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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

TENDÊNCIAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
14/12/2013

DESDOBRAMENTOS DA CRISE MUNDIAL
Neste final de 2013 vivemos novos desdobramentos da crise mundial. Dentre eles encontramos a inflação nos países emergentes e o risco de deflação nos países desenvolvidos, particularmente na Europa. Tanto inflação como deflação são nocivas para o bom andamento da economia, quando descontroladas. Mas antes de abordarmos o tema vale recuperar rapidamente o histórico deste processo. Com a eclosão da grande crise econômico-financeira de 2007/08 o mundo assistiu a duas importantes reações: os países ricos, onde a crise estourou e se estabeleceu com maior profundidade desde o princípio, viram suas economias frearem por falta de liquidez e forte recuo da demanda. Para tentar recuperar um mínimo de crescimento econômico os Estados passaram a injetar recursos em suas economias. Tal política avançou bem até 2010. A partir daí a crise fiscal junto aos desenvolvidos se fez presente, especialmente nos países mais endividados. A Europa sentiu em cheio o problema e viu sua economia bloquear definitivamente. Paralelamente, os países emergentes, que ainda possuíam o seu mercado interno como válvula de escape para continuar mantendo o crescimento, utilizaram os mecanismos monetários e fiscais para estimular o consumo interno, na falta de um mercado externo temporariamente esgotado. Nestes países, a demanda reprimida dos cidadãos respondeu rapidamente aos estímulos públicos e passou às compras. Com isso, suas economias não só enfrentaram melhor a crise, como estimularam parcialmente a produção junto aos países ricos. A China e o Brasil particularmente passaram a ser vistos como os elementos motores do processo.

DESDOBRAMENTOS DA CRISE MUNDIAL (II)
Infelizmente, o processo perde fôlego a partir de 2011, se cristalizando de forma mais aguda neste final de 2013, apesar dos esforços governamentais em manter o consumo aquecido. Na verdade, o efeito ocorre nos dois lados novamente. Ou seja, junto aos países emergentes, a falta de infraestrutura e capacidade produtiva, para dar conta da enorme demanda que se criou, gerou inflação acima do aceitável para os atuais padrões econômicos destes países. Assim, tais países se viram obrigados a adotar medidas que freiam o consumo e, particularmente, o crescimento econômico e a geração de empregos, caso da elevação dos juros e da retirada parcial de alguns estímulos ao consumo no Brasil. Desta forma, o crescimento chinês cai de 10% a 11% ao ano para algo em torno de 7% a 7,5% ao ano no momento. No Brasil, após chegar a 7,5% em 2010, nosso crescimento bateu em 1% em 2012, não devendo ser muito maior do que 2% a 2,5% em 2013, sem perspectivas de melhoras para o futuro próximo. Já nos países desenvolvidos, e particularmente na União Europeia, o problema está na deflação. No mês de outubro passado a inflação anualizada na Espanha era de 0%, na França de 0,7%, em Portugal 0% e na Grécia menos 1,9%. Todos, países fortemente atingidos pela crise! No total da chamada zona euro (17 países da União Europeia) a inflação anual recuou para 0,7%, contra a meta de 2% estabelecida pelo Banco Central Europeu (aqui no Brasil, em outubro, a inflação anualizada era de 5,8% contra a meta de 4,5%).

DESDOBRAMENTOS DA CRISE MUNDIAL (III)
Ora, a deflação é ruim porque gera uma espiral difícil de escapar: os domicílios param de comprar; isso reduz as encomendas junto às empresas; estas diminuem as vendas; isso leva a uma redução dos salários e dos investimentos, levando a uma redução no crescimento da economia. O Japão, após 20 anos, apenas agora ensaia uma saída de tal armadilha. Para alguns economistas europeus o atual processo é salutar e de curta duração, servindo para depurar a economia local, com redução do custo de vida através da redução de preços e salários. Para outros economistas tal raciocínio não se sustenta e a espiral deflacionária já se instalou e ninguém poderá pará-la tão cedo, com estragos irremediáveis. Especialmente porque uma forte baixa dos preços infla mecanicamente o custo de financiamento dos Estados, altamente endividados, fato que leva a dívida pública a continuar crescendo. Como se pode perceber, o segredo da gestão econômica é encontrar o equilíbrio no contexto da realidade de cada país, sem ignorar as relações que o mesmo possui com o mundo globalizado e sua movimentação. Para se obter sucesso em tal empreitada é preciso muito pragmatismo e visão de longo prazo, algo que poucos dirigentes públicos possuem, pois é mais fácil se deixar levar pelo embalo das euforias passageiras mesmo que, logo adiante, coloquem a Nação em dificuldades estruturais por longo tempo.


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