Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
20/11/2014
Uma
mudança importante de paradigma internacional, daquelas que ocorrem a cada 10
anos somente, estaria se produzindo neste momento no mundo. O barril de
petróleo estaria entrando em um cenário de preços bem mais baixos, após ter
disparado em 2008 ao atingir US$ 158,00. É isso, pelo menos, o que os analistas
do setor, particularmente na Bolsa de Londres, estão apostando neste final de
2014. Ou seja, o mundo estaria diante de um recuo estrutural nos preços do
petróleo, fato que ajudaria a segurar a inflação mundial e a retomada da
economia global após sete anos de crise. Em média, o barril de petróleo, que
havia subido 17,7% no mercado mundial em 2010 e mais 8,4% em 2011, registrou um
recuo de 5,9% em 2012, um pequeno aumento de 1,2% em 2013 e, nos primeiros 10
meses do corrente ano assiste a um recuo de 13,5% (somente na Bolsa de Nova
York o recuo é de 25% entre junho e outubro deste ano, chegando o barril a
romper o piso de US$ 80,00 no final de outubro). O mundo estaria, portanto,
entrando em uma nova ordem petrolífera? Muitos analistas acreditam que sim,
avançando mesmo que o barril possa atingir a US$ 70,00 no primeiro semestre de
2015. Por trás desta nova realidade estaria o fato de que, graças a um aumento
de 60% nos últimos três anos na produção de petróleo de xisto, os EUA se
dirigem rapidamente para a independência energética. Desde 2007, as importações
de petróleo por parte dos EUA já foram divididas por três, sendo que somente em
2013 a
redução nas importações de petróleo estadunidense equivale à produção somada da
Arábia Saudita e da Nigéria no mesmo ano. Somam-se a isso os efeitos da crise
mundial, com o crescimento econômico praticamente paralisado. A China, por
exemplo, uma das grandes locomotivas da economia mundial, deverá crescer 7,2%
neste ano, contra a média de 10% a 12% anuais antes da grande crise mundial. A
Europa continua no marasmo econômico enquanto o Japão acaba de anunciar o
retorno a recessão. Somente os EUA parecem iniciar, de fato, um processo de
recuperação, mesmo que lento. Para completar o quadro, a OPEP (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo), inquieta com o avanço do petróleo de xisto,
ao invés de adotar a tradicional estratégia de aumentar os preços do “ouro
negro”, passou a reduzi-los para tornar deficitária a exploração do petróleo de
xisto estadunidense e, com isso, inviabilizar economicamente tal produção.
Nesse jogo todo, poderá sobrar igualmente para o Pré-Sal do Brasil. O seu custo
de exploração sendo muito caro, ele somente se viabiliza com o preço do petróleo
elevado. Caso contrário, será mais barato importá-lo do que explorar o que
temos. Além disso, o Brasil poderá não tirar vantagem tão cedo do recuo nos
preços do petróleo porque o governo exauriu a Petrobrás nos últimos anos e,
agora, precisa repor o caixa da empresa via aumentos da gasolina e do diesel,
como já se verificou alguns dias depois do segundo turno das eleições
presidenciais.