Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
08/03/2014
COMÉRCIO EXTERIOR E EFICIÊNCIA
NACIONAL
Passados os dois primeiros meses de 2014 constata-se que a saga de maus
resultados no comércio exterior brasileiro continua. O resultado de fevereiro
foi o pior em 20 anos, com um saldo negativo de US$ 2,12 bilhões, oriundos de
exportações totais de US$ 15,93 bilhões e importações de US$ 18,05 bilhões. No
acumulado do ano (dois meses) o saldo comercial é de US$ 6,18 bilhões
negativos, com exportações de US$ 31,96 e importações de US$ 38,14 bilhões. No
mesmo período do ano passado o saldo negativo foi de US$ 5,3 bilhões. Portanto,
o saldo vem piorando mesmo com a forte desvalorização do Real no período. A
média cambial brasileira em fevereiro de 2013 foi de R$ 1,97, enquanto em
fevereiro de 2014 a
mesma ficou em R$ 2,38. Isso representa uma desvalorização do Real de 20,8%
entre os dois meses considerados. Ou seja, não é mais o câmbio que nos impede
de melhorarmos a performance externa, embora a questão cambial seja importante
na competitividade externa. Na prática, mesmo que dentre alguns motivos,
possamos incluir o fechamento de alguns mercados, como o argentino, o principal
problema é a eterna falta de competitividade de nossos produtos. Esta oriunda
dos altos custos de produção internos existentes, a começar pelo custo-Brasil. Ou
seja, somos pouco eficientes! Mesmo porque, segundo a Secretaria de Comércio
Exterior (SECEX) o saldo brasileiro com o Mercosul praticamente dobrou em
janeiro de 2014, ao atingir US$ 468,4 milhões, contra US$ 229,9 milhões em
janeiro de 2013. Aliás, no ano passado nosso saldo com o Mercosul atingiu a US$
5,41 bilhões, contra apenas US$ 3,55 bilhões em 2012.
COMÉRCIO EXTERIOR E EFICIÊNCIA
NACIONAL (II)
Assim, mesmo que nefasto, o relativo fechamento da economia argentina
nestes últimos tempos não pode ser usado como explicação para o nosso desastre
comercial. Não podemos esquecer que 2013 oficialmente acusou um saldo comercial
positivo de apenas US$ 2,55 bilhões graças a maquiagem (ou manipulação?) da
balança comercial, ao utilizarmos o artifício de computar como exportação as
plataformas marítimas de petróleo que produzimos e que ficam no país. Na realidade,
houve um déficit comercial superior a US$ 5,0 bilhões. Mas, se o problema é a
competitividade do nosso sistema produtivo, o que realmente é preciso fazer? Pelo
menos duas ações. Em primeiro lugar, o Estado brasileiro tem que poupar,
gerando recursos que possam ser investidos em infraestrutura para diminuir os
custos e aumentar a eficiência da produção nacional. Ora, em 2013 a poupança feita pelo
Estado brasileiro (União, Estados, municípios e estatais) foi a menor dos
últimos 15 anos. Além disso, os gastos do governo federal foram recordes,
atingindo R$ 914 bilhões, superando em 7,3% a inflação sobre o montante do ano
de 2012. Trata-se aqui de gastos para manter uma máquina pública em geral muito
pouco eficiente. Isso porque os gastos em investimentos de infraestrutura
cresceram tão somente 0,5%, ficando em pífios R $ 63,2 bilhões segundo o Tesouro
Nacional.
COMÉRCIO EXTERIOR E EFICIÊNCIA
NACIONAL (III)
Tal disparate explica igualmente a persistência da inflação, apesar do
aumento dos juros nestes últimos quase 12 meses. Afinal, a demanda brasileira
por bens e serviços, estimulada pelo próprio governo, se encontra acima da
capacidade de produção das empresas do país, as quais não conseguem também
aumentar suas exportações na proporção do que estamos importando para dar conta
da demanda. Em segundo lugar, é preciso aumentar a produtividade do trabalhador
brasileiro. E isso se dá com qualificação, a qual chega com fortes
investimentos no setor educacional e de formação profissional, além de contínua
fiscalização quanto ao cumprimento das metas estabelecidas. Portanto, reformas
profundas na estrutura do Estado, para torná-lo mais ágil e eficiente,
acompanhadas de reformas na educação e demais setores da vida socioeconômica
brasileira se fazem fundamentais. A produtividade do trabalhador brasileiro,
por exemplo, nas últimas duas décadas, aumentou em 1,8%, contra 2,2% no México,
3,7% no Peru, 3,8% no Chile, 4% na Turquia e 5% na Coreia do Sul. Ou revertemos
esse quadro ou continuaremos marcando passo no cenário internacional sem
sairmos daquilo que se acostumou chamar de país emergente (eufemismo atual ao
histórico subdesenvolvimento).