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quinta-feira, 27 de março de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
29/03/2014

A CONTRADIÇÃO DE JURO ALTO E ECONOMIA ESTAGNADA
O aumento dos juros é nocivo para qualquer economia. Principalmente em casos onde se busca a recuperação econômica. Aliás, aumentar juros quando se tem uma quase estagnação na economia, caso do Brasil, é uma completa contradição. Todavia, é isso que estamos fazendo e deveremos, infelizmente, continuar a fazê-lo durante este e o próximo ano. Hoje, o juro básico brasileiro chega a 10,75% ao ano. Em termos reais é o mais alto do mundo e, em termos nominais, está entre os mais elevados. Para se ter uma ideia, a Índia pratica um juro de 8%, a Coreia do Sul de 2,5%, o Chile de 4,25%, a Rússia de 5,5%, os EUA e a Zona do Euro de 0,25% ao ano. Esta armadilha do juro elevado, que caminha para fechar 2014 muito próximo de 12%, e para além disso em 2015, se explica no Brasil. No curto prazo, o monetarismo ensina que aumentar os juros permite segurar o aumento dos preços, isto é, a inflação. Quando esta começa a sair dos trilhos a arma do juro é utilizada mundo afora. Geralmente a inflação aumenta porque a economia de um país aquece, a demanda cresce, a oferta não acompanha o suficiente e os preços internos sobem. Como a inflação é o pior imposto que uma pessoa tem a pagar, especialmente os mais pobres, nenhum país no mundo deseja alimentá-la. No Brasil, assistimos a um fato contraditório: a demanda aumentou, a produção encontra dificuldades para acompanhar, por problemas especialmente de infraestrutura, os preços sobem, porém, a economia não decola. Nestes últimos três anos a mesma vem se mantendo apenas entre 1% e 2% de crescimento anual. O que estaria ocorrendo?

A CONTRADIÇÃO DE JURO ALTO E ECONOMIA ESTAGNADA (II)
Na prática, nossa inflação estaria muito mais ligada ao custo do Estado do que à falta de capacidade produtiva nacional. Por não se ter preparado com infraestrutura adequada, para uma demanda que foi estimulada fortemente, os custos de produção no Brasil têm subido. Isso retira competitividade do setor produtivo que, para compensá-la, aumenta seus preços. Ou seja, a pouca eficiência produtiva, devido aos custos estruturais de toda ordem, é compensada pelo aumento dos preços do produto final. Assim, a melhoria da renda da população está sendo, em grande parte, eliminada pela inflação. Recente projeção do mercado nacional indica um IPCA, para o final de 2014, em 6,52%, ou seja, rompendo o teto da meta. O governo, por si só, alimenta este processo ao não realizar economia. Pelo contrário, continua aumentando seu déficit público (neste primeiro bimestre do ano, por exemplo, a poupança para o abatimento da dívida pública vai ficar bem abaixo do resultado de igual período do ano passado e, na tendência, indicando que não iremos cumprir o superávit primário de 1,9% do PIB recentemente anunciado pelo governo). Aliás, no ano passado isso somente foi possível com a maquiagem de dados econômicos. Ora, o resultado desta realidade foi o rebaixamento da nota de crédito brasileira neste mês de março pela agência de risco Standard & Poor’s.

A CONTRADIÇÃO DE JURO ALTO E ECONOMIA ESTAGNADA (III)
Paralelamente, isso significa uma potencial possibilidade de menos entrada de dólares no Brasil. Para completar o quadro, o governo dos EUA voltou a reduzir o apoio à sua economia, baixando para US$ 55 bilhões mensais a injeção de recursos na mesma. Em três meses tal apoio já caiu em US$ 30 bilhões. Seca rapidamente mais uma fonte de dólares que nosso país conta para, dentro das suas possibilidades, acelerar os investimentos necessários para reduzir custos produtivos e reduzir estruturalmente a inflação interna. Além disso, uma menor entrada de dólares no país desvaloriza ainda mais o Real, fato que aumenta a inflação porque dependemos muito das importações, as quais ficam bem mais caras na medida em que nossa moeda perde valor. Ora, para atrair estes capitais externos, mesmo que especulativos, que acabam igualmente compondo nossas reservas cambiais, as quais permitem ao Banco Central intervir no mercado cambial, nos resta mais uma vez aumentar a taxa de juros. Com a remuneração do dinheiro valendo mais, pelo menos o capital externo especulativo olha melhor para o Brasil, mesmo nosso risco-país tendo aumentado. Porém, aumentar juros significa frear ainda mais a economia, e o círculo se fecha. Há outros elementos em jogo que mereceriam ser analisados, porém, por falta de espaço nesta coluna não o faremos. O que pode ser dito é o que já se sabe: para sairmos deste círculo vicioso, que nos empurra para um cenário cada vez mais difícil em termos de juros, inflação e crescimento econômico, é preciso que se realizem as reformas estruturais que aumentem a competitividade e eficiência de nosso sistema produtivo, começando por termos um governo responsável que corte fundo nas despesas de manutenção do Estado. Para que este igualmente tenha recursos para investimentos produtivos e possa assumir o papel de organizador da economia nacional neste contexto globalizado.



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