Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
12/12/2013
Aquilo que parece ser uma boa notícia
econômica, neste início de dezembro, pode não o sê-lo. Os EUA anunciaram que,
no mês de novembro, o seu setor privado gerou 215.000 empregos, após 184.000 em
outubro. Nos dois casos acima do esperado pelo mercado. Tal comportamento seria
um indicativo de que finalmente a economia norte-americana está se recuperando.
O mesmo tem na origem as compras maciças (US$ 85 bilhões mensais) de títulos
feitas pelo FED e as baixas taxas anuais de juros (0,25% ao ano no caso da taxa
básica). O grande problema é que o mundo, particularmente o emergente, está na
dependência, nos últimos anos, da manutenção de tais compras de títulos para
enfrentar a crise. Isso porque parte deste dinheiro irriga as demais economias
do mundo, inclusive a brasileira. Ora, a retomada do crescimento estadunidense
tende a levar à retirada deste mecanismo de apoio ao consumo interno nos EUA,
gerando uma forte redução da liquidez internacional. Junto com ela viria o
aumento dos juros locais. O mercado cogita tal retirada, senão ainda para
dezembro, já para os primeiros meses de 2014. Assim, o fator EUA é o elemento
central que indicará para onde irá a economia mundial a partir do próximo ano.
No meio de tudo isso, a presidência do FED mudará de mãos em janeiro/14. A
futura presidência, por enquanto, indica que seu grande desafio é retirar o
apoio ao consumo sem que isso cause muitos estragos internos e externos. Mesmo
porque a manutenção da injeção de US$ 85 bilhões mensais tem o risco de gerar
novas bolhas especulativas que poderão realimentar a crise. Por enquanto, o
governo estadunidense estabeleceu que a retirada do apoio se dará quando o
desemprego cair abaixo de 6,5% ao ano. Isso explica a agitação do mercado
mundial com as estatísticas de outubro e novembro a respeito do emprego na
primeira potência mundial. Na verdade, os EUA (e o mundo por extensão) estão
diante de um mecanismo implacável: mantendo sua taxa de juros em níveis muito
baixos e continuando a comprar os títulos no mercado, o FED fornece aos
investidores um dinheiro barato. Naturalmente estes o aplicam em ativos os mais
rentáveis possíveis, em qualquer parte do mundo (Bolsas de Valores, setor
imobiliário etc.). Isso explica o nível recorde da Bolsa de Nova York e de
algumas Bolsas europeias. Isso explica igualmente um novo avanço especulativo
nos preços dos imóveis nos EUA, longe da “lei” da oferta e demanda. Em Los
Angeles, por exemplo, nos últimos 12 meses, o valor dos imóveis subiu 21,7%.
Como evitar a formação de novas bolhas? Muito difícil sem cortar o crédito. O
grande problema é que o FED não está encontrando o timing (o momento certo) de parar de comprar os títulos e iniciar a
elevação dos juros. Muito cedo pode levar a frear a recuperação da economia dos
EUA, que apenas inicia. Muito tarde pode alimentar um processo de bolhas que já
está ressurgindo. Enquanto espera, o mundo fica na expectativa, pois qualquer
que seja a decisão a mesma respingará em todos.