Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
27/02/2014
A ação econômica do governo brasileiro
tem sido temerária e, por diversas vezes, inconseqüente, desde 2010/11. Quando
partiu, acertadamente, para estimular o consumo interno visando enfrentar a
crise internacional, o governo errou em não realizar igualmente ajustes
econômicos nos gastos públicos, priorizando os investimentos e reduzindo
substancialmente a manutenção da máquina. Resultado, as obras de infraestrutura
pouco andaram, as reformas estruturais não ocorreram, repetindo os governos
passados, e o inchaço da máquina pública continuou, com o governo gastando mais
do que arrecadando, além de gastar muito mal na maioria dos casos. Em pouco
tempo, a equipe econômica, diante da desconfiança mundial com o conduzir do
processo, se lançou, como todo amador que se preza, a maquiar os dados
econômicos do país e a fazer discursos ufanistas (seguindo a linha argentina,
venezuelana e de outros tantos). Daí ao mercado mundial desacreditar no país e
no atual governo foi um passo (final de 2012). Para piorar, a presidente da
República manteve a equipe econômica que assim vinha agindo, concordando com
suas ações. Desta forma, o país perdeu a credibilidade mundo afora e os
investimentos internacionais (e mesmo nacionais) recuaram. A economia bloqueou
e o governo se viu obrigado a aumentar ainda mais os gastos públicos, piorando
o déficit e perseverando no erro central de gastar pouco e de forma
desorganizada em investimentos e muito na manutenção da máquina pública, sem
falar na continuidade da corrupção desenfreada. Assim, o país chega ao final de
2013 com a dívida pública bruta atingindo a 59% do PIB e em crescimento. As
agências de risco informam que irão rever para baixo a nota brasileira. O
governo, assustado com os erros cometidos e ignorados, ainda no ano passado
promete fazer economia (superávit primário, um dos três pilares da estabilidade
econômica desde 1999), porém, fracassa ao não atingir a meta estabelecida. A
realidade econômica desmonta o discurso otimista oficial e coloca os
brasileiros em dificuldades crescentes, enquanto o mundo classifica o Brasil
como o país mais vulnerável dentre os emergentes nesse início de 2014.
Resultado: o governo anuncia agora um superávit primário de 1,9% do PIB para
este novo ano (muito baixo – é a menor economia que se fará desde 1998 -,
porém, factível diante da realidade nacional). Isso levará a cortes
orçamentários ao redor de R$ 44 bilhões (ainda muito pouco, mas 2014 é um ano
eleitoral e o amadorismo busca a reeleição). Ao mesmo tempo, projeta um crescimento
econômico de 2,5% para este ano (contra algo entre 2% e 2,5% em 2013), enquanto
o mercado já o calcula em apenas 1,8%. O fato é que se busca a retomada da
credibilidade econômica jogada fora. Enquanto isso, o mercado, mesmo diante de
projeções mais realistas e factíveis, ainda desconfia se tais anúncios não
ficarão apenas nas boas intenções, como tem ocorrido nos últimos anos. A
resposta virá nos próximos meses!