáveis. Sobretudo nesse
momento em que o acesso a poupança externa continua restrito. A taxa de
poupança brasileira está em apenas 16% do PIB, quando o necessário seria algo
ao redor de 25%. Já a taxa de investimento está em 19,7% do PIB, quando o
necessário, para voltarmos a crescer ao menos 4% ao ano, sem precisar muito de
empuxe externo, seria algo em torno de 25% igualmente. E não nos iludamos! Não
será um Plano Safra 2015/16 com mais recursos que permitirá resolver o
problema, como deixa entender o governo. No estado das coisas atuais, muito do
que será anunciado dificilmente chegará até a ponta consumidora efetivamente,
sem falar que o mesmo vem com juros mais elevados, especialmente agora que a
Selic vem sendo reajustada para cima. Ainda no quesito investimento, o quadro é
tão sério que, na comparação com os demais países emergentes, ficamos muito
atrás: a China destina 49% de seu PIB para investimentos; a Índia 33%; a Coreia
do Sul 29%; o Peru 28%, o Chile 24%; a Rússia 23% e assim por diante. Não é por
nada que a indústria brasileira, em tal contexto, amargou uma queda de 3% no
primeiro trimestre deste ano e vem acumulando recuos consecutivos nos últimos
trimestres. Enfim, continuamos comprometendo a capacidade de crescimento futuro
e não podemos esperar que o setor agropecuário “salve” a economia nacional
eternamente, mesmo porque ele depende muito de clima, um fator que não
dominamos. Assim, mais do que nunca, o PIB anunciado exige reforma fiscal e
estrutural, aguda e imediata, se quisermos recuperar a economia e a geração de
empregos no Brasil.