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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
01/03/2014

SOCHI (RÚSSIA) E A COPA DO MUNDO NO BRASIL
É notório que o governo brasileiro, no afã populista da política de então, calculou mal os efeitos de sediar uma Copa do Mundo, quando em 2007 insistiu para ser contemplado com a escolha da FIFA. O que muitos alertavam na época vai rapidamente se confirmando quanto mais nos aproximamos da data de início do torneio mundial de futebol. O governo, por questões políticas, insistiu para termos 12 sedes de jogos, contra oito solicitadas pela FIFA. Os gastos com a construção somente dos estádios extrapolaram em muito o inicialmente calculado, beirando hoje os R$ 9 bilhões. As obras de infraestrutura, vendidas na ocasião como perfeitamente factíveis e operacionais para a abertura dos jogos, estão 80% atrasadas e muitas nem saíram do papel ainda. A promessa presidencial de que não haveria dinheiro público investido na construção e reconstrução de estádios se revelou uma mentira. E a vinda de estrangeiros para assistir ao Mundial, considerando as reservas hoteleiras, está 50% menor do que o esperado a quatro meses do início dos jogos. Enquanto isso, a população brasileira acordou e percebeu que os recursos que faltam para a saúde, educação e outras necessidades básicas, sobram para construir estádios de futebol, muitos dos quais “elefantes brancos” sem nenhuma serventia assim que terminar a Copa, em meados de julho. Isso é o que já se constata! Falta verificar o que virá após o evento! E não é nenhuma surpresa, pois todos os torneios recentes desta envergadura, inclusive as Olimpíadas, deixaram este nefasto legado quando realizados, particularmente junto a países emergentes ou subdesenvolvidos. Sochi (Rússia) que acaba de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno, vive tal realidade.

SOCHI (RÚSSIA) E A COPA DO MUNDO NO BRASIL (II)
Segundo reportagem do jornal francês Le Monde (10/02/2014), para a grande maioria dos russos tais jogos serviram apenas para tentar beneficiar o governo Putin. Para 38% da população local os jogos tiveram um custo altíssimo (R$ 11,6 bilhões pelo câmbio atual, ou seja, quatro vezes mais do que os britânicos gastaram para realizar os Jogos Olímpicos de Verão dois anos antes). Além disso, somas enormes foram roubadas no transcorrer do processo. A edificação de uma nova capital do Cáucaso (Sochi) acabou se revelando uma farsa. Bairros e cidades inteiras foram deslocados, paisagens e meio ambiente destroçados, com um alto custo social. Paralelamente, a economia russa está longe de merecer medalhas. O rublo sofre forte desvalorização (5% em poucas semanas), a inflação escapa ao controle oficial (6,5% em 2013), o preço do petróleo, fonte nacional de riqueza, já há algum tempo estagnou no mercado mundial, e o crescimento da economia é baixo, projetado em apenas 1,3% para 2013 (em 2007, quando Sochi foi escolhida como sede dos Jogos de Inverno, a Rússia crescia 8% ao ano graças aos elevados preços do petróleo). Não há investimentos em infraestrutura e tampouco na indústria local, a ponto de, nos últimos 20 anos, o setor industrial russo se tornar obsoleto. Assim como a modernização do país não ocorreu, apesar das promessas em torno dos Jogos, também há forte saída de dólares (US$ 62,7 bilhões em 2013) e investidores do país, preocupados com a realidade econômica local. Dito de outra maneira, a economia russa está em ponto-morto. A produção industrial cresceu apenas 0,3% em 2013.  

SOCHI (RÚSSIA) E A COPA DO MUNDO NO BRASIL (III)
Enfim, os russos se deram conta que Sochi nada lhes trouxe de concreto passados os jogos, enquanto as perspectivas econômicas do país continuam sombrias. Não há uma retomada dos investimentos externos, a credibilidade do país é baixa, a indústria não tem forças para se recuperar e a produtividade do trabalho é reduzida. Neste quesito, enquanto os salários do setor público russo (que emprega 30% da população ativa do país) aumentaram, a produtividade do operário russo equivale a tão somente 45% de seus concorrentes europeus. Enquanto isso, a população em idade de trabalhar diminui. Diante de tal contexto, não é de estranhar que boa parte da população da Ucrânia se revoltou nestes últimos tempos quando o seu governo (já deposto) acenou com a possibilidade de seguir o modelo russo em detrimento da aproximação, e futuro ingresso, do país na União Europeia. Guardadas as especificidades de cada país, em termos econômicos e sociais o que ocorreu em Sochi, e o que vem ocorrendo com a Copa do Mundo no Brasil (e as futuras olimpíadas do Rio de Janeiro), não é mera coincidência.


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