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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
15/02/2014

O CRÉDITO DIRECIONADO NO BRASIL
Não é de hoje que se sabe que, apesar de muitas ideias serem boas, a execução econômica das mesmas, no Brasil, tem sido desastrosa. Um pouco por incompetência, outro pouco por demagogia populista que alimentou para além do viável a lógica do intervencionismo estatal, e outro tanto por visão de curto prazo (eleitoral), o fato é que neste início de 2014 o Brasil passou a compor um novo grupo de países. Apelidado de “os frágeis” esse grupo, além do Brasil, conta com a participação da África do Sul, Indonésia, Índia e Turquia. A fragilidade do mesmo, aos olhos dos investidores internacionais, está no fato de que suas economias acabaram ficando fortemente dependentes dos recursos externos oriundos particularmente do pacote de apoio instituído pelos EUA e que, agora, vem sendo retirado aos poucos (de uma injeção mensal de US$ 85 bilhões o mesmo já está em US$ 65 bilhões e deverá diminuir ainda mais nos próximos meses caso a economia norte-americana continue a indicar recuperação). A situação é tão grave, embora por aqui, ao escutar os discursos oficiais, parece estarmos em outro mundo, que o Relatório do FED (Banco Central dos EUA), divulgado nesta semana, destaca o Brasil como um dos emergentes mais vulneráveis no atual cenário internacional. E olha que os avisos aqui no Brasil proliferaram a esse respeito desde o estouro da grande crise mundial em 2007/08. Todavia, o governo não os escutou, caminhando no sentido inverso no que tange, sobretudo, aos ajustes das contas públicas, as reformas estruturais, e ao controle das receitas em relação aos gastos estatais onde a tônica continuou sendo manter a máquina pública inchada ao invés de avançar em investimentos de infraestrutura consequentes. Pois a conta está chegando para a população brasileira, em pleno ano eleitoral.

O CRÉDITO DIRECIONADO NO BRASIL (II)
Nesse contexto, um dos maiores problemas se chama “crédito direcionado”. Ou seja, o governo federal decidiu turbinar o BNDES para combater a crise, usando-o para distribuir crédito direcionado a alguns setores da economia, em muitos casos subsidiado, reduzindo a atuação do Banco Central em defesa da moeda e da economia. Sem moderação, os subsídios via crédito direcionado explodiram no país. Em 2007 o Brasil tinha R$ 270 bilhões nessa modalidade, o que representava 35% do estoque de financiamento do país. Somente nos últimos quatro anos o governo colocou R$ 300 bilhões no BNDES, sendo que em novembro passado pôs mais R$ 24 bilhões. “Esse dinheiro pesa nas finanças públicas, pois o Tesouro precisa emitir títulos públicos para fazer os aportes no Banco de Desenvolvimento, levando a dívida bruta da União – um dos indicadores mais observados pelas agências internacionais de risco – a subir fortemente. Nesse início de 2014 o endividamento bruto do Brasil estava em 59% do PIB, um dos mais altos entre os países emergentes.” (cf. Jornal do Comércio, 08/01/2014, p.6).


O CRÉDITO DIRECIONADO NO BRASIL (III)

E o mais grave nisto tudo é que grande parte deste crédito direcionado não está indo para investimentos e sim para o consumo direto, o que alimenta a inflação e não gera infraestrutura para consolidar um futuro melhor ao país. Ora, tal realidade coloca em risco o controle da inflação pela principal arma que o Banco Central possui, que é o aumento da Selic. Isso porque, cerca de R$ 1,16 trilhão em circulação no país, ou 44% dos financiamentos, não eram atingidos pelas ações do BACEN neste início de ano por estarem na condição de crédito subsidiado direcionado. Obviamente com total apoio do empresariado nacional favorecido por tais recursos, que tem sido uma relativa minoria. Como o crédito direcionado tem na TJLP o seu juro de referência, e este está em apenas 5% ao ano, para corrigir o rumo uma das medidas seria aumentar esta taxa de juros. Afinal, quanto maior for a diferença entre a TJLP e a Selic mais o governo estará enfraquecendo o Banco Central. O problema é que isso irá encarecer os investimentos. Um dos caminhos seria exercer um melhor controle sobre o uso de tais recursos, o que está longe de acontecer. O mundo acompanha isso e não é por nada que nos coloca como uma das economias emergentes mais frágeis na atualidade. Daí a perdermos as conquistas econômicas obtidas com a estabilidade o passo é curto. E antes de 2015 dificilmente algo será feito para corrigir o rumo!    

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