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quinta-feira, 6 de março de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
08/03/2014

COMÉRCIO EXTERIOR E EFICIÊNCIA NACIONAL
Passados os dois primeiros meses de 2014 constata-se que a saga de maus resultados no comércio exterior brasileiro continua. O resultado de fevereiro foi o pior em 20 anos, com um saldo negativo de US$ 2,12 bilhões, oriundos de exportações totais de US$ 15,93 bilhões e importações de US$ 18,05 bilhões. No acumulado do ano (dois meses) o saldo comercial é de US$ 6,18 bilhões negativos, com exportações de US$ 31,96 e importações de US$ 38,14 bilhões. No mesmo período do ano passado o saldo negativo foi de US$ 5,3 bilhões. Portanto, o saldo vem piorando mesmo com a forte desvalorização do Real no período. A média cambial brasileira em fevereiro de 2013 foi de R$ 1,97, enquanto em fevereiro de 2014 a mesma ficou em R$ 2,38. Isso representa uma desvalorização do Real de 20,8% entre os dois meses considerados. Ou seja, não é mais o câmbio que nos impede de melhorarmos a performance externa, embora a questão cambial seja importante na competitividade externa. Na prática, mesmo que dentre alguns motivos, possamos incluir o fechamento de alguns mercados, como o argentino, o principal problema é a eterna falta de competitividade de nossos produtos. Esta oriunda dos altos custos de produção internos existentes, a começar pelo custo-Brasil. Ou seja, somos pouco eficientes! Mesmo porque, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) o saldo brasileiro com o Mercosul praticamente dobrou em janeiro de 2014, ao atingir US$ 468,4 milhões, contra US$ 229,9 milhões em janeiro de 2013. Aliás, no ano passado nosso saldo com o Mercosul atingiu a US$ 5,41 bilhões, contra apenas US$ 3,55 bilhões em 2012.

COMÉRCIO EXTERIOR E EFICIÊNCIA NACIONAL (II)
Assim, mesmo que nefasto, o relativo fechamento da economia argentina nestes últimos tempos não pode ser usado como explicação para o nosso desastre comercial. Não podemos esquecer que 2013 oficialmente acusou um saldo comercial positivo de apenas US$ 2,55 bilhões graças a maquiagem (ou manipulação?) da balança comercial, ao utilizarmos o artifício de computar como exportação as plataformas marítimas de petróleo que produzimos e que ficam no país. Na realidade, houve um déficit comercial superior a US$ 5,0 bilhões. Mas, se o problema é a competitividade do nosso sistema produtivo, o que realmente é preciso fazer? Pelo menos duas ações. Em primeiro lugar, o Estado brasileiro tem que poupar, gerando recursos que possam ser investidos em infraestrutura para diminuir os custos e aumentar a eficiência da produção nacional. Ora, em 2013 a poupança feita pelo Estado brasileiro (União, Estados, municípios e estatais) foi a menor dos últimos 15 anos. Além disso, os gastos do governo federal foram recordes, atingindo R$ 914 bilhões, superando em 7,3% a inflação sobre o montante do ano de 2012. Trata-se aqui de gastos para manter uma máquina pública em geral muito pouco eficiente. Isso porque os gastos em investimentos de infraestrutura cresceram tão somente 0,5%, ficando em pífios R$ 63,2 bilhões segundo o Tesouro Nacional.
COMÉRCIO EXTERIOR E EFICIÊNCIA NACIONAL (III)

Tal disparate explica igualmente a persistência da inflação, apesar do aumento dos juros nestes últimos quase 12 meses. Afinal, a demanda brasileira por bens e serviços, estimulada pelo próprio governo, se encontra acima da capacidade de produção das empresas do país, as quais não conseguem também aumentar suas exportações na proporção do que estamos importando para dar conta da demanda. Em segundo lugar, é preciso aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro. E isso se dá com qualificação, a qual chega com fortes investimentos no setor educacional e de formação profissional, além de contínua fiscalização quanto ao cumprimento das metas estabelecidas. Portanto, reformas profundas na estrutura do Estado, para torná-lo mais ágil e eficiente, acompanhadas de reformas na educação e demais setores da vida socioeconômica brasileira se fazem fundamentais. A produtividade do trabalhador brasileiro, por exemplo, nas últimas duas décadas, aumentou em 1,8%, contra 2,2% no México, 3,7% no Peru, 3,8% no Chile, 4% na Turquia e 5% na Coreia do Sul. Ou revertemos esse quadro ou continuaremos marcando passo no cenário internacional sem sairmos daquilo que se acostumou chamar de país emergente (eufemismo atual ao histórico subdesenvolvimento).  

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